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A história de quando Pelé gravou um compacto com Elis Regina

Rei do Futebol aventurou-se com a música em diversas ocasiões; gravação envolvendo a saudosa Pimentinha ocorreu após jogo pela Seleção Brasileira em 1969

Não é segredo nenhum a paixão de Pelé pela música – uma das “áreas” na qual se sente mais à vontade depois do esporte que o tornou famoso.

O Rei do Futebol atua não só como cantor e instrumentista: ele é o compositor de mais de 100 músicas. Duas dessas obras, intituladas “Perdão não tem vez” e “Vexamão”, são lembradas por embalarem um dueto com Elis Regina.

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As faixas foram gravadas e lançadas em 1969 num compacto chamado “Tabelinha”. Como toda a obra musical de Pelé, o material não chega perto de sua qualidade como jogador: nem o peso da voz de Elis Regina consegue engrandecer as canções.

Por outro lado, além de mostrarem a versatilidade de Pelé, as músicas servem como um retrato fiel daquele período da história.

Pelé, o cantor

Não são raras as imagens que mostra Pelé ao violão, tocando e cantando, seja nas concentrações de partidas do Santos ou da Seleção Brasileira. Apesar de não mostrar tanto talento para a coisa, o jogador se esforçava. Fã de Roberto Carlos e amigo de grandes nomes da MPB, ele sempre soube que, no fundo, a música não passaria de um hobby.

O mais próximo que o atleta chegou de se “profissionalizar” na carreira de músico foi quando lançou seu único álbum solo, “Ginga” (2006), em parceria com o maestro e arranjador Ruriá Duprat. A dupla quase gravou um segundo álbum em 2009, com o Rei do Futebol chamando até mesmo Bono (U2) para participar, mas a ideia não seguiu em frente.

Pelé nunca perdeu oportunidades de fazer participações ou aparições públicas envolvendo música, inclusive em filmes (como sua própria cinebiografia, onde compôs toda a trilha sonora) e programas de TV. Chegou a realizar o sonho de cantar ao lado de Roberto Carlos em um especial de fim de ano – mesmo assim, no palco, só um dos dois podia ser chamado de Rei.

https://www.youtube.com/watch?v=wnJGDPzY7AY

A tabelinha com Elis Regina

Em 1969, durante o período das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970 – que renderia o tricampeonato mundial ao Brasil –, Pelé desenvolveu uma amizade com Elis Regina. A Seleção Brasileira ficava concentrada nas proximidades de onde a cantora morava no Rio de Janeiro.

Na época, Elis era casada com Ronaldo Bôscoli, profissional multimídia que também se tornou amigo do Rei do Futebol. O atleta, então, teve a ideia de gravar com Elis.

De início, a cantora recusou, chegando a brincar com a situação inusitada. Ela dizia:

“P**ra, Pelé! Eu nunca quis ser jogador do Santos e você quer concorrer comigo, ser cantor?”

Após certa insistência, os dois se acertaram para gravar duas músicas para o compacto, ambas composições do atleta: as já mencionadas “Perdão não tem vez” e “Vexamão”. As faixas não são lá grandes momentos de genialidade artística, mas talvez devido a amizade, a cantora topou e marcou uma gravação no Teatro da Praia, no Rio de Janeiro, para a noite de um domingo, 31 de agosto de 1969.

O problema era a agenda: neste mesmo dia, à tarde, o Brasil enfrentaria o Paraguai no Maracanã, em um jogo importante, valendo vaga na Copa do Mundo. Nada era certeza – e antes da diversão, Pelé precisava resolver sua situação no campo de futebol.

A vitória

O jogo foi difícil e o Brasil venceu por 1×0, com gol marcado aos 13 minutos do segundo tempo. O autor? Pelé, evidentemente. Porém, o atleta terminou o jogo não só esgotado: ele estava rouco, por ter gritado muito com os colegas da Seleção.

Ainda assim, a gravação rolou. Mesmo estando praticamente afônico após a partida, o atleta cantou com Elis e sua banda.

As faixas são marcadas por diálogos informais entre a dupla. Em “Perdão não tem vez”, a cantora brinca, dizendo que o jogador escreveu a música enquanto estava com dor de cotovelo.

Por sua vez, “Vexamão” entrega o fato de que o próprio Pelé tinha noção de seus talentos como músico – ou da falta deles – com uma letra bem-humorada, cutucando “os puxas” que aplaudiam seu “lalalá” como se fosse bom.

Não era – assim como boa parte do que Pelé fez em sua carreira musical. Ainda assim, as faixas não deixam de ter sua importância. Além do vozeirão sempre arrasador de Elis, a simples presença do Rei do Futebol fez daquilo um momento histórico.

No fim das contas, tem coisa mais brasileira do que o carismático Rei do Futebol empunhando um violão e cantando em sua famosa e monótona voz?

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta e edição geral por Igor Miranda; redação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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