O Faces foi a primeira grande banda, propriamente dita, da carreira do vocalista Rod Stewart. O grupo foi formado em 1969, logo o Small Faces se dissolver com a saída de seu cantor e guitarrista, Steve Marriott, para formar o Humble Pie.
Stewart já tinha feito vários trabalhos com bandas britânicas e sua própria carreira solo antes disso, embora nada tenha se convertido em álbuns. O destaque veio em 1968, quando gravou o primeiro disco solo de Jeff Beck, ‘Truth’, também participando do seguinte, ‘Beck-Ola’ (1969). Ambos os registros, inclusive, trazem Ronnie Wood – só que no baixo.
A química entre Rod Stewart e Ronnie Wood se consolidou, mesmo, com o Faces, cuja formação era completa por Kenney Jones na bateria, Ian McLagan nos teclados e Ronnie Lane no baixo – os três, egressos do Small Faces. Vale destacar que Wood e McLagan já estavam colaborando com a carreira solo de Stewart, iniciada também em 1969, em paralelo à banda que acabavam de formar.
A trajetória solo de Rod, inclusive, seria algoz do próprio Faces, já que a imagem do vocalista começava a ofuscar a banda como um todo. Como era de se esperar, o grupo chegou ao fim devido às famosas “diferenças criativas” entre o cantor e os demais. O rompimento ocorreu em 1975, sendo que, dois anos antes, Ronnie Lane já havia deixado a formação por, entre outros motivos, não ter recebido mais oportunidades para assumir os vocais, ainda que ocasionalmente.
Deu tempo de lançar quatro álbuns de estúdio: ‘First Step’ (1970), ‘Long Player’ (1971), ‘A Nod Is As Good As a Wink… to a Blind Horse’ (1971) e ‘Ooh La La’ (1973), além do ao vivo ‘Coast to Coast: Overture and Beginners’ (1974). O terceiro foi o trabalho de maior sucesso, chegando ao segundo lugar das paradas do Reino Unido e sexto nos Estados Unidos, onde conquistou disco de ouro. O impulso veio da música ‘Stay With Me’, o grande hit do grupo.
‘Poderia ter sido melhor’
Quem ouve o Faces, entende, logo de cara, que aquela banda poderia ter chegado mais longe. A opinião é compartilhada por Kenney Jones, que, em recente entrevista à Uncut, refletiu sobre o que teria dado errado: os músicos (especialmente Rod Stewart) era “incontroláveis”, a bebida atrapalhava e o trabalho em estúdio era feito sem muito material preparado de forma antecipada.
“Era frustrante chegar no estúdio par agravar, porque sentia que estávamos resolvendo as coisas no meio do caminho. Fazíamos um riff e aí testávamos para ver se funcionava em vez de chegar já com uma música finalizada. Musicalmente, poderíamos ter sido bem melhores se estivéssemos mais sóbrios”, afirmou Jones.
O músico definiu o Faces como “um bando de malucos”. “Billy Gaff, o empresário, era um cara amável. Porém, ele nunca teve uma reunião séria com o Faces, pois sempre estávamos colocando coisas nas nossas cabeças e atirando coisas. Não dava para ele discutir nada conosco. Jamais saberei como ele tomava decisões. Tony Toon era o responsável pela nossa divulgação e o tratávamos da mesma forma”, disse.
Uma situação, em especial, foi contada por Kenney Jones: quando botaram fogo em Tony Toon enquanto estavam bebendo conhaque com Coca-Cola e dançando em um pub. “Tony Toon estava curtindo, então, pegamos aquelas serpentinas e jogamos em cima dele. Estava coberto da cabeça aos pés. Enquanto dançávamos, fui atrás dele, peguei meu isqueiro e acendi as serpentinas. Acenderam como uma vela: whoosh! Depois, só me lembro de Tony correndo e gritando: ‘estou pegando fogo, estou pegando fogo!”, recordou.
Após o Faces
Curiosamente, os integrantes do Faces tiveram, no geral, trajetórias de sucesso após o fim da banda, ainda que em patamares diferentes.
Rod Stewart, como todos sabem, se tornou um cantor bastante famoso. Os primeiros álbuns solo dele dialogavam bastante com o hard rock, mas o artista adotou um estilo mais pop a partir de ‘Blondes Have More Fun’ (1978) e seu mega-hit ‘Do Ya Think I’m Sexy?’. Por ali, seguiu até os dias de hoje.
Ronnie Wood, por sua vez, se juntou aos Rolling Stones no mesmo ano em que o Faces acabou. De lá, não saiu mais. Além disso, envolveu-se com outros projetos, lançou trabalhos solo e gravou com nomes que vão de Bob Dylan a Ringo Starr.
Ian McLagan também seguiu com os Stones, ainda que como músico de apoio, não como integrante oficial. Colaborou tanto em estúdio, como no álbum ‘Some Girls’ (1978), como ao vivo, excursionando entre 1978 e 1981. Ele chegou a ser convidado para o The Who, mas como já havia se comprometido com os Stones, não rolou – curiosamente, ele estava namorando com a ex-mulher do baterista Keith Moon, com quem ficou casado de 1978 até 2006, quando ela faleceu. Trabalhou, ainda, com nomes do porte de Chuck Berry, Joe Cocker, Bob Dylan, Izzy Stradlin, John Mayer e por aí vai. Faleceu em 2014, aos 69 anos.
O convite feito a McLagan para o The Who ocorreu, justamente, porque Kenney Jones também havia sido chamado para a banda. Neste caso, ele acabou topando e assumiu a vaga deixada por Keith Moon, falecido em 1978. Seguiu com o grupo até seu rompimento, em 1983, sendo convidado para as reuniões de 1985 e 1988. Também tocou com Roger Daltrey, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Wings, Status Quo e por aí vai.
O único integrante original do Faces a não ter uma carreira de tanto sucesso foi Ronnie Lane. Ele deixou a banda em 1973, sendo substituído por Tetsu Yamauchi, e passou a trabalhar em carreira solo, lançando alguns discos, além de ter colaborado com Pete Townshend (The Who) no álbum ‘Rough Mix’. Contudo, em 1977, ele foi diagnosticado com esclerose múltipla e, com o tempo, foi obrigado a deixar de lado uma carreira mais dedicada à música. Morreu em 1997, aos 51 anos.