Em 1970, o Brasil recebeu uma das primeiras visitas de um dos grandes nomes do rock, mas não para shows. Em circunstâncias diferentes do usual, Janis Joplin passou um verão no Rio de Janeiro apenas 8 meses antes de sua morte.
A viagem marcou a vida da cantora de forma bem positiva. Claro, rolaram alguns “perrengues”, mas o saldo foi bastante satisfatório para a artista.
Após o sucesso de seus dois primeiros álbuns com o Big Brother and the Holding Company, Janis seguiu em carreira solo e gravou o disco “I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama!” (1969). Porém, além de não repetir o sucesso dos anteriores, ela também lidava com o vício em heroína e precisava passar um tempo longe de Los Angeles para se desintoxicar.
O local escolhido para essas “férias detox” foi o Rio de Janeiro. Janis havia assistido ao filme “Orfeu Negro” (1959), sobre o Carnaval carioca sendo narrado sob a perspectiva da favela, e amou o que viu.
Inspirada pelo longa, ela embarcou junto com sua estilista, Linda Gravenites, e chegou ao Brasil na sexta-feira logo antes do Carnaval de 1970.
Janis Joplin no Rio de Janeiro
A aventura no Rio de Janeiro é narrada em detalhes no livro biográfico “Joplin – Sua Vida, Sua Música”, escrito pela jornalista Holly George Warren. Segundo a obra, a cantora e sua estilista se hospedaram no Copacabana Palace e buscavam não fazer alarde, mas a personalidade da artista tornava bem difícil sua missão dela de passar despercebida.
Começou pelo hotel: Janis não demorou a ser expulsa por insistir em ficar sem roupa nenhuma na piscina. Fora dos domínios do Copacabana Palace, também chamou atenção por fazer topless na praia de Copacabana.
A artista ficou desolada enquanto andava pelas areias cariocas sem saber para onde ir. Felizmente, foi “resgatada” por uma funcionária do hotel cujo namorado trabalhava para a revista Rolling Stone na época.
Dessa forma, Janis e Linda ficaram então hospedadas na casa dos novos amigos brasileiros. Lá, tiveram mais liberdade do que nunca: a cantora estava se desintoxicando da heroína, mas consumia álcool em quantidades dionisíacas. Ainda assim, seguia quase sempre de bom humor e curtia muito a viagem.
Quando a notícia de sua presença no Rio se espalhou, ela voltou ao Copacabana Palace para uma coletiva improvisada. De lá, foi convidada para um baile no Theatro Municipal – onde foi impedida de entrar no camarote – e viu o desfile das escolas de samba em local privilegiado. Tentou até organizar um festival “pós-Carnaval”, contudo, em tempos de ditadura militar, foi impedida pelas autoridades.
E o Serguei?
Janis Joplin só ficava à vontade mesmo nos botequins cariocas, onde se divertiu bastante e conheceu algumas personalidades. Acompanhada de Serguei, Alcione e Tony Tornado, fez uma breve apresentação em uma boate local, cantando “Summertime” a capella no meio de um show do também saudoso “Divino do Rock”. Foi muito aplaudida pelo nada seleto público local, em história confirmada por Alcione para a revista Veja.
Infelizmente, não há registro da “lenda” mais famosa da visita de Janis ao Brasil: o romance dela com Serguei. O cantor afirmou até o fim de sua vida que os dois viveram uma linda história de amor no tempo em que ela passou por aqui. A biógrafa da artista acredita que os dois realmente tenham ficado por um tempo e lamenta não ter tido a chance de entrevistá-lo para o livro.
No entanto, Serguei não foi o único. Joplin viveu um romance confirmado no Brasil com o americano David Niehaus, que conheceu nas areias de Copacabana. Os dois fizeram uma viagem de moto de cinco dias até a Bahia onde chegaram a sofrer um acidente relativamente sério, com a cantora ficando desacordada e tendo que receber atendimento médico.
O impacto do Brasil em Janis Joplin
De volta aos Estados Unidos, pouco antes de morrer em uma overdose acidental, Janis Joplin se mostrou profundamente impactada pelo tempo que passou no Brasil. Passou a adotar penas no cabelo e outras pequenas referências visuais ao Brasil. Além disso, tatuou no pulso uma réplica de uma pulseira que havia comprado em Salvador, na viagem com Niehaus.
Há quem diga que a presença de palco de Janis em seus últimos meses trazia muito do “gingado” brasileiro, que ela tanto amou ao ver as escolas de samba. Certamente ela voltaria ao país se houvesse tempo para isso – ela faleceu em outubro daquele ano, com apenas 27 anos de idade.
* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.
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O Serguei viveu disso a vida toda hahaha