Sempre considerei o Steel Panther um desperdício de material humano, já que são bons músicos colocados em um contexto que claramente não explora seus talentos da forma devida. Mesmo um álbum interessante no âmbito técnico como a estreia “Feel the Steel” (2009) ficou ligeiramente comprometido pela abordagem humorística. A piada se repetiu nos trabalhos seguintes e, com o tempo, foi se empalidecendo.
É verdade, ao mesmo tempo, que a banda americana famosa por parodiar o hard rock oitentista não alcançaria a mesma popularidade se apostasse em temáticas mais sérias. Ainda assim, quem realmente gosta desse tipo de som fatalmente se pega imaginando como seria se Michael Starr (voz), Satchel (guitarra), Stix Zadinia (bateria) e Spyder (baixo, ocupando a vaga deixada por Lexxi Foxx) fizessem música pra valer, sem a exploração de estereótipos e clichês para fins de comédia.
Mesmo com algumas restrições pessoais ao trabalho do Steel Panther, assisti de coração aberto ao show realizado na Audio, em São Paulo, na última quinta-feira (19) — data única no Brasil, país o qual visitaram pela segunda vez, sendo a primeira ocasião como atração principal. E quando o foco era a música, mesmo que complementada pelo humor, o resultado agradava. O problema é que nem sempre era assim.
Para se ter ideia, logo após a abertura com a pesada “Eyes of a Panther” — curiosamente a canção mais ouvida do grupo no Spotify — e a swingada “Let Me Cum In”, Satchel gastou quase dez minutos de conversa com a plateia. E ainda era o início do show. Falou palavras e frases como “nós amamos peitos grandes”, “cocaína” e “pau pequeno” (geralmente lendo de escritos na mão); apresentou todos os integrantes (Stix foi introduzido tocando “Photograph”, do Def Leppard, enquanto o braço direito estava enfiado dentro do braço, em alusão à deficiência de Rick Allen); perguntou se o público ama heavy metal (já que eles nunca se definem como hard rock) e tudo o mais.
“Asian Hooker”, talvez a canção de letra mais complicada da banda, foi executada com uma fã de ascendência asiática no palco. O público que ocupou aproximadamente 60% da Audio (casa com capacidade para 3,2 mil pessoas) gostou, a ponto de cantarolar o solo de guitarra. Na sequência, outros quase oito minutos de conversa, com direito a histórias inventadas de dupla penetração envolvendo Satchel e Michael Starr. A semibalada “The Burden of Being Wonderful” exalou influência de Def Leppard e… ao fim, mais três minutos de papo.
O momento menos tagarela provavelmente se deu na sequência, com o hard básico “Friends with Benefits”, um solo bem virtuoso de Satchel e “Death to All But Metal”, uma das canções de melhor resposta perante a plateia. Outros três ou quatro minutos de falatório que foram de Guns N’ Roses a integrantes da banda terem transado com a mãe de Starr vieram antes de apresentar a música “1987”, com uma série de referências a ícones do hard rock oitentista. Ao fim, o cantor disse “sentimos sua falta, Van Halen” e instigou um coro “Eddie! Eddie!” dos presentes, em homenagem ao guitarrista falecido em 2020.
O show ficou ainda mais moroso em seu bloco acústico. Rolaram quase cinco minutos de piadas em torno de Michael ter aprendido a tocar violão e Stix, teclado, há um dia. “Ain’t Dead Yet” trouxe bons solos de slide de Satchel. Eis que outra fã, identificada como Kim, foi trazida ao palco — e por lá ficou um bom tempo após cada integrante fazer uma música improvisada para ela, sempre de teor sexual. Uma delas, criada por Zadinia, reforçou o coro da plateia para que ela mostrasse os seios; a moça se limitou a exibi-los cobertos pelo sutiã. E lá se foram uns dez minutos até que, enfim, tocaram “Girl from Oklahoma” — interrompida no meio para fazer coros interagindo com a plateia. Quem avaliava? A vagina de Kim, dublada por Stix.
Encerrando o set regular, ainda bem, menos falatório. A também acústica “Community Property” e a hardona “Party All Day (Fuck All Night)” contaram com a presença de dezenas de fãs trazidas diretamente da plateia para o palco. Várias delas passaram um bom tempo cercando o casado Michael Starr. As moças foram todas retiradas durante o solo da segunda música; um momento curioso, já que a equipe técnica sequer esperou o encerramento para tirá-las dali.
