Quando falamos do Clube dos 27, a infame coleção de artistas mortos com essa idade, estamos falando em grande parte de pessoas sofrendo com dependência química. Janis Joplin talvez seja o pior desses casos.
A cantora que entrou para a história da música popular graças a sua voz singular teve um caminho espinhoso pelo vício. Desde a primeira vez, morando em San Francisco, até sua morte, em 4 de outubro de 1970, a situação foi complicada.
Entretanto, existem teorias do que poderia ter causado sua morte tiradas de relatórios da polícia, coincidências e até as lembranças de uma grande amiga.
Vamos explorar o caminho longo até as últimas horas de Janis Joplin.
O lado sombrio da cultura hippie
Janis Joplin nasceu em Port Arthur, no Texas, mas deixou o estado americano para trás. Foi para San Francisco procurando o estilo de vida dos poetas beat e músicos de blues os quais idolatrava.
Esse primeiro período passado no norte da Califórnia contribuiu para o início da luta de Janis contra o vício. A cantora desenvolveu um problema sério com metanfetamina intravenosa, a ponto de seus próprios conhecidos a convencerem a retornar para casa.
No Texas, ela conseguiu ajuda terapêutica e psiquiátrica. Segundo uma entrevista dada pelo assistente social Bernard Giarritano para a biografia “Buried Alive: The Biography of Janis Joplin”, a cantora estava tão traumatizada a esse ponto por suas experiências que chegava ao ponto de não acreditar ser possível uma carreira na música. Para ela, seria inevitável uma recaída nesse ambiente.
Mesmo assim, quando a oportunidade de se juntar ao Big Brother and Holding Company, uma banda cujo seu amigo texano Chet Helms era o empresário, ela resolveu encarar seus medos.
Tentativas de sobriedade
As primeiras semanas novamente em San Francisco foram marcadas por tentativas de todos à sua volta de mantê-la limpa. A mera visão de outros usando drogas injetáveis em sua frente era inadmissível.
Isso durou algumas semanas e logo ela afundou novamente no vício, dessa vez em heroína. O Big Brother and Holding Company começou a ficar famoso, junto com a cena toda de San Francisco, e Janis foi ganhando uma posição cada vez mais proeminente até sua saída do grupo, para explorar uma carreira solo, ao final de 1968.
Nesse período, o vício em heroína de Janis era tão pesado a ponto de Gabriel Mekler, o produtor de sua estreia solo,”I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama!”, fazer questão dela ficar hospedada em sua casa durante as gravações para mantê-la longe de drogas e seus amigos drogados.
Até a notória passagem da cantora pelo Brasil durante o Carnaval de 1970 foi uma tentativa de se desintoxicar. Janis ainda assim continuava a beber muito, com grande parte de suas estripulias pelo Rio e Salvador sendo consequências de sua personalidade rebelde misturada com álcool.
Infelizmente, essa e outras tentativas de sobriedade não deram certo.
Teorias sobre a morte
Janis Joplin foi encontrada morta num quarto do Landmark Motor Hotel em Hollywood no dia 4 de outubro de 1970. A polícia encontrou marcas de agulha recentes em seu braço, mas nenhuma droga no local.
Em um livro de 1983, Thomas Noguchi, o médico legista responsável pela autópsia da cantora, atribuiu essa ausência a um hábito da época de limpar o recinto para não incriminar vítimas de overdose. Geralmente, quem fazia isso logo se arrependia e entregava o material às autoridades.
Segundo a biografia “Buried Alive: The Biography of Janis Joplin”, a autópsia feita por Noguchi apontou morte por overdose de heroína, com álcool servindo de agravante.
Segundo John Byrne Cooke, empresário de turnê de Janis, a cantora talvez tenha sido vítima de heroína com potência acima da normal vendida por seu traficante. Em seu livro, “On the Road with Janis Joplin”, ele afirma que outros clientes tiveram a mesma reação às drogas no mesmo fim de semana da morte de Joplin.
Em seu livro “Permanent Damage: Memoirs of an Outrageous Girl” (via Yahoo), Melanie Fontenot alega ter se encontrado com o traficante, Jean de Breteuil, logo após ele ter vendido a heroína para Janis, e provado da mesma droga. Ela descreve a cena:
“Ele disse: ‘eu tenho essa droga e quero te injetar com ela, e vou te vigiar’. Ele queria testar a heroína em mim, me usar de cobaia. Naturalmente, eu topei a tarefa. Mas assim que ele me injetou, eu sabia que algo estava muito errado. Eu gritei, ‘Estou caindo muito rápido. Eu estou caindo. Me ajuda!’ Então Jean me deu uma dose de cocaína pra me tirar daquilo.
Nenhum de nós sabíamos na época que Janis sofreria overdose da mesma heroína. Jean deixou a heroína comigo, mas era tão forte que eu não aguentava, então dei pro meu amigo viciado Gram Parsons. Eu não vendi pro Gram nem nada. só não queria aquilo na mão. Mas aí o cara com o Gram teve overdose, então tivemos que chamar nosso amigo Chuck Wein pra trazer o cara de volta à vida. Naquela mesma noite, Janis morreu por volta de duas da manhã.”
Queda?
Mesmo assim, existe quem duvide disso tudo. Peggy Casaerta, amiga de Janis que chegou à cena da morte logo após a polícia, escreveu no livro “I Ran Into Some Trouble” sua suspeita de uma queda ter sido a causa real, argumentando:
“Eu vi o pé dela pra fora da cama. Ela estava deitada com um maço de cigarro numa mão e troco na outra. Por anos isso me incomodou. Como ela teria sofrido uma overdose, ido ao saguão e voltado [ao seu quarto, com cigarros comprados na máquina]? Eu já tive overdose, e você desaba no chão que nem como encontraram Philip Seymour Hoffman. Eu deixei estar por anos, mas sempre pensei, ‘Algo está errado aqui.’”
Casaerta teoriza que a cantora teria caído por causa de uma sandália de salto alto extremamente fino.
Contudo, as evidências não corroboram essa hipótese. Segundo a biografia “Buried Alive: The Biography of Janis Joplin”, a autópsia apontou morte por overdose de heroína, com álcool servindo de agravante.
A morte de Joplin veio 16 dias após a de Jimi Hendrix, também por causa de heroína. Um ano antes, Brian Jones, guitarrista dos Rolling Stones, foi encontrado morto em sua piscina. Em 1971, Jim Morrison, vocalista do The Doors, morreu em Paris. Quatro figuras essenciais para o desenvolvimento do rock’n’roll e a identidade contracultural dos anos 60 se foram num espaço de dois anos, todas com a mesma idade, 27 anos.
Mas de todas elas, Janis continua sendo a mais trágica, porque é como se ela nunca tivesse chance de sobrevivência pra começo de conversa.
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