Até hoje, não sei explicar muito bem o que me impressionou no Danger Danger. Fato é que, mesmo não tendo feito o mesmo sucesso de outros nomes mais populares do hard rock na década de 1980, o quinteto formado em Nova York, Estados Unidos, me cativou há um bom tempo e segue como uma presença regular em minhas playlists pessoais.
O Danger Danger foi formado por ex-integrantes de uma outra banda, chamada Hotshot. São eles: o vocalista Mike Pont, o guitarrista Al Pitrelli (sim, o mesmo do Savatage, Megadeth, Alice Cooper e Trans-Siberian Orchestra, mas no início da carreira), o baixista Bruno Ravel, o baterista Steve West e o tecladista Kasey Smith. Pont deixou a formação e foi substituído por Ted Poley. Após a primeira demo gravada e um contrato assinado com a Epic Records, Pitrelli pulou fora.
A vaga de guitarrista foi assumida de forma temporária por Tony “Bruno” Rey antes de ele voltar para sua banda original, o Saraya. Foi, curiosamente, com o “estepe” que o Danger Danger gravou boa parte de seu primeiro álbum de estúdio, autointitulado – “Bruno” toca em todas as faixas, com exceção de “Saturday Nite” e “Boys Will Be Boys”, que já contavam com Andy Timmons, o talentoso músico que se tornaria o titular do posto em definitivo.
A primeira impressão que as pessoas podem ter do primeiro álbum do Danger Danger não é das melhores, especialmente fora do contexto da década de 1980. Músicas como “Naughty Naughty” e “Bang Bang” podem soar bregas por diversos motivos: a produção ligeiramente datada, as letras repletas de clichês, os teclados que tiram o peso das guitarras, as repetições de duas palavras tanto no nome da banda quanto das faixas citadas, entre outros.
O que cativa, porém, é a capacidade do Danger Danger em fazer músicas envolventes. Os refrães são grudentos, as melodias são fortes e os vocais de Ted Poley são, além de carismáticos, muito bem colocados. Outro trunfo da banda, especialmente nesse álbum, foi terem encontrado, logo de cara, um equilíbrio perfeito entre o hard rock festivo daqueles tempos e o AOR/melodic rock que parecia ser dedicado a públicos mais velhos.
Ainda que seja repleta de clichês toscos na letra, a abertura “Naughty Naughty” convence pela pegada distinta, fora da “caixinha” para uma banda daquele estilo. Na sequência, “Under The Gun” mostra por que é uma das melhores do álbum ao reforçar o cuidado com as melodias.
A terceira música é uma das poucas a soarem mais padronizadas em meio ao hard rock daqueles tempos: “Saturday Nite”, que repete clichês não só na letra, como na melodia. Ainda assim, diverte. A balada “Don’t Walk Away” é açucarada demais para meu gosto, mas “Bang Bang” é um baita guilty pleasure por mostrar como o Bon Jovi soaria se o tecladista David Bryan fosse mais importante que o guitarrista Richie Sambora na “hierarquia” da banda.
“Rock America” destaca o mesmo tipo de andamento que convence em “Under The Gun”, mas com uma melodia mais aberta. “Boys Will Be Boys”, por sua vez, resgata os clichês melódicos que se fizeram presentes em “Saturday Nite”. Em seguida, o álbum apresenta três baladas de uma vez só: a lenta “One Step From Paradise”, a melódica “Feels Like Love” e a enjoativa “Turn It On”. Encerrando a tracklist, está a animadinha e pouco convincente “Live It Up”.
Ainda que o hard rock tipicamente oitentista estivesse em queda já no fim daquela década, o Danger Danger conseguiu algum destaque com seu álbum de estreia. “Naughty Naughty” e “Bang Bang” se saíram bem como singles e, na estrada, o grupo fez seu trabalho repercutir melhor ao abrir shows de nomes como Kiss, Alice Cooper, Warrant e Extreme.
O Danger Danger evoluiu de forma notável no álbum seguinte, “Screw It!” (1991) e repetiu o desempenho comercial razoável do disco de estreia, mas, após a turnê de divulgação, a banda nunca mais foi a mesma.
Em 1992, o tecladista Kasey Smith deixou a formação e não foi substituído: o grupo seguiu como quarteto e gravou o álbum “Cockroach” entre 1993 e 1994. No entanto, Ted Poley foi demitido logo após a conclusão das gravações e substituído por Paul Laine, que refaria os vocais. Poley entrou na justiça para barrar o lançamento do trabalho – e conseguiu. Só pudemos ouvir o ótimo “Cockroach” em 2001, em duas versões: com Ted e com Paul. Em meio a esse imbróglio, Andy Timmons também saiu e se consagrou como um shredder em carreira solo.
Com tantas mudanças na formação, o Danger Danger nunca conseguiu ter estabilidade para fazer um trabalho contínuo. Mesmo assim, dá para dizer que todos os álbuns da banda são bons. E o primeiro da discografia, que está completando seu 30° aniversário, é um dos melhores dessa tumultuada trajetória.
Ted Poley (vocal)
Tony “Bruno” Rey (guitarra em todas as faixas, exceto 3 e 7)
Andy Timmons (guitarra nas faixas 3 e 7)
Bruno Ravel (baixo, violoncelo)
Steve West (bateria)
Kasey Smith (teclados)
- Naughty Naughty
- Under the Gun
- Saturday Nite
- Don’t Walk Away
- Bang Bang
- Rock America
- Boys Will Be Boys
- One Step From Paradise
- Feels Like Love
- Turn It On
Excelente texto, conheci a banda há um tempo atrás e nunca entendi pq não fizeram sucesso. Essa explicação de diversas mudanças na composição da banda já justifica muita coisa kkkkkk. Ainda assim, gosto muito banda, principalmente o que considero uma obra prima é esse show acústico em Tokyo, realmente muito bom. Mais uma vez, parabéns pelo texto.