A trágica história de Stuart Sutcliffe, baixista dos Beatles morto aos 21 anos

Músico foi o responsável por dar nome e identidade visual à banda, saiu para se manter em Hamburgo com noiva, mas faleceu ainda muito jovem

Ao longo da trajetória dos Beatles rumo a se tornar a maior banda do planeta, dois nomes são discutidos diferentemente daqueles considerados membros “honorários”.

Um deles é Pete Best, baterista substituído por Ringo Starr logo antes da banda conseguirem um contrato de gravação. O outro, talvez mais importante para o grupo e mais trágico em termos de história, é Stuart Sutcliffe.

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Escola de arte e Beatles

John Lennon foi o primeiro a conhecer Stuart Sutcliffe, quando os dois estudavam na Liverpool College of Art. Stuart era uma das estrelas da escola e fez uma impressão forte em John com suas pinturas. A amizade se desenvolveu na escola de arte a ponto dos dois irem morar juntos em 1960.

Nessa época, John já tocava com George Harrison e Paul McCartney há mais de dois anos, primeiro como parte do The Quarrymen e depois no trio Johnny and the Moondogs, isso quando conseguiam achar um baterista. O grupo estava em estado de fluxo e precisava de um empurrão.

McCartney tinha certa inveja da relação dos dois por conhecer Lennon há mais tempo, mas mesmo assim fez dupla com John para convencer Sutcliffe a comprar um baixo e se juntar a eles na versão repaginada da banda em janeiro de 1960.

A primeira contribuição de Sutcliffe se provou vital: o grupo devia mudar de nome para algo como The Beatals, em homenagem ao grupo de apoio de Buddy Holly, os Crickets. O nome passou por mudanças ao longo do primeiro semestre de 1960, mudando para Silver Beetles, Silver Beatles e em agosto chegando ao consenso de simplesmente serem The Beatles.

Astrid Kirchherr e Alemanha permanente

Ao se estabelecerem com tal alcunha, os Beatles foram contratados para fazer uma residência numa boate em Hamburgo, na Alemanha. Lá, eles eram forçados a tocar por horas a fio para marinheiros bêbados, o que causou ao mesmo tempo uma evolução na habilidade musical de alguns integrantes – Lennon, Harrison e McCartney – e a exposição da incapacidade de outros – no caso, Sutcliffe.

De fato, Stuart não era um bom baixista. Ainda assim, era um dos membros que mais chamava atenção do público, o que contribuía para ciúmes crescentes entre os outros integrantes. 

O período prolongado de residência os fez criar amizades em Hamburgo, especialmente a partir de um encontro com Astrid Kirchherr, uma fotógrafa vinda de uma família rica da cidade. Ela e Sutcliffe começaram uma relação amorosa rapidamente. A influência dela em sua vida o fez começar a se vestir diferentemente dos outros integrantes, ainda adeptos da estética teddy boy.

Uma mudança visual feita por Sutcliffe que pegou junto aos outros integrantes foi a de mudar o cabelo. Kirchherr conta à Louder como o músico foi o primeiro adepto do cabelo moptop:

“Todos meus amigos na escola de arte andavam com esse… o que você chamaria de corte Beatles. E Stuart gostava muito, muito do corte. Ele foi o primeiro que criou a coragem de tirar a gomalina do cabelo e me pedir pra cortar o cabelo dele.”

Stuart começou a passar cada vez mais tempo com Astrid, permanecendo na Alemanha com ela quando os outros integrantes foram deportados por razões diversas em dezembro de 1960. 

Ele voltou para a Inglaterra em janeiro, mas o grupo estaria de volta a Hamburgo dois meses depois para uma estadia que, para Sutcliffe, seria permanente. Ele e Kirchherr ficaram noivos em 1960 e planejavam permanecer na Alemanha.

Stuart Sutcliffe deixa os Beatles

Em julho de 1961, Stuart Sutcliffe deixou os Beatles para focar em sua carreira em artes plásticas. Ele havia sido recusado quando tentou entrar para o mestrado em arte na Liverpool College of Art, mas com o incentivo de Astrid Kirchherr, se inscreveu e foi aceito para o programa da Universidade de Belas Artes de Hamburgo.

No curso, ficou sob a tutela de Eduardo Paolozzi, um artista escocês reconhecido como um dos pais da pop art. Em um relatório, o talento de Sutcliffe era notado pelo professor:

“Sutcliffe é muito talentoso e muito inteligente. Nesse meio tempo se tornou um dos meus melhores alunos.”

Contudo, algo começou a dar errado. Sutcliffe começou a ter crises de enxaqueca que, segundo Kirchherr, o deixavam temporariamente cego. Em fevereiro de 1962, desmaiou durante uma aula, o que fez a mãe de Astrid recomendar ele a voltar para o Reino Unido, onde o cuidado médico seria melhor. Chegando na Inglaterra, médicos não encontraram nada de errado e ele voltou para Hamburgo.

Sua condição foi piorando, a ponto de ter um colapso em 10 de abril de 1962, do qual não retornou. Aos 21 anos, foi vítima de uma hemorragia cerebral causada por um aneurisma.

Os Beatles estavam marcados para retornar à Alemanha dali a três dias.Ao recepcioná-los no aeroporto, Astrid Kirchherr os contou sobre a tragédia. John reagiu à morte do amigo com risadas histéricas, tão absurda era a ideia de seu grande amigo morrer tão jovem.

Mesmo após se tornarem estrelas, os Beatles mantiveram relações próximas com Astrid, que ficou conhecida pelas fotos tiradas do grupo durante esses períodos na Alemanha. Outro amigo desses tempos, Klaus Voorman, foi responsável pelo design da capa de “Revolver” e depois tocou baixo em vários discos solo dos integrantes.

Mas nenhuma influência paira sobre o grupo como a de Stuart Sutcliffe. No fim das contas, ele inventou os Beatles.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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