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A receita vitoriosa do Ugly Kid Joe em “America’s Least Wanted”

Embora tenha sido gravado em apenas dois meses e detonado pela crítica, álbum de estreia dos californianos caiu nas graças do público

Quando pintou no mainstream no comecinho da década de 1990, o Ugly Kid Joe se autodenominava “um bando de idiotas metidos a besta de Santa Bárbara, Califórnia”.

Quis o destino que tais sujeitos representados por um mascote politicamente incorreto caíssem nas graças de um público que, mesmo não iniciado em rock ou metal, achava o maior barato a estética zoeira do quinteto.

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Embora por diversos fatores não tenha conseguido se manter em alta por muito mais tempo — chegando até a ficar treze anos fora de atividade —, o grupo, quando na crista da onda, fez o que lhe bastou para que o nome ficasse para a posteridade.

O primeiro EP de platina

Whitfield Crane e Klaus Eichstadt se conheceram muito antes de, um vocalista e outro guitarrista, estarem na banda que passaria a atender por Ugly Kid Joe no final dos anos 1980.

Na esteira de mudanças de nome — primeiro veio Overdrive, depois Suburban White Alcoholic Trash, até a adoção em caráter definitivo daquele que satiriza o grupo glam Pretty Boy Floyd — e na formação, o grupo foi contratado pela Mercury Records e começou a acontecer logo com seu EP de estreia.

Lançado em 8 de outubro de 1991, “As Ugly As They Wanna Be” apresentou ao mundo um rock que, a exemplo do moleque feioso ilustrado na capa, dá o dedo do meio para rótulos, convenções e posturas. Aqui, eles misturam timbres do heavy tradicional — vide o cover de “Sweet Leaf”, do Black Sabbath — com atitude e visual do metal alternativo e um humor mordaz nas letras.

É de “As Ugly As They Wanna Be” o hit “Everything About You”, cuja inclusão na trilha sonora do longa “Quanto Mais Idiota Melhor” (1992) fez as vendas dispararem, rendendo ao grupo uma marca histórica: é dele o primeiro EP a ganhar disco de platina nos Estados Unidos.

Comprovado o potencial comercial, a gravadora logo pôs os cinco em estúdio para gravar seu álbum de estreia.

Singles em lugares altos nas paradas

Dois meses foi o tempo que o Ugly Kid Joe levou para gravar “America’s Least Wanted”. A pressa tinha um motivo nobre: a possibilidade de cair na estrada como banda de abertura da turnê de “No More Tears”, denominada “No More Tours”, de um Ozzy Osbourne que à época cogitava a aposentadoria.

Nesse ínterim, Roger Lahr disse “adeus”. Dave Fortman, do Sugartooth, foi trazido para assumir a segunda guitarra.

Das treze faixas que compõem o repertório do disco, sete foram lançadas como single. Entre elas, duas oriundas de “As Ugly As They Wanna Be” com um toque a mais: “Madman” — repare como é igualzinha a “Backwoods” do Red Hot Chili Peppers — com vocais regravados e a supracitada “Everything About You”, que no álbum ganhou nova introdução falada e despontou rumo ao nono lugar.

Mas apesar de ser a música mais popular do Ugly Kid Joe, não foi ela a que chegou mais alto nas paradas. Essa distinção pertence a um cover.

Escrita pelo bastião do folk Harry Chapin e originalmente lançada em seu álbum “Verities & Balderdash” (1974), “Cats in the Cradle” destoa do sarcasmo que impera em “America’s Least Wanted” ao narrar a história de um pai e um filho que não conseguem encontrar tempo para estar um com o outro. A ideia de gravá-la partiu de Whitfield Crane, já que essa era uma de suas músicas favoritas na infância.

Resultado? Sexta posição na parada da Billboard.

Críticas e reflexivas à sua maneira, “Busy Bee” e “Neighbor” — essa com um empurrãozinho do desenho “Beavis and Butt-head” — também se saíram bem. Já de “Goddamn Devil”, que traz participação de Rob Halford, à época fora do Judas Priest, pouca gente se lembra. Talvez porque não haja mesmo motivo para isso.

Metal? Rock alternativo, por favor!

Encerrada a turnê com Ozzy, o Ugly Kid Joe foi levado a Europa onde abriu shows do Def Leppard que divulgava seu mais recente trabalho, “Adrenalize” (1992).

Numa pausa entre datas, o grupo voou de volta para os Estados Unidos para participar do Video Music Awards da MTV e testemunhar a consagração do Nirvana em razão do sucesso do clipe de “Smells Like Teen Spirit”. Isso teve impacto na estratégia da Mercury.

Com o metal perdendo espaço e mídia para o grunge, rolou um esforço do departamento de marketing da gravadora para vender o Ugly Kid Joe como rock alternativo. O primeiro giro da nova fase traria como convidadas as bandas Dog Eat Dog e Goldfinger.

Musicalmente, o sucessor de “America’s Least Wanted” — a saber, “Menace to Sobriety” (1994) — exibiria com ainda mais vigor a faceta alternativa do grupo.

Por que chora, caro crítico?

“America’s Least Wanted” chegou às lojas no dia 8 de setembro de 1992 causando controvérsia devido à capa, retratada abaixo.

Para driblar as ameaças de boicote a arte que trazia o mascote da banda como a Estátua da Liberdade gesticulando com o dedo do meio erguido e com uma revista pornô no lugar da tábua na qual está escrito o Dia da Independência dos Estados Unidos, uma versão censurada foi lançada. Nela, o mascote aparece amordaçado, com uma mão coberta com fita adesiva, amarrado com uma corda e com as pernas acorrentadas.

Se o público curtiu e comprou o LP a ponto de levá-lo ao número 27 das paradas e, mais para frente, fazendo-o ganhar disco de platina duplo, parte dos críticos não sacou ou aprovou a galhofa e, como resultado, algumas resenhas não foram nada favoráveis.

Como rebater isso? Vencendo votações populares em duas das maiores revistas especializadas no país, como a Raw e a Metal Edge. Quanto ao American Music Awards, o Ugly Kid Joe ficou só na indicação mesmo. Afinal, como derrubar o colosso chamado Pearl Jam em pleno 1993?

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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