Após breve saída do palco, o quarteto retornou para o bis com a pesada e já prevista “Gloryhole” e a festeira “Party Like Tomorrow is the End of the World”, que não constava no setlist e foi tocada após Starr receber resposta positiva à pergunta: “vocês querem mais?”. Sim, os fãs queriam mais. Música.
Não cabe a mim julgar a qualidade do humor do Steel Panther. Nem foi com essa proposta que cobri a apresentação — até porque já sabia o que encontraria. O que pareceu descalibrado foi o equilíbrio entre os diálogos e a parte musical.
Foram executadas quatorze músicas em 100 minutos. Considerando que as canções têm no máximo quatro minutos de duração cada, dá para chutar que a banda americana investiu 40% da apresentação em conversa. É muito. Especialmente num país onde a maioria das pessoas sequer fala inglês.
Em entrevista ao site dias antes do show, Stix Zadinia disse que o objetivo do Steel Panther é visitar o Brasil mais vezes e tocar em locais cada vez maiores. Neste formato atual de apresentação, não dá para apostar que isso vai acontecer.
Steel Panther – ao vivo em São Paulo
- Local: Audio
- Data: 19 de outubro de 2023
- Turnê: On the Prowl
Repertório:
- Eyes of a Panther
- Let Me Cum In
- Asian Hooker
- The Burden of Being Wonderful
- Friends with Benefits
- Solo de guitarra de Satchel
- Death to All But Metal
- 1987
- Ain’t Dead Yet
- Girl from Oklahoma
- Community Property
- Party All Day (F#ck All Night)
Bis:
- Gloryhole
- Party Like Tomorrow is the End of the World
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Mas todo show deles é assim… Por mais que muitos digam que não, eles são sim um grupo de comédia, como o Massacration. É um show de música, mas também de humor
parece uma crítica de quem nunca viu um show deles inteiro nem pelo youtube, quem conhece a banda não se surpreendeu com o falatório, inclusive esperava essa interação.
postzinho padrão de crítico cri cri.
não dá para compara-los ao massacration, o steel panther não é uma banda de comédia, é uma banda séria de rock, porém com uma bela pitada de humor. o massacration tá mais pro spinal tap do que pro steel panther.
Devia ter pagado p eu ir no seu lugar.
Eu gosto da banda, então teria feito uma matéria menos tendenciosa.
Poderia ter duas linhas, que já havia entendido.
Critica o excesso de conversa, mas faz o mesmo.
Mas se você gosta da banda, é justamente você quem faria uma matéria tendenciosa, hehe. Para opinar sobre um disco, show, etc, é preciso ter o mínimo de distanciamento do que está sendo analisado. Observe que você está criticando minha opinião sobre o show sem sequer ter ido. Quer algo mais tendencioso do que isso?
Abraço!
Eu sou a kim , e já fui pro palco sabendo da zoeira kkkkkk então tudo bem galera amo esse veio , fora do microfone eles perguntavam se tava tudo bem e afins , apesar da de realmente falarem bastante eu acho q eles fazem a parte de shows mens q muitas banda esqueceram que é importante ….
Qu showzao, foi muito engraçado e com muita musica boa, vi que muitas pessoas estavam entendendo as piadas e rindo, publico estava afiado e quem estava ali parecia estar esperando exatamente o que apresentaram, realmente muito bom. Falaram pra caramba, falaram miita merda, foi muito engraçado e apresentaçao de alta qualidade, musicos muito virtuosos, que voltem maos vezes, realmente.
Texto bom de se ler vc fica preso nele
Pra quem curte piadinha quinta série, tá bom. Público ocupou 60% do espaço e eles pretendem tocar em um lugar maior? Boa sorte então. Se eu quiser ver stand up comedy, vou no show do Fábio Rabin, pelo menos dou risada.
Vou repetir o q todo mundo falou… o senhor foi ao show sem conhecimento algum sobre a banda… em alguns momentos tb acho o falatório excessivo?? Sim… mas eu ja sabia q seria assim… rodei 4h só pra ver esse show… e sai mais do que satisfeito… mas são só meus 2 centavos sobre o show…
Ué! Se você achou o falatório excessivo, então você concordou comigo. Hehe.
Sempre estudo os shows antes de cobrir, então já sabia o que veria. E conheço a banda há quase de 15 anos, desde o lançamento de “Feel the Steel”. Mas nada disso faria diferença na minha conclusão sobre o show. Mesmo que eu não conhecesse nada, a impressão final teria sido essa aí.
críticos sendo criticos
“desperdício de material humano”