Um show do Pink Floyd pode não parecer um evento exatamente transgressor nos dias de hoje. Contudo, quem presenciou a apresentação do grupo na cidade italiana de Veneza, em 1989, pode ter um ponto de vista um pouco diferente.
Os efeitos do show na cidade foram catastróficos, a ponto de fazer todo o conselho da cidade (o equivalente à câmara dos vereadores) e o prefeito renunciarem.
Cenário
Naquela época, a banda já não contava com o baixista e vocalista Roger Waters. O trabalho mais recente, “A Momentary Lapse of Reason” (1987), trazia o guitarrista e também cantor David Gilmour na liderança criativa – e o grupo vinha bem em popularidade.
Foi com esse disco que o Pink Floyd se tornou, em 1988, a primeira banda de rock a ter sua música executada no espaço. A turnê de divulgação do álbum seguia com a grandeza típica do grupo, com as usuais superproduções.
Pink Floyd em Veneza
Em 1989, surgiu a oportunidade do Pink Floyd realizar um show gratuito em Veneza, a famosa cidade italiana construída sobre as águas. O evento seria gratuito e transmitido para mais de 20 países pela RAI, a TV estatal do país.
Entretanto, os habitantes de Veneza não acharam a ideia nada boa. O temor era justificado: um show de rock em plena Piazza San Marco (praça de São Marcos) poderia danificar as obras de artes e construções no local, algumas datando do século 9.
Muitos pensavam que a praça, símbolo da cidade, pudesse afundar na laguna na qual é sustentada, assim como toda Veneza, por estacas de madeira e pedra. Em contrapartida, a mentalidade das autoridades na época era até bastante progressista, com o conselho municipal dizendo que Veneza deveria aderir aos novos movimentos, como o rock.
A pressão popular teve algum efeito: foi combinado que a banda diminuiria o volume de seu sistema de som de 100 para 60 decibéis. Além disso, toda a estrutura do palco seria montada em uma plataforma flutuante a centenas de metros da praça, onde o público assistira a apresentação.
O show – e o caos
O show em si correu bem, com audiência estimada em 100 milhões de pessoas em toda a Europa através da transmissão pela TV. A plataforma flutuante também funcionou como esperado.
O problema era justamente o público. Após o fim da apresentação, Veneza havia ganhado indesejáveis 300 toneladas de lixo e cerca de 500 metros cúbicos de latas e garrafas vazias, deixadas pelas 200 mil pessoas que acompanharam a performance – para se ter uma ideia, a população de Veneza era de 60 mil habitantes.
A pressão popular dos habitantes, que inicialmente já não eram a favor da apresentação, caiu sobre o então prefeito Antonio Casellati. Foram realizados diversos protestos, em que gritos de “renuncie, renuncie, você transformou Veneza em um banheiro” eram entoados – não sem motivo, já que, além de todo o lixado acumulado, não havia banheiros químicos, obrigando o público a se aliviar em canais, prédios e monumentos históricos da Piazza.
Diante disso, menos de uma semana depois, Casellati e todo o conselho da cidade anunciaram renúncia e um novo governo precisou ser escolhido.
O Pink Floyd seguiu levando sua turnê para outros lugares. Certamente, a banda foi recebida com certa desconfiança por algumas pessoas na Itália em anos seguintes.
Assista ao show completo do Pink Floyd em Veneza:
Eu lembro nas reportagens de tv, que a potência do Som foi tanta que
chegaram a abalar edifícios históricos em Veneza