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Quando os Beatles quase estrelaram um filme de O Senhor dos Anéis

Os Beatles e O Senhor dos Anéis têm, em comum, o enorme sucesso que fizeram. A banda é a mais bem-sucedida da história da música e já vendeu centenas de milhões de cópias de seus discos, além de ter mudado a música como um todo. Já O Senhor dos Anéis se impôs tanto como livro, lançado por J.R.R. Tolkien em 1954, quanto em filme, com a trilogia dirigida por Peter Jackson já no século 21.

O que poucos sabem é que o destino quase tratou de cruzar essas duas entidades da cultura pop: os Beatles quiseram estrelar um filme de O Senhor dos Anéis no fim da década de 1960. E esse “crossover” só não rolou porque o cineasta Stanley Kubrick se recusou a trabalhar no projeto, que foi engavetado.

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Em 1963, os Beatles assinaram um contrato para protagonizar três filmes a serem lançados pela United Artists. O primeiro, A Hard Day’s Night (no Brasil, Os Reis do Iê, Iê, Iê), chegou a público em 1964. O segundo, Help!, estreou em 1965.

– Leia: A ocasião em que Ringo Starr saiu dos Beatles

Ao que tudo indica, o terceiro seria a adaptação de O Senhor dos Anéis para um filme. Os sites Screencrush e NME apontam que a United Artists adquiriu os direitos da obra em 1969, enquanto que o Vintage News afirma que, na época, Tolkien não havia cedido para ninguém. Apesar dos Beatles estarem em certa crise na época – a banda acabou em 1970 -, os integrantes não só aceitaram trabalhar no longa-metragem, como, também, sugeriram Stanley Kubrick para a direção.

O momento

Do tipo “genial e genioso”, Stanley Kubrick fez história com seus filmes inventivos nas décadas de 1960 e 1970. Inclusive, no fim dos anos 60, ele estava em alta devido ao seu trabalho em 2001: Uma Odisseia no Espaço, que foi indicado a quatro prêmios Oscar e hoje é visto como um dos longas mais influentes da história do cinema.

Além da fama dos Beatles e da então recente popularidade de Stanley Kubrick, o filme de O Senhor dos Anéis era visto como uma boa ideia porque, na década de 1960, filmes de fantasia estavam repercutindo muito bem. Spin-offs de Godzilla e King Kong chegavam aos cinemas quase que anualmente e séries como a do Batman bombavam na TV, preparando terreno para que, nos anos 1970, franquias como Star Wars e Star Trek explodissem.

Com tudo isso, uma adaptação de O Senhor dos Anéis tinha tudo para dar certo. Os papéis, inclusive, já estavam definidos: Paul McCartney faria o Frodo, Ringo Starr daria vida a Sam, John Lennon queria interpretar Gollum e George Harrison assumiu o posto de Gandalf.

Ao que tudo indica, o projeto seria como uma espécie de “adaptação psicodélica” da obra de J.R.R. Tolkien. A história de O Senhor dos Anéis seria mais como um pano de fundo para uma construção de um musical cinematográfico, com canções feitas exclusivamente para o filme.

O ‘não’ de Kubrick (e de Tolkien)

Só que não rolou. E a culpa foi de Stanley Kubrick, ao menos em um ponto inicial. O diretor recusou a proposta de trabalhar na adaptação por ser um projeto “infilmável”. Em uma conversa com John Lennon, Kubrick afirmou que seria impossível traduzir uma obra tão densa para as telonas.

De certa forma, a avaliação de Stanley Kubrick não é equivocada. Peter Jackson, em sua famosa versão, precisou dissecar o livro em três filmes – e muita coisa ficou de fora. Além disso, não é raro