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Como nasceu “El Camino”, o álbum que transformou o Black Keys em superastros

Nova parceria com o produtor Danger Mouse levou a banda de Dan Auerbach e Patrick Carney a outro nível

A subida de patamar do Black Keys começou com “Brothers” (2010), mas foi em “El Camino”, lançado em 6 de dezembro do ano seguinte, que a banda sacramentou seu lugar entre os grandes da sua época. Para isso, o duo formado por Dan Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria) contou novamente com a importante ajuda do produtor Danger Mouse.

O sucesso demorou um pouco mais do que o normal para chegar ao Black Keys. Em 2011, a banda já somava dez anos de estrada, com 6 discos de estúdio na bagagem. Em entrevista ao jornal The Guardian, na época deste trabalho, Patrick Carney fez uma metáfora para explicar como foi estranho “estourar” tanto tempo depois do começo.

“É uma coisa estranha para acontecer quando você tem 10 anos de carreira. Tem sido tão gradual que você não nota. Um dia você olha e seu público tem 65 mil pessoas. É como olhar no espelho um dia e perceber que você ficou grisalho.”

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No entanto, é possível que essa maturidade já existente na época do “estouro” seja justamente o que tornou “El Camino” tão especial. Mais do que um bom momento da discografia da banda, o álbum resume tudo aquilo que o Black Keys tentou mostrar em termos sonoros ao longo da carreira até então.

El Camino: adaptando as necessidades

Em um sinal de que não estavam acomodados, Dan Auerbach e Patrick Carney fizeram questão de que “El Camino” fosse um álbum bem diferente de “Brothers”. Isso também aconteceu por conta de uma necessidade, mas colaborou para a criação de um disco único, com músicas mais rápidas e influências mais variadas do que o normal.

Com “Brothers”, os músicos tinham problemas em adaptar as canções mais lentas para os shows. Para evitar isso, o novo álbum seria focado em um ritmo um pouco mais rápido, pensado para os palcos.

No entanto, nada de se apegar a pequenos detalhes. A banda sequer usou o geralmente indispensável metrônomo nas gravações, deixando o som o mais orgânico possível.

O único espaço para detalhes ficou por conta das melodias, que foram o foco do trabalho. Para se ter ideia, a parte melódica foi criada toda ao vivo e de forma inicial – só depois as letras eram escritas. Dan Auerbach explicou em entrevista à American Songwriter, em 2012, os aspectos que mais captaram a atenção da banda durante a produção do disco.

“Estávamos entrando nas nuances de cada música ao nos perguntarmos: ‘O quão longa deve ser essa intro? O quão longo deve ser o pré-refrão? Deve haver um pré-refrão?’”

Ao todo, “El Camino” levou 41 dias para ser concluído. Pode parecer pouco, mas segue até hoje como o álbum do Black Keys que tomou mais tempo para ser feito.

Além do método diferenciado, esse trabalho tem como diferencial um terceiro elemento, que já era conhecido, mas que participou deste trabalho de forma muito mais direta: o produtor Danger Mouse.

Black Keys + Danger Mouse

Black Keys e Danger Mouse já se conheciam bem quando chegou a época de fazer “El Camino”. O produtor, cujo nome real é Brian Burton, trabalhou com a banda em “Attack & Release” (2008) e “Brothers”, sendo chamado de volta para sua terceira parceria com Auerbach e Carney.

Desta vez, porém, tudo foi mais intenso. Danger Mouse tem um background musical muito variado e alternativo, indo de Gorillaz a Beck, mas aqui ele trouxe algo ainda diferente, mesmo para os seus padrões: assinou a composição de todas as músicas junto do duo, o que lhe permitiu injetar uma boa dose do seu DNA.

The Clash, T. Rex, The Cars e outros grandes nomes dos anos 70 e 80 foram de grande importância na forma como “El Camino” soa. O talento de Danger Mouse se reflete não só em adaptar tudo isso, como também por colocar seu próprio “tempero”.

Em entrevista ao Chicago Tribune, Dan Auerbach revelou que nem sempre o trio estava nos melhores termos em relação a qual direção musical tomar. O processo demandou humildade e adaptabilidade da banda.

