Trocar o ponto de vista costuma funcionar para dar um ar fresco a qualquer história. Foi esse o caminho tomado em “Renfield”, que no Brasil ganhou o subtítulo desnecessário e metido a engraçadinho “Dando o Sangue pelo Chefe”.
Servo do Conde Drácula, Renfield estreou junto do vampiro mais famoso do mundo no livro original de 1897. Desde então, é presença quase constante em qualquer adaptação do Senhor das Trevas.
Desta vez, o personagem é interpretado por Nicholas Hoult (o Fera dos filmes dos X-Men) e, enfim, se torna o protagonista numa produção que é muito mais comédia e ação do que terror.
Mal moderno
Com alguns flashbacks, a trama se passa no presente. Depois de décadas servindo Drácula (Nicolas Cage), Renfield (Hoult) começa a se dar conta de como seu mestre é controlador e de como não tem nenhuma voz em sua própria vida. Ser imortal e ganhar poderes ao ingerir insetos não parece muito vantajoso quando você é pouco mais do quem escravo.
Resultado: ele começa a frequentar reuniões de um grupo de pessoas codependentes e, pouco a pouco, vai reconquistando o controle de sua vida, no caminho conhecendo a policial Rebecca (Awkwafina), que se torna sua aliada. É claro que Drácula não aceita a independência de Renfield, e acaba se aliando aos mafiosos locais, os Lobos, liderados por Bellafrancesca (Shohreh Aghdashloo) e Teddy (Ben Schwartz).
Cheio de homenagens
Ator competente, Nicholas Hoult vem há anos tentando se consolidar em Hollywood, mas parece que nunca se transforma em uma estrela, embora bons trabalhos não faltem. “Renfield” pode ser sua grande chance. Por outro lado, é bem provável que acabe ofuscado pelo Drácula de Nicolas Cage, que rouba a cena a todo o momento.
Ser exagerado é marca registrada de Cage, que claramente está se divertindo dando vida a um Drácula calcado na versão clássica do húngaro Bela Lugosi, com algumas poucas pitadas de Christopher Lee. Não são poucas as cenas que prestam homenagem ao Drácula de 1931.
A caprichada maquiagem merece elogios ao retratar Drácula com vários visuais, fazendo uma dobradinha perfeita com a atuação expansiva de Cage, que simula até os trejeitos de Lugosi, criando um Drácula aterrorizador e divertido na mesma medida.
Rindo do gore
Pegar o tão datado mito do Drácula e adaptá-lo aos tempos modernos é algo feito com frequência. É a qualidade que varia muito. Neste caso, o acerto se deve ao envolvimento de nomes que sabem dosar humor, ação e terror numa alquimia bem equilibrada.
Na direção temos o especialista no humor: Chris McKay, do genial “Lego Batman: O Filme”. No roteiro há a participação do quadrinista Robert Kirkman, criador do terror “The Walking Dead” e também de “Invencível”, onde provou que consegue criar cenas de ação com gore. Em “Renfield”, o gore também está presente, mas como recurso humorístico. Não são cenas feitas para impressionar ou provocar nojo, mas sim para soarem propositalmente exageradas e engraçadas. Já o outro roteirista é Ryan Ridley, de “Rick & Morty”, que traz toda a loucura da série animada para a produção.
E tudo isso funciona muito bem, compondo um filme divertidíssimo, seja pelo carisma de Hoult, pela ótima direção ou por uma das atuações mais espalhafatosas e magistrais da carreira de Nicolas Cage.
*“Renfield” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27).
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