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Gojira e Mastodon fazem noite de greatest hits em São Paulo

Público extasiado com shows completos de ambas as bandas no Espaço Unimed não tem dúvida de quem são os headliners de festivais no futuro

O bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, concentrou um número recorde de pessoas satisfeitas com o dinheiro gasto em ingressos na noite de ontem (14). Alanis Morissette esgotou o estádio Allianz Parque, a pouco mais de um quilômetro de distância do Espaço Unimed, onde Gojira e Mastodon chegaram bastante perto de fazer o mesmo.

Dos dois eventos, até o momento, sobram relatos elogiosos. Mas é do metal que trataremos neste texto (a cobertura da apresentação da Alanis pode ser conferida clicando aqui). Mais especificamente, da primeira data da parte sul-americana — e única no Brasil — da “Mega-Monsters Tour 2023”, realizada pela Move Concerts.

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A união de Gojira e Mastodon acontece ao fim da turnê dos discos mais recentes lançados pelas duas bandas, respectivamente, “Fortitude” e “Hushed and Grim”, ambos de 2021. Uma decisão acertada, pois era incerto o real tamanho das duas bandas aqui.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Apesar de tanto uma quanto outra terem se apresentado no palco principal do Rock in Rio, as expectativas não eram animadoras. Fora do festival, o Mastodon fez apenas um show como abertura do Slipknot, incompleto por motivos de chuva. Já o Gojira se apresentou no Carioca Club com abertura do Furia Inc. Foi impecável, mas para menos de mil pessoas. Tudo em São Paulo, na mesma semana, em setembro de 2015.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Mastodon

Oito anos depois, o Mastodon sobe ao palco e abre o show com “Pain With na Archor”, uma das que tocariam de “Hushed and Grim”, e qualquer aspecto de que seriam apenas a banda de abertura desaparece. O quarteto de Atlanta (EUA) lembra um Black Label Society que ouviu mais Yes do que Black Sabbath, ou seja, a parte mais agressiva e visceral do metal e hard rock que praticam se associa a todo momento a elementos do rock progressivo dos anos 70.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Um deles é o pouco usual baterista vocalista. Brann Dailor assume a voz principal não só na primeira música como em quase todo o show, embora os guitarristas Brent Hinds e Bill Kelliher e o baixista Troy Sanders também cantem. Só o tecladista, João “Rasta” Nogueira, não canta. Sim, ele é brasileiro, “o brasileiro do rolê aleatório” como se apresentou ao final do show, enquanto segurava a bandeira de Pernambuco.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Enquanto o Mastodon recebeu um brasileiro na formação — ainda que como músico de apoio —, o país os recebeu como se ninguém viesse depois. Participou ativamente cantando as músicas e gritando o nome da banda a todo momento.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A boa vontade que certamente já existia de parte a parte foi premiada com uso coerente dos telões e da plataforma dispostos no palco. Animações surreais e a iluminação colorida deram um ar psicodélico à apresentação, o que aumentou a força de um setlist acertado.

Rolaram surpresas como “The Czar”, praticamente não tocada em 2023, e alguns dos maiores hits da banda, como “Steambreather” e “Blood and Thunder”, sequência que foi celebrada como gol do Brasil em Copa do Mundo e encerrou um grande show.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O Mastodon consolidou o nome entre o público paulista. Suceder um momento especial desses não é tarefa fácil. A menos que você seja o Gojira.

Gojira

Uma contagem regressiva a partir do 180 projetada no telão foi o aviso que o quarteto francês estava chegando. Quando começaram “Born for One Thing”, ficou evidente que se repetia ali o que ocorreu com o Ghost, no mesmo Espaço Unimed em setembro último: a ascensão definitiva de um nome promissor do underground ao mainstream, em consonância com o que tem ocorrido com essas bandas no exterior.

É possível dizer isso não apenas por a banda tocar para um público muito maior do que tiveram no excelente show no Carioca Club em 2015. Mais hits vieram desde então, ainda que com leve mudança no estilo e um questionamento público vindo deles mesmos de até quando aguentam apresentar um repertório que exige tanto fisicamente de Joe Duplantier (voz e guitarra), Mario Duplantier (bateria), Christian Andreu (guitarra) e Jean-Michel Labadie (guitarra).

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Talvez por estarem em São Paulo desde o domingo (12), eles não economizaram na energia e apresentaram um setlist apenas de hits. Todas as 15 músicas tocadas (somente uma a mais do que o Mastodon) estão entre as preferidas dos fãs, embora seja uma turnê regular, no sentido de que divulga um disco de inéditas.

