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Entrevista: sobrevivente do indie, Circa Waves fala de novo álbum, pandemia e paternidade

Vocalista Kieran Shudall se abre sobre várias preocupações com o mundo atual e ainda demonstra seu lado nerd de produção musical

O Circa Waves é uma espécie ameaçada: a banda indie inglesa. Apesar do subgênero estar em baixa no Reino Unido, em grande parte pela mudança editorial do site (antigamente revista) New Musical Express (NME), o quarteto de Liverpool continua a subir nas paradas a cada novo lançamento. Com o novo álbum, “Never Going Under”, disponibilizado na última sexta-feira (13), a esperança é manter essa ascensão.

Em entrevista para o site, o vocalista do grupo, Kieran Shudall conversou sobre como o Circa Waves não consegue escapar do pensamento de cada disco novo ser a ferramenta capaz de lançar a banda para o estrelato. Ainda assim, o líder e principal compositor aponta que ele e seus colegas tentam encarar cada novo ciclo como uma continuação do trabalho feito ao longo da carreira.

“No que a nossa carreira vai avançando e a gente continua lançando discos, eu simplesmente gosto de fazer música capaz de cativar pessoas. Tento não pensar numa narrativa maior.”

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É nessa mentalidade pés no chão que vemos os temas abordados em “Never Going Under”. Shudall recentemente se tornou pai pela primeira vez e tal experiência o fez reavaliar sua relação com o mundo. Ele disse:

“Acho que todo mundo tem preocupações gerais sobre coisas como o futuro, mudança climática, ‘será que passamos tempo demais olhando para o celular’, mídias sociais e tudo isso. E acho que ao ter um filho, tudo foi multiplicado por dez. Eu fico pensando: ‘o futuro é dele’. E ele vai mais além do que eu nesse futuro, espero. E será um lugar meio assustador. Mídias sociais são algo um tanto tóxico, pelo menos sinto que é para mim. Então me preocupo sobre ele participar disso quando for mais velho, como até será quando ele tiver a minha idade. Ter um filho só aumenta suas preocupações.”

Essas preocupações são refletidas não só nas letras, mas na música também. “Never Going Under” é um disco sonicamente mais enxuto, com arranjos cheios de guitarras angulares e baixo nervoso. Shudall atribui a isso o papel proeminente da bateria na mixagem.

“O som da bateria em ‘Do You Wanna Talk’, ‘Hell on Earth’ e outras canções do disco é muito maior e mais direto, então acaba ocupando tanto espaço e é tão bom que dá para ir tirando camadas de guitarra, dando espaço para os vocais respirarem. É tudo sobre produção. Eu adoro começar com… se eu encontro um ritmo interessante, ou um som, isso pode acabar ditando o álbum inteiro. E foi isso que aconteceu com ‘Hell on Earth’. Eu escrevi a canção e o jeito que ela soava, a sensação, era como queria continuar pro resto do disco.

O vocalista não é tímido em assumir roubar de outros produtores, citando Tame Impala, Jack Antonoff, Ariel Rechtshaid e Greg Kurstin como fontes constantes de inspiração.

O papel da imprensa musical forte

Nessa conversa sobre inspirações, Kieran Shuddal ainda aproveitou para falar sobre a importância da imprensa musical forte numa cultura e o papel do NME no estabelecimento do Circa Waves na cena inglesa

“Nós tivemos sorte de surgir quando o NME ainda era uma força cultural. Recebemos muita cobertura do NME e milhares de pessoas liam a revista. Tivemos sorte de poder construir uma estrutura antes do NME parar de funcionar como antes. Fomos alguns dos últimos sortudos e ganhamos um contrato bom de gravadora. Ganhamos dinheiro suficiente para fazer turnê pelo mundo. Hoje em dia, contratos são bem mais magros, tem bem menos dinheiro para sair na estrada. E agora não tem lugares assim, então onde que pessoas descobrem música? Onde as bandas ficam conhecidas? Artistas criam músicas e ficam de dedos cruzados para ela entrar numa playlist.”

Ao final, ele resume o ponto da seguinte maneira:

“Não tem muitas alternativas para música alternativa. E se garotos e garotas não têm a oportunidade de ver bandas de rock’n’roll, não vão formar uma.”

Problemas pós-pandemia

Apesar disso tudo, o Circa Waves continua indo adiante, enfrentando até o problema atual enfrentado por artistas na hora de sair em turnê. Kieran Shudall disse:

“Costumava ser caro sair em turnê, agora está mais caro ainda. Tudo subiu pelo menos 30% o custo. Ônibus, hoteis, agora tem a questão dos vistos para a Europa (nota ed.: com a saída do Reino Unido da União Europeia, artistas britânicos não tem mais passagem livre pelo continente). Nós temos sorte de ter construído uma estrutura, uma base de fãs que compram ingressos.”

Quanto à possibilidade de uma turnê do Circa Waves vir ao Brasil, o vocalista diz que fica a cargo de festivais interessados em trazê-los. Porém, ele fez questão de deixar seu interesse claro, afirmando ainda ter passado a infância inteira vestindo uma camisa da seleção brasileira. Fica a dica, Medina!

Ouça “Never Going Under” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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