“Era difícil às vezes. Em alguns dias, funcionava de forma ótima. Em outros dias, dava raiva. Você precisa perder qualquer tipo de insegurança. Era uma forma totalmente diferente de pensar para mim.”

Dentro do objetivo que o Black Keys tinha de soar menos “blues” e mais versátil do que no álbum anterior, indo de soul a rockabilly, a colaboração de Danger Mouse foi essencial. A prova do sucesso da parceria seria o retorno do produtor para mais um trabalho, “Turn Blue” (2014), que sucedeu “El Camino”.

Enfim, o sucesso

A nova abordagem foi muito bem-sucedida. “El Camino”, enfim, fez o Black Keys se firmar como um grande nome do rock.

O álbum atingiu o top 10 nas paradas de nove países, com destaque para o segundo lugar nos Estados Unidos e Nova Zelândia. Foram 2 milhões de cópias vendidas na terra do Tio Sam, com boas vendagens também no Canadá, Reino Unido, Austrália e França.

Além do sucesso comercial, a crítica especializada se rendeu à dupla. O disco venceu o Grammy como Melhor Álbum de Rock em 2013, enquanto o single “Lonely Boy” também ganhou como Melhor Canção de Rock e Melhor Performance de Rock.

“Lonely Boy”, aliás, foi o grande hit do trabalho. O compacto recebeu certificação de platina nos Estados Unidos e no Canadá, além de 3x platina na Austrália e ouro no Reino Unido. “Gold on the Ceiling” obteve sucesso similar, especialmente na América. “Dead and Gone” (na Europa) e “Little Black Submarines” também foram divulgadas como singles.

Curiosamente, chama ainda mais atenção que o Black Keys não tenha conseguido repetir o sucesso conquistado uma década atrás. “Turn Blue”, lançado três anos depois, nem de longe conseguiu repetir as vendas e a repercussão do antecessor. Há quem diga que tenha sido o álbum errado na hora errada, visto que suas músicas exploram influências da psicodelia e soam bem menos acessíveis.

De forma cíclica, a carreira da dupla voltou a reverenciar seus primeiros trabalhos com “Let’s Rock” (2019) e “Delta Kream” (2021), este último composto só por covers de blues. São bons trabalhos, mas não dá para negar: “El Camino” segue como peça rara na discografia do grupo.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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A subida de patamar do Black Keys começou com “Brothers” (2010), mas foi em “El Camino”, lançado em 6 de dezembro do ano seguinte, que a banda sacramentou seu lugar entre os grandes da sua época. Para isso, o duo formado por Dan Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria) contou novamente com a importante ajuda do produtor Danger Mouse.

O sucesso demorou um pouco mais do que o normal para chegar ao Black Keys. Em 2011, a banda já somava dez anos de estrada, com 6 discos de estúdio na bagagem. Em entrevista ao jornal The Guardian, na época deste trabalho, Patrick Carney fez uma metáfora para explicar como foi estranho “estourar” tanto tempo depois do começo.

“É uma coisa estranha para acontecer quando você tem 10 anos de carreira. Tem sido tão gradual que você não nota. Um dia você olha e seu público tem 65 mil pessoas. É como olhar no espelho um dia e perceber que você ficou grisalho.”

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No entanto, é possível que essa maturidade já existente na época do “estouro” seja justamente o que tornou “El Camino” tão especial. Mais do que um bom momento da discografia da banda, o álbum resume tudo aquilo que o Black Keys tentou mostrar em termos sonoros ao longo da carreira até então.

El Camino: adaptando as necessidades

Em um sinal de que não estavam acomodados, Dan Auerbach e Patrick Carney fizeram questão de que “El Camino” fosse um álbum bem diferente de “Brothers”. Isso também aconteceu por conta de uma necessidade, mas colaborou para a criação de um disco único, com músicas mais rápidas e influências mais variadas do que o normal.

Com “Brothers”, os músicos tinham problemas em adaptar as canções mais lentas para os shows. Para evitar isso, o novo álbum seria focado em um ritmo um pouco mais rápido, pensado para os palcos.

No entanto, nada de se apegar a pequenos detalhes. A banda sequer usou o geralmente indispensável metrônomo nas gravações, deixando o som o mais orgânico possível.