O já mencionado “Fortitude” aparece cinco vezes durante o show. Se dele vem talvez a exceção, a não tão hit assim “Grind”, vem também “The Chant”, que não acaba quando a banda termina a música. O público não deixa, continua a cantar o “aaaahhhhh” por muito tempo, bem parecido com o que acontece quando o Blind Guardian toca “Valhalla” e os fãs cantam o refrão indefinidamente.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Numa sequência típica de “best of”, as pessoas cantando e pulando a cada segundo, pode não ser inteligente tocar uma música de quase dez minutos praticamente no começo da apresentação. De novo, a menos que você seja o Gojira; “The Art of Dying” vem depois do clássico “Flying Whales” e nem ela, nem o solo de bateria na sequência baixa os ânimos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Embora divida mesmo som, luz e palco com o Mastodon, o clima muda totalmente com o Gojira. Menos cores, projeções mais sóbrias, contrastadas com canhão de fumaça e chuva de papel picado, de alguma maneira difícil de explicar, porque ajudam a manter o clima introspectivo.

Teve hora que os telões ficaram desligados, poderia ter sido por falha. Ou não, uma vez que uma das animações foi um sol em eclipse, apenas a borda aparecendo, ou seja, o telão foi utilizado para escurecer o ambiente.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A animação exibida durante “Another World” fugiu um pouco disso: foi um minicartoon em que quatro astronautas vão a outro mundo, uma Paris reflorestada. Some-se a isso o breve discurso que Joe Duplantier fez antes de Amazonia e é possível constatar que a banda, embora mantenha de forma ferrenha a defesa da bandeira ecopolítica, foi bastante econômica no discurso direto nessa noite em São Paulo. O tempo vai dizer se é uma tendência ou cansaço de fim de turnê mesmo.

E tome-lhe “The Heaviest Matter of Universe”, hit dos grandes, ignorado em quase toda a turnê, pegando todo mundo (que acompanha o que a banda faz enquanto não vem ao Brasil) de surpresa, bem na volta do bis. Luxo ao qual quem viu a apresentação dos franceses no Rock in Rio de 2022 não teve acesso.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

“L’Enfant Sauvage”, disco que tornou a banda de fato conhecida mundialmente, que trouxe a banda ao Brasil pela primeira vez no breve show vespertino do Monsters of Rock em 2013, ficou para o final do show, com duas aparições somente: a faixa-título antes do bis e “The Gift of Guilt” encerrando o show. Poderiam ter incluído “The Axe”, mas isso seria motivo fútil para achar defeito em um show destruidor, justificador de cada manifestação de quase histeria por parte dos fãs, que não foram poucas.

Uma questão tradicional entre os amantes de música pesada debate quem serão os grandes nomes para encerrar festivais quando Iron Maiden, Metallica e alguns outros não mais estiverem entre nós. Quem viu a dobradinha que Gojira e Mastodon fizeram ontem vai ter dificuldade de entender como alguém pode ter essa dúvida.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Mais imagens ao fim da página.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Gojira e Mastodon – ao vivo em São Paulo

  • Local: Espaço Unimed
  • Data: 14 de novembro de 2023
  • Turnê: The Mega-Monsters Tour 2023

Gojira — repertório:

  1. Born for One Thing
  2. Backbone
  3. Stranded
  4. Flying Whales
  5. The Cell
  6. The Art of Dying
  7. Solo de bateria
  8. Grind
  9. Another World
  10. Oroborus
  11. Silvera
  12. The Chant
  13. L’enfant Sauvage

Bis:

  1. The Heaviest Matter of the Universe
  2. Amazonia
  3. The Gift of Guilt

Mastodon — repertório:

  1. Pain With an Anchor
  2. Crystal Skull
  3. Megalodon
  4. Divinations
  5. Sultan’s Curse
  6. Bladecatcher
  7. Black Tongue
  8. The Czar
  9. Halloween
  10. High Road
  11. More Than I Could Chew

Bis:

  1. Mother Puncher
  2. Steambreather
  3. Blood and Thunder

Gojira:

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
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Mastodon:

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

1 COMENTÁRIO

  1. Dois adendos mínimos: pro fã atencioso, tanto The Czar quanto Heaviest Matter não foram exatamente surpresa: haviam tocado no México (no show solo, não no festival) alguns dias antes. Czar o Mastodon tocou também lá no headbangers boat no inicio do mês. Sempre um bom hábito visitar o setlist.fm e o youtube pra imaginar o que pode vir. No mais, dois shows históricos pro Brasil. Valeu!!

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