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Crítica: “Noite Infeliz” encerra jejum de 32 anos como clássico natalino de ação

Carismático filme de ação cômica apresenta David Harbour como Papai Noel de saco cheio – mas não de presentes

Famoso por seu policial repleto de coração em “Stranger Things”, o carismático David Harbour é hoje sinônimo de sucesso. Ainda mais se escalado para viver um Papai Noel totalmente incorreto, bêbado e sujo, como em “Noite Infeliz”.

Ao encerrar um jejum do cinema mundial de 32 anos desde “Duro de Matar 2”, o longa de ação natalina acerta e muito. Há cenas de combate corporal ao melhor estilo “John Wick”, pitadas de violência extrema e gráfica e comédia altamente refinada e certeira no timing. E tudo isso de forma original.

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“Noite Infeliz” para quem?

“Noite Infeliz” apresenta um Papai Noel de saco cheio – e não de presentes. Com crianças cada vez mais egoístas e sem brilho, apenas pedindo dinheiro e videogames, o Noel de David Harbour encontra-se impaciente e sem fé. Quer apenas encher a cara, comer biscoitos e terminar logo o serviço para descansar.

Porém, ao entrar em uma rica chaminé, ele se depara com um bando de assaltantes fortemente armados fazendo uma família como refém. Ele até tenta fugir dessa encrenca, mas quando mais se esforça para fazer isso, mais ele se vê dentro dela.

Após ver de uma janela o medo na pequena e sonhadora Trudy (Leah Brady), ele entende que a missão dele é salvar aquela rica família. Péssima notícia para os sequestradores, uma vez que este errático Noel é um bravo e lendário guerreiro sanguinário.

Uma nova ação

Os passos seguidos por “Noite Infeliz” são os mesmos de uma nova modalidade do gênero de ação, estabelecida em 2014 com o primeiro “John Wick”. É um tipo de filme que troca as explosões megalomaníacas por belas, criativas e sanguinárias lutas corporais – ou tiros à queima roupa. Tudo isso dentro de um roteiro que visa contar uma história com leve ou média complexidade. Quase uma “gourmetizAÇÃO”.

A associação não é por acaso: a produção é assinada pelos mesmos responsáveis de “John Wick” e “Deadpool 2”. Por isso, há primor ao saber dosar com maestria o novo conceito de ação junto de uma comédia extremamente refinada e correta, que surge na hora que precisa aparecer.

A diferença, aqui, está ao flertar com o gore, diferentemente de outras obras do gênero. O grafismo da violência neste longa é brutal, diferente do clima mais policial ou profissional de “John Wick”. Méritos para o estranho diretor Tommy Wirkola, que faz aqui seu melhor trabalho como cineasta – o que também não é muito difícil, depois de dirigir “João e Maria: Caçadores de Bruxa” e o até que um pouco acima da média “Onde Está Segunda”.

Um grande mérito está na forma de homenagear tanto o clima natalino moderno quanto também o maior clássico deste período: “Esqueceram de Mim”, que além de citado no filme, claramente inspira alguns ótimos momentos. Outro acerto esteve em conseguir dirigir toda a história em apenas um grande ambiente, também é de se tirar o chapéu. É uma mansão bilionária, mas parece que estamos em um local bem mais amplo. Fora que tudo é muito crível, mesmo diante de um… Papai Noel.

Roteiro certeiro

O roteiro de “Noite Infeliz” é assinado por Pat Casey e Josh Miller, os mesmos responsáveis por “Sonic”. Aqui, eles brilham muito. O roteiro está amarrado e tem sua direção definida. Cada personagem é bem construído – a cena inicial de apresentação é uma das melhores que vi em anos.

As motivações são críveis, as ambições da família rica têm fundamento e as atitudes que cada um toma são plausíveis. As questões envolvendo o Natal, crianças, desejos, presentes e até mesmo os adultos que já não creem no bom velhinho também são desenvolvidas com maestria.

David Harbour, por sua vez, se sobressai não só pelo carisma, mas pela violência que consegue imprimir em tela. Seus tempos cômicos e suas claras improvisações oferecem uma deliciosa imersão na ideia de um Papai Noel errático. O elenco coadjuvante é impecável no que se propõe; nele, destaca-se o vilão Sr. Scrooge, interpretado pelo sempre extraordinário John Leguizamo (“Spawn”).

Um futuro clássico

Filmes clássicos de Natal sempre são um achado, mas em outros gêneros. Entre as obras de ação, ficamos estacionados em 1990 com “Duro de Matar 2”.

Muitos longas do gênero no passado são retratados na época natalina (mesmo que não lançados em novembro ou dezembro), mas apenas em ambientação dramática. Um exemplo claro é “Rambo: Programado Para Matar”: lançada na primeira semana de novembro de 1982, a obra se passa durante o Natal, mas apenas para oferecer um clima, sem entrar no enredo.

Já em “Duro de Matar” e “Duro de Matar 2”, que não saíram em período natalino, o feriado faz parte do enredo. Se tirar a festividade desses longas, é como tirar um dos personagens principais – diferentemente de “Rambo”, “Batman: O Retorno” (1992) ou “Máquina Mortífera” (1987), onde há histórias pela frente.

Dessa forma, “Noite Infeliz” quebra um jejum de 32 anos desde “Duro de Matar 2”. Desde então, não tivemos mais um filme de ação genuinamente natalino onde o período em questão fosse como um personagem. Das lutas bem-feitas à comédia certeira, passando pelo carisma capaz de amolecer até mesmo um Grinch, felizmente a espera por uma obra do tipo acabou.

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Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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