O único espaço para detalhes ficou por conta das melodias, que foram o foco do trabalho. Para se ter ideia, a parte melódica foi criada toda ao vivo e de forma inicial – só depois as letras eram escritas. Dan Auerbach explicou em entrevista à American Songwriter, em 2012, os aspectos que mais captaram a atenção da banda durante a produção do disco.

“Estávamos entrando nas nuances de cada música ao nos perguntarmos: ‘O quão longa deve ser essa intro? O quão longo deve ser o pré-refrão? Deve haver um pré-refrão?’”

Ao todo, “El Camino” levou 41 dias para ser concluído. Pode parecer pouco, mas segue até hoje como o álbum do Black Keys que tomou mais tempo para ser feito.

Além do método diferenciado, esse trabalho tem como diferencial um terceiro elemento, que já era conhecido, mas que participou deste trabalho de forma muito mais direta: o produtor Danger Mouse.

Black Keys + Danger Mouse

Black Keys e Danger Mouse já se conheciam bem quando chegou a época de fazer “El Camino”. O produtor, cujo nome real é Brian Burton, trabalhou com a banda em “Attack & Release” (2008) e “Brothers”, sendo chamado de volta para sua terceira parceria com Auerbach e Carney.

Desta vez, porém, tudo foi mais intenso. Danger Mouse tem um background musical muito variado e alternativo, indo de Gorillaz a Beck, mas aqui ele trouxe algo ainda diferente, mesmo para os seus padrões: assinou a composição de todas as músicas junto do duo, o que lhe permitiu injetar uma boa dose do seu DNA.

The Clash, T. Rex, The Cars e outros grandes nomes dos anos 70 e 80 foram de grande importância na forma como “El Camino” soa. O talento de Danger Mouse se reflete não só em adaptar tudo isso, como também por colocar seu próprio “tempero”.

Em entrevista ao Chicago Tribune, Dan Auerbach revelou que nem sempre o trio estava nos melhores termos em relação a qual direção musical tomar. O processo demandou humildade e adaptabilidade da banda.

“Era difícil às vezes. Em alguns dias, funcionava de forma ótima. Em outros dias, dava raiva. Você precisa perder qualquer tipo de insegurança. Era uma forma totalmente diferente de pensar para mim.”

Dentro do objetivo que o Black Keys tinha de soar menos “blues” e mais versátil do que no álbum anterior, indo de soul a rockabilly, a colaboração de Danger Mouse foi essencial. A prova do sucesso da parceria seria o retorno do produtor para mais um trabalho, “Turn Blue” (2014), que sucedeu “El Camino”.

Enfim, o sucesso

A nova abordagem foi muito bem-sucedida. “El Camino”, enfim, fez o Black Keys se firmar como um grande nome do rock.

O álbum atingiu o top 10 nas paradas de nove países, com destaque para o segundo lugar nos Estados Unidos e Nova Zelândia. Foram 2 milhões de cópias vendidas na terra do Tio Sam, com boas vendagens também no Canadá, Reino Unido, Austrália e França.

Além do sucesso comercial, a crítica especializada se rendeu à dupla. O disco venceu o Grammy como Melhor Álbum de Rock em 2013, enquanto o single “Lonely Boy” também ganhou como Melhor Canção de Rock e Melhor Performance de Rock.

“Lonely Boy”, aliás, foi o grande hit do trabalho. O compacto recebeu certificação de platina nos Estados Unidos e no Canadá, além de 3x platina na Austrália e ouro no Reino Unido. “Gold on the Ceiling” obteve sucesso similar, especialmente na América. “Dead and Gone” (na Europa) e “Little Black Submarines” também foram divulgadas como singles.

Curiosamente, chama ainda mais atenção que o Black Keys não tenha conseguido repetir o sucesso conquistado uma década atrás. “Turn Blue”, lançado três anos depois, nem de longe conseguiu repetir as vendas e a repercussão do antecessor. Há quem diga que tenha sido o álbum errado na hora errada, visto que suas músicas exploram influências da psicodelia e soam bem menos acessíveis.

De forma cíclica, a carreira da dupla voltou a reverenciar seus primeiros trabalhos com “Let’s Rock” (2019) e “Delta Kream” (2021), este último composto só por covers de blues. São bons trabalhos, mas não dá para negar: “El Camino” segue como peça rara na discografia do grupo.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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