Documentário sobre Little Richard chega à HBO Max em abril

Arquiteto do rock'n'roll enfim recebe o tratamento biográfico que merece, mostrando como um homem negro e gay moldou a música popular americana

Uma das figuras mais importantes para o estabelecimento do rock’n’roll, Little Richard será o foco de um novo documentário. Intitulado “Little Richard: I Am Everything”, o longa-metragem chega à HBO Max em abril.

O filme é dirigido por Lisa Cortés. Ainda não há data específica para a estreia ou comunicado da versão brasileira da plataforma sobre este conteúdo.

- Advertisement -

“Little Richard: I Am Everything” busca dar ao chamado arquiteto do rock’n’roll, nascido Richard Wayne Penniman, o tratamento de estrela que sempre lhe faltou na tela grande. Eamonn Bowles, presidente da Magnolia Pictures, responsável pela distribuição do filme nos Estados Unidos, declarou em comunicado oficial:

“Little Richard é o verdadeiro rei do rock’n’roll, o alfa e o ômega de música selvagem, baseada em ritmo. Lisa Cortés faz jus à lenda, contando a história verdadeira desse ícone que sacudiu a cultura de tantas maneiras.”

Um dos aspectos mais importantes explorados no documentário é a sexualidade de Richard. O cantor era negro e homossexual, se apresentava como drag queen antes da fama e teve sua grande chance dada por Sister Rosetta Tharpe, precursora do rock que também desafiava padrões por sua bissexualidade.

Em um depoimento do documentário (via Rolling Stone), o diretor John Waters fala:

“Ele era gay, mas eu não sabia disso na época. Eu sabia que havia algo diferente. Ele simplesmente se tornou parte da minha identidade. E o bigode de Little Richard que eu uso até hoje, por mais de 50 anos, é meu tributo perverso a ele.

Outra coisa mostrada é como artistas brancos se apropriaram da obra de Little Richard, fazendo covers de suas canções que ficaram mais populares do que as versões originais. O cantor fala em uma cena do filme:

“Eu fiquei enojado porque estava surgindo na cena e todas as meninas brancas estavam gritando por mim, mas o sistema não gostou. Não era para alguém como eu ser o herói de seus filhos.”

Little Richard morreu em 9 de maio de 2020, aos 87 anos, devido a um câncer nos ossos.

Sobre Little Richard

*Por Igor Miranda, conforme publicado em 2020

O rock and roll é um filho de muitos pais – e mães. Tudo indica que Sister Rosetta Tharpe foi a primeira a realmente praticar, nos anos 1940, a sonoridade mais próxima do que o estilo se tornou na década de 1950. Ela também teve influências – e inspirou muita gente, como o próprio Little Richard.

Nascido em 5 de dezembro de 1932, como o terceiro dos 12 filhos do casal Leva Stewart e Charles “Bud” Penniman, Richard Wayne Penniman foi descoberto aos 14 anos, justamente, por Sister Rosetta Tharpe, em 1947. Ele a citava como sua cantora favorita nos primórdios.

Foi dos braços de uma mulher religiosa, que também sofreu preconceito por ser quem era, que Little Richard encontrou refúgio pouco antes de ter sido expulso de casa. Charles, o pai, era do tipo fanático religioso e não aprovava o envolvimento de Richard com a música. Pensava que ele era gay. Não aceitaria aquilo dentro de casa.

Rosetta convidou Richard para abrir um de seus shows, pagando seu cachê devidamente. Isso o inspirou a continuar. Dominando o piano, por influência de Ike Turner, Little Richard passou a trabalhar em sua “persona” de palco. Ele chegava a fazer shows como drag queen, sob o pseudônimo Princess LaVonne. Isso no fim da década de 1940, onde o R&B, estilo do músico nos primórdios de sua carreira, era considerada “música do diabo” por sua própria família.

O primeiro contrato com uma gravadora foi assinado em 1951, com a RCA Victor. Depois, em 1952, migrou para a Peacock. Muitos singles foram gravados, mas nenhum emplacava. A consagração veio com a Specialty Records, em 1955, quando o single “Tutti Frutti” foi divulgado.

É difícil resumir, em palavras, o que há de tão impressionante em “Tutti Frutti”. A abertura e o encerramento com a mesma vocalização “a-wop-bop-a-loo-bop-a-wop-bam-boom!”, criada por Little Richard para refletir uma linha de bateria que ele imaginou, ajudam a compreender de forma muito mais efetiva do que qualquer parágrafo chique, analisando questões de teoria musical.

Depois de “Tutti Frutti”, Richard emendou uma série de hits, com “Long Tall Sally”, “Slippin’ and Slidin’”, “Ready Teddy”, “Rip It Up”, “She’s Got It”, “The Girl Can’t Help It”, “Lucille”, “Jenny, Jenny”, “Keep A-Knockin’” e por aí vai. Uma série de hits que ajudariam a mudar a história.

No fim da década de 1950, Little Richard converteu-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia e anunciou que seguiria carreira na música gospel, além de ser pastor. Continuou produzido, mas sem emplacar. O retorno à música secular aconteceu em 1962, com uma turnê que chegou a envolver Sam Cooke como atração de abertura e Billy Preston como seu organista.

Os anos 1960 começaram a mostrar a importância de Little Richard para a música, já que foi uma das maiores influências de ninguém menos que os Beatles – banda que já até abriu show do músico – e Rolling Stones. Richard chegou a ensinar a Paul McCartney como reproduzir suas icônicas vocalizações, quase berrando. Tem noção do que é isso?

Os anos 1960 começaram a mostrar a importância de Little Richard para a música, já que foi uma das maiores influências de ninguém menos que os Beatles – banda que já até abriu show do músico – e Rolling Stones. Richard chegou a ensinar a Paul McCartney como reproduzir suas icônicas vocalizações, quase berrando. Tem noção do que é isso?

Além dos já mencionados Sam Cooke, Beatles e Rolling Stones, nomes como Otis Redding, James Brown e Bo Diddley, só para citar alguns, citam Little Richard como inspiração. Artistas do porte de Elvis Presley, Buddy Holly, Bill Haley, Jerry Lee Lewis, The Everly Brothers, Gene Vincent e Eddie Cochran gravaram músicas dele.

O heavy metal, inclusive, tem uma dívida de gratidão ainda mais direta com Richard do que seus fãs podem pensar: Lemmy Kilmister, do Motörhead, é um dos que citam o icônico cantor e pianista como referência.

Não só por quem influenciou: depois de ter os Beatles como banda de abertura, Little Richard continuou a se entrelaçar com a história do rock como um todo quando, em 1964, sua banda de apoio trazia um guitarrista posteriormente conhecido como Jimi Hendrix. Curiosamente, os dois brigaram algum tempo depois porque Hendrix estava chamando demais a atenção.

Sua carreira passou por muitos altos e baixos, além de diversas ocasiões em que trocou a música secular pela gospel e vice-versa. Na década de 1970, seu som já era considerado “velharia” e passou a fazer parte de turnês “revival”, apesar de ainda realizar apresentações em grandes espaços. Os problemas com drogas atrapalharam bastante a trajetória do músico, especialmente a partir deste período.

Os últimos shows de Little Richard aconteceram em 2014 – sim, ele se apresentou ao vivo até chegar aos 81 anos. Aposentou-se de vez da música e teve poucas aparições, como em 2017, quando concedeu uma entrevista à Christian Three Angels Broadcasting Network e apareceu sem maquiagem e em uma cadeira de rodas.

*Trecho de texto publicado em 2020

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioNotíciasDocumentário sobre Little Richard chega à HBO Max em abril
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades