O show do Metallica no Download Festival 2004, em Donington, Inglaterra, representou um momento difícil e ao mesmo tempo histórico. No caminho para o evento, o baterista Lars Ulrich passou mal e precisou ser levado a um hospital. A banda chegou a considerar cancelar sua participação, o que causaria um grande problema em se tratando da principal atração da noite de 6 de junho.
A solução foi recorrer à ajuda de amigos. As duas primeiras músicas do set serviram para concretizar sonhos molhados de thrashers de plantão, com Dave Lombardo empunhando as baquetas e tocando “Battery” e “The Four Horseman”. Porém, ainda seria necessário tocar pelo menos mais algumas para satisfazer o público. Sendo assim, Joey Jordison assumiu o kit para outras 8 canções – além de uma breve participação do técnico de Lars, Flemming Larsen, em “Fade to Black”.
Em entrevista ao livro “Download: The Official History” – publicada pelo site do jornal britânico The Guardian –, que sairá ainda este ano, o guitarrista Kirk Hammett relembrou a situação, especialmente o perrengue enfrentado pelo grupo.
“Lembro de encontrar Dimebag Darrell nos bastidores e dizer que estávamos completamente ferrados. As coisas só mudaram quando Lombardo e Joey se ofereceram e pudemos nos acalmar.”
Em relação ao segundo, Kirk carregará para sempre a emoção do músico do Slipknot.
“Joey era capaz de tocar qualquer tipo de música. Estava fora de si de tão feliz. No final do set, virei-me para ele no palco e perguntei se sabia ‘Enter Sandman’. E vi através de sua máscara lágrimas em ambos os olhos. Ele estava chorando porque significava muito estar conosco naquele momento. Nunca vou esquecer isso.”
As lembranças do show com o Metallica
Em 2014, Joey Jordison relembrou o momento à Metal Hammer.
“Honestamente, foi como um sonho bizarro. A recompensa definitiva por todo o meu trabalho duro, eu acho. Sem o Metallica eu não estaria fazendo o que faço. Desde o final da quinta série, por volta de 86, quando ‘Master of Puppets’ e ‘Reign In Blood’ do Slayer saíram, eu simplesmente me apaixonei. Passava horas tocando bateria no porão dos meus pais com o aparelho de som atrás de mim, apenas ligando os discos e aprendendo as batidas. Fiz isso por anos, conhecia os primeiros quatro discos de ponta a ponta. Então foi tão estranho que essa oportunidade apareceu e eu simplesmente estava no lugar certo na hora certa.”
O multi-instrumentista relembrou como se deu a abordagem.
“Meu empresário disse que James queria falar comigo. Fui até ele, que fez o convite e foi literalmente como um sonho. Sentei-me em sua pequena sala de aquecimento e tocamos algumas músicas. Não dava para improvisar naquela situação, mas o show foi muito legal. É uma das minhas memórias mais preciosas. Não hesitei um segundo sequer. Eles precisavam de ajuda, havia 70 mil fãs esperando. É claro que eu faria o que fosse possível.”
Joey tocou “For Whom the Bell Tolls”, “Creeping Death”, “Seek and Destroy”, “Wherever I May Roam”, “Last Caress” (cover do The Misfits), “Sad But True”, “Nothing Else Matters” e “Enter Sandman”.
Sobre Joey Jordison
Nascido em Des Moines, Iowa, Nathan Jonas Jordison se consagrou como baterista e um dos principais compositores do Slipknot. Permaneceu na banda até 2013, estabelecendo nome como um dos maiores instrumentistas de sua geração.
Paralelamente, tocou guitarra no Murderdolls, banda de horror punk em parceria com o vocalista Wednesday 13. Foram dois álbuns lançados, em 2002 e 2010. Após sair do Slipknot, fundou o Scar The Martyr, que durou até 2016, com parte dos músicos seguindo juntos no Vimic. Outro projeto foi o Sinsaenum, em parceria com o baixista Frédéric Leclercq, então no Dragonforce, atualmente no Kreator.
Em 2016 foi diagnosticado com mielite transversa, doença neurológica que inflama a medula espinhal. Chegou a perder a sensibilidade das pernas, mas se recuperou após tratamento médico e fisioterápico. Morreu em 26 de julho de 2021, aos 46 anos. A causa nunca foi oficialmente revelada para pessoas fora de seu círculo familiar e de amigos mais íntimos.
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