O vocalista e multi-instrumentista Fabiano Negri, de Campinas (SP), lança, nesta sexta-feira (24), um novo álbum solo. O trabalho, intitulado ‘The Fool’s Path’, chega a público com 10 músicas ao todo.
O material está parcialmente disponível, em formato de EP (4 faixas), nas plataformas de streaming. Para conferir o disco na íntegra, é necessário adquirir uma cópia física ou download pago, que podem ser solicitados pelas redes sociais do artista.
Conhecido por trabalhos prévios com bandas como Rei Lagarto, Dusty Old Fingers e Unsuspected Soul Band, Fabiano Negri apresenta, no conceitual ‘The Fool’s Path’, uma reflexão sobre a nua e crua realidade de ser um artista independente. Trata-se de algo que ele vivencia há 25 anos.
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O músico se define como um “tolo que insistiu 25 anos numa missão praticamente impossível”. Ao mesmo tempo, assume o personagem da carta do tarô, que, em suas palavras, “indica uma guinada na vida, abandonando um caminho para recomeçar de forma diferente, mas sem saber se é certo ou errado”.
Neste álbum, Negri assume guitarra, piano, teclados e produção, além, é claro, dos vocais. Cesar Pinheiro toca a bateria e Ricardo Palma, o baixo, além de acumular funções de mixagem e masterização. A gravação foi feita no Estúdio Minster.
Clique aqui para conferir, em diversas plataformas de streaming, as músicas de ‘The Fool’s Path’ liberadas para a web. Abaixo, o player incorporado do Spotify e, em seguida, resenha sobre o álbum.
‘The Fool’s Path’, um diamante a ser lapidado nas audições
Já faz um bom tempo que parei de avaliar álbuns com notas. A análise de um produto tão complexo como um disco não pode se resumir a uma avaliação numérica. Há tantos elementos que entram em jogo que uma apreciação ao estilo escola de samba, onde vários quesitos são considerados, seria mais justa.
‘The Fool’s Path’ é o típico trabalho que não dá para ser analisado com uma nota. Existem diversos elementos para reflexão – alguns deles transcendem a música. Há êxitos e, sim, erros evidentes, com pesos diferentes.
A proposta artística, em si, é digna de elogios. Fabiano Negri apresenta um álbum bem amarrado, de conceito claro e variações melódicas que acompanham as pontuações das letras, que são bem escritas. A tracklist oferece um “crescendo”, com a segunda metade do disco se sobrepondo à primeira e empolgando mais.
Dá para sentir o cuidado no trabalho instrumental. Negri não é apenas o vocalista: é um guitarrista habilidoso e um tecladista/pianista talentoso. Os músicos que o acompanham também apresentam uma boa performance.
As referências ao hard rock da década de 1970 são evidentes e não dá para negar que a principal influência é Elton John, especialmente em trabalhos como ‘Goodbye Yellow Brick Road’ (1973). Há, também, pitadas de trabalhos clássicos de Alice Cooper e Deep Purple. Todavia, todas essas inspirações são trabalhadas com a naturalidade que um artista experiente pode oferecer.
Da tracklist, há alguns destaques que devem ser citados. ‘The Last Man on Earth’, por exemplo, traz um dos melhores trabalhos de guitarra do álbum. A dinâmica ‘Lies Behind the Mask’ tem um groove interessante, de bom desenvolvimento. A faixa título chama atenção por seu instrumental bem bolado que embala a letra de tom quase biográfico. A climática ‘Dying City’, que encerra os trabalhos, é uma das faixas mais envolventes do álbum.
Dentro da “análise de quesitos”, um ponto negativo: a qualidade da gravação ofusca o que poderia ser um grande álbum. O som ligeiramente abafado, os timbres pouco envolventes e até algumas leves derrapadas que passaram das vistas de Negri, também produtor, e Palma, responsável pela mixagem e masterização tiram um pouco do brilho no fim das contas. Vindo de um artista independente que debate, justamente, as batalhas diárias no segmento, é compreensível que a gravação não seja tão sofisticada, mas isso contrasta com a proposta do disco, de pretensões acima do convencional.
Transcendendo a questão musical, também enxergo a ideia de lançar ‘The Fool’s Path’ apenas em formato físico, com somente algumas faixas para “degustação” em streaming como uma decisão equivocada. As plataformas jogam sujo e pagam mal, mas colaboram para a divulgação de uma obra de um músico que, reforço, está refletindo em seu trabalho sobre a luta no cenário independente – uma delas, imagino, é a falta de exposição devida.
Num contexto universal em que nem todos têm aparelho reprodutor de mídia física à disposição (ou têm, mas não a todo momento), restringir a veiculação no streaming limita para muitos a apreciação à obra, ainda que ofereça, a quem adquirir o CD, a chamada “experiência completa”. Esse ponto só está sendo comentado porque há a consciência de que muitos leitores deste texto podem perder o interesse por ‘The Fool’s Path’ ao notar que o trabalho só está disponível, na íntegra, em formato físico. Uma pena.
Os pontos negativos apequenam, mas não suprimem ‘The Fool’s Path’ por completo. É um bom álbum, que carrega uma mensagem forte e melodias envolventes. Cresce a cada audição, quando os pontos negativos da gravação em si começam a ser superados. Espero que não seja o passo final do caminho do tolo.
Veja, abaixo, a capa e a tracklist de ‘The Fool’s Path’:
1. Voiceless
2. The Wicked
3. The Last Man on Earth
4. Blind Superman
5. Lies Behind the Mask
6. No One Gets Here ALive
7. Changing Times
8. The Fool’s Path
9. Cursed Artist
10. Dying City
‘The Fool’s Path’ está representado na minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play: