Os últimos anos e a morte de Joe Strummer, eterno líder do The Clash

Depois de "anos selvagens", músico ensaiou ressurgimento ao lado do The Mescaleros, mas retomada foi bruscamente interrompida

Depois que o The Clash encerrou as atividades, em 1985, Joe Strummer ficou diferente. O artista que nos deixou em 22 de dezembro de 2002, aos 50 anos de idade, pareceu ter passado por uma mudança gradativa, mas significativa naqueles tempos.

A fúria dos vocais e letras da banda que deu fama a Strummer deu lugar a um outro tipo de arte, mais próxima do cinema, mas sem abandonar a música. No fim da vida, ele já havia se tornado um artista completamente diferente.

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A segunda metade dos anos 1980 viu o músico se aventurar entre trilhas sonoras e a atuação. Ele também integrou em períodos distintos a banda The Pogues, que tinha em sua sonoridade um toque de folk irlandês, unido ao punk rock.

Dos tempos de The Clash, o único elo permaneceu sendo uma amizade com Mick Jones, tendo inclusive produzido o segundo álbum do Big Audio Dynamite, banda do guitarrista.

Tal fase, que durou até algum momento dos anos 1990, era chamada pelo próprio Joe Strummer de “anos selvagens”. Foi uma época instável. Seu único esforço solo, “Earthquake Weather” (1989), feito com a banda Latino Rockabilly War, foi um fracasso de vendas e o fez perder o contrato com a gravadora Sony.

Strummer passaria também boa parte dos “anos selvagens” em uma briga judicial com outro selo, a Epic Records. A disputa incluía direitos pela obra do The Clash e provavelmente colaborou para a erraticidade do vocalista. O período terminaria com a formação do The Mescaleros.

Os últimos anos e o “novo” Joe Strummer

Em algum momento da segunda metade da década de 1990, Strummer começou a trabalhar com a banda que recebeu o nome de The Mescaleros. O primeiro fruto da parceria saiu em 1999, com o título de “Rock Art and the X-Ray Style”, um álbum que reunia reggae, um pouco de world music e uma sonoridade mais crua e primitiva até do que alguns momentos do The Clash.

Se o som era diferente, Joe Strummer também se mostrava outro sujeito. Uma matéria da Classic Rock resgatou uma entrevista de 1999 onde o frontman é comparado a um “Bob Dylan ou Johnny Cash britânico”. A mudança é notória em uma reflexão feita por ele na entrevista a respeito da carreira de rockstar e da possibilidade do The Clash ter continuado na ativa.

“Eu não sei se teria conseguido. Uma das razões pelas quais o The Clash terminou era porque vimos como o The Who estava no fim de sua união. Era uma cena ruim. Você rapidamente se torna nada. Eu aproveitei minha vida porque tive que lidar com todos os tipos de coisas, das falhas ao sucesso, até as falhas de novo. Isso me tornou uma pessoa melhor. Não acho que faça sentido ser famoso se você é um babaca, ou se você perde a coisa sobre ser um ser humano. Porque você não vai ser feliz vivendo em alguma mansão em algum lugar.”

O momento de reflexão coincidiu com um ressurgimento. Com o The Mescaleros, Strummer lançaria ainda um segundo álbum, mais aclamado do que o primeiro, chamado “Global a Go-Go” (2001).

Seria o responsável por um renascimento midiático. Joe Strummer voltou a grandes festivais e até mesmo um documentário sobre a nova banda começou a ser rodado, em uma parceria com Alex Cox, um dos vários contatos do músico na indústria do cinema.

Infelizmente, essa situação durou pouco.

A morte e o legado de Joe Strummer

Em novembro de 2002, durante um show do The Mescaleros, Mick Jones subiu ao palco para tocar algumas músicas. Foi o mais perto de uma reunião que esteve o The Clash, banda que havia recusado uma oferta milionária para tocar no Lollapalooza em 1994.

Semanas depois, qualquer possibilidade de reunião acabaria em definitivo. Joe Strummer morreu em sua casa, em Somerset, Inglaterra, no dia 22 de dezembro.

Ele, que tinha 50 anos, sofreu um ataque cardíaco, resultado de uma doença congênita no coração que o músico desconhecia. Seus bens, estimados em pouco menos de 1 milhão de libras, foram deixados para a viúva, Lucinda Tait.

A morte do artista em um momento de nova alta na carreira fez com que só então seu legado fosse notado pelos contemporâneos. Hoje fala-se em Joe como um gênio do rock, mas isso certamente seria contestado meses antes de sua morte, ou pior: provavelmente nem seria cogitado. A importância dele, como não é raro, só foi mensurada depois que o próprio já não estava aqui.

Em 2003, a obra de Strummer foi celebrada com tributos e shows – com direito a uma execução da clássica “London Calling” por nomes como Elvis Costello, Bruce Springsteen, Steven Van Zandt, Dave Grohl, Pete Thomas e outros na cerimônia do Grammy. No mesmo ano, o The Clash foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame.

O The Mescaleros continuou lançando trabalhos póstumos e muito material de Strummer foi lançado ao longo dos anos, até hoje. Descobriu-se que o músico era uma espécie de arquivista de seu próprio trabalho, mantendo guardadas diversas sessões e músicas inacabadas, ideias e projetos.

O legado de Joe Strummer e do The Clash é ainda mais vasto do que se imaginava – e continua a ser descoberto até hoje, mesmo por quem conviveu e trabalhou com ele.

*Foto: Joe Kerrigan / CC BY-2.0

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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