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Como “The Dark Side of the Moon” sincroniza com “O Mágico de Oz”

Conexão da obra-prima do Pink Floyd com o longa foi "descoberta" por jornalista em 1995; saiba origem e o que dizem os músicos da banda

A sincronia, premeditada ou incrivelmente acidental, entre o álbum “The Dark Side of the Moon” e o filme “O Mágico de Oz” – que fã de Pink Floyd nunca esbarrou nesse tema? Muitos, inclusive, já devem ter dedicado algum tempo investigando o mesmo.

Tal relação habita o imaginário popular no rock e na cultura pop em geral. E desperta, ao mesmo tempo, curiosidade e espanto pela forma como a obra-prima da banda inglesa, lançada em 1º de março de 1973, se conecta a diversas cenas do longa.

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Curiosamente, essa história só veio à tona na década de 1990, graças a um estagiário do modesto jornal The Journal Gazette, de Fort Wayne, Indiana, Estados Unidos.

“The Dark Side of the Moon” e o filme “O Mágico de Oz”

A origem

Charlie Savage é hoje um jornalista premiado. Correspondente do The New York Times em Washington, cobre os bastidores da Casa Branca e foi vencedor do Pullitzer de jornalismo em 2007, quando trabalhava no The Boston Globe.

Antes, porém, de se especializar em matérias de segurança nacional dos EUA, ele foi o responsável por escrever o que é considerado o primeiro artigo sobre a conexão entre “The Dark Side of the Moon” e “O Mágico de Oz”.

O burburinho já circulava em fóruns de discussão, com fãs de Pink Floyd expondo suas teorias numa época de internet incipiente. Faltava alguém sistematizar e disseminar o modus operandi da experiência de parear disco e filme. Foi o que Charlie fez.

Publicado em 1º de agosto de 1995, o artigo “The Dark Side of the Rainbow” dava as instruções necessárias para que pessoas do mundo inteiro fizessem o teste e tirassem suas próprias conclusões.

“Alugue ‘O Mágico de Oz’, desligue o som da televisão, coloque ‘The Dark Side of the Moon’, do Pink Floyd, no seu CD player e aperte play no exato momento em que o leão da MGM rugir pela primeira vez (algumas pessoas defendem que seja no terceiro rugido, mas descobri que no primeiro funciona melhor para mim).”

O próprio Charlie, entretanto, antecipava o veredito:

“O resultado é impressionante. É como se o filme fosse um longo videoclipe de arte para o álbum. As letras e os títulos das músicas combinam com a ação e o enredo. A música cresce e diminui com os movimentos dos personagens.”

O nome do artigo, “The Dark Side of the Rainbow”, do então estagiário do The Journal Gazette, logo virou sinônimo para o match-up entre o disco e o filme. Ao longo dos anos, outras alcunhas foram surgindo, como “Dark Side of Oz” e “The Wizard of Floyd”.

https://www.youtube.com/watch?v=l2dY-qhop9U

A sincronia

“O Mágico de Oz”, do diretor Victor Fleming, foi lançado em 1939 e tem a atriz Judy Garland na pele da garota orfã Dorothy Gale. A protagonista do longa está nas principais cenas em que se percebe sincronia com o disco.

Logo em “Breathe (In the Air)”, a primeira música com vocais, David Gilmour canta:
“But only if you ride the tide / And balanced on the biggest wave” (“Mas só se você navegar na maré / Equilibrado(a) na maior onda”). O trecho casa com a cena em que Dorothy caminha sobre a cerca do chiqueiro, se equilibrando como numa corda bamba.

No exato momento em que a jovem despenca, a letra diz “You race towards an early grave” (“Você corre em direção a uma sepultura precoce”) e há a transição abrupta para a faixa seguinte, “On the Run”.

“Time”, um dos maiores clássicos do Pink Floyd, é repleta de encaixes perfeitos com o filme. Para começar, os despertadores que abrem a música acordam Dorothy de um sonho. No verso “No one told you when to run” (“ninguém te disse quando correr”), a garota surge em disparada, fugindo para salvar o cãozinho Totó.

Depois, ela é aconselhada pelo vidente a voltar para casa. Alguém arrisca a letra em sincronia com essa cena? Sim, “Home, home again…” (“Casa, casa novamente…”), presente no fim de “Time”.

A música “Brain Damage” (cujo título se traduz como “Dano cerebral”) começa quando do encontro de Dorothy com o Espantalho, na clássica cena em que ele canta o que faria se tivesse um… cérebro – “If I Only Had a Brain”. A música composta exclusivamente por Roger Waters traz ainda o verso “The lunatic is on the grass” (“O lunático está na grama”) no exato instante em que ele cai no gramado como um louco, diante da garota.

Para além da sincronia que se explicita pelas letras, diversos momentos de “The Dark Side of The Moon” formam paisagens sonoras no filme. A instrumental “The Great Gig in the Sky” (o grande evento no céu) surge na hora em que o tornado atinge Dorothy e sua casa, funcionando como uma trilha que sobe e desce em tensão de acordo com os eventos da cena.

Os sons de caixa registradora em “Money” coincidem com o instante em que Dorothy sai da casa e se depara com a Terra de Oz. É a primeira cena colorida e inaugura o segundo ato do filme, assim como a música abre o lado B do vinil de “The Dark Side of The Moon”.

De acordo com Charlie Savage, no entanto, o argumento decisivo para provar a tese da sincronia entre filme e disco está em “Eclipse”. Ela encerra o álbum com sons de batimentos cardíacos perfeitamente sincronizados com a cena em que Dorothy aproxima o ouvido ao peito do Homem de Lata e tenta, em vão, ouvir seu coração.

Como “The Dark Side of the Moon” tem aproximadamente 43 minutos de duração, é possível ouvi-lo na íntegra duas vezes ao longo dos 101 minutos de “O Mágico de Oz”. A partir da segunda audição, os relatos de sincronia são menos recorrentes. Se iniciada uma terceira, o filme a acompanha por mais 15 minutos e chega ao fim durante “The Great Gig in the Sky”, com Dorothy prometendo nunca mais fugir de casa.

O que dizem os envolvidos

Apesar de todos os indícios apontados por fãs e pela imprensa, tanto os integrantes do Pink Floyd quanto Alan Parsons, engenheiro de som na gravação de “The Dark Side of the Moon”, negam a sincronia com “O Mágico de Oz”, pelo menos deliberada.

O primeiro a comentar o assunto foi o baterista Nick Mason, em entrevista à MTV. Na ocasião, em 1997, ele fez questão de tirar uma onda:

“Isso é um completo absurdo. Não tem nada a ver com ‘O Mágico de Oz’. Foi tudo baseado em ‘A Noviça Rebelde’.”

Na mesma época, Alan Parsons argumentou:

“Simplesmente não havia mecanismos para fazermos isso. Não tínhamos meios de reproduzir fitas de vídeo na sala de gravação.”

David Gilmour atribuiu a hipótese a “alguém com muito tempo sobrando, que um dia apareceu com essa ideia de combinar ‘O Mágico de Oz’ com ‘The Dark Side of the Moon’”.

Autor de todas as letras e principal idealizador do conceito do disco, Roger Waters também sempre refutou qualquer conexão. Em entrevista recente ao podcast de Joe Rogan, ele meio que encerrou o assunto. Pelo menos de sua parte.

“Besteira. É claro que é! Quero dizer, pode não ser (besteira), pode funcionar se você fizer o que eles dizem, mas não tem nada a ver conosco. Com nenhum de nós. Nada a ver com ninguém do Pink Floyd ou qualquer um que escreveu ou gravou qualquer música (do álbum). É algo que alguém imagina, uma coincidência… Talvez seja uma coincidência cósmica!”

“Coincidência cósmica” é, curiosamente, um termo utilizado pelo próprio jornalista Charlie Savage em 1995, no artigo que deu origem ao culto:

“No fim das contas, a sincronia pode ter sido intencional ou uma coincidência cósmica. […] Talvez o que isso signifique é que, quando tudo sob o sol está em sintonia, incluindo duas peças de entretenimento com status cult, aparentemente separadas por completo pelo tempo e gênero, parecerá tão extraordinário quanto o sol eclipsado pela lua.”

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

2 COMENTÁRIOS

  1. David G. também disse em entrevista que eles não usavam dorgas. Daí…. Mas é de uma genialidade incrível a sincronia. Em nada diminui o PF. Muito pelo contrário. Até porque há o efeito de provocar um deslocamento libertário nos filmes. Sim, porque cada álbum tem um filme a ser sincronizado. Já vi vários e o efeito de tensionamento sobre o filme está em todos. Animals e Casablanca é fenomenal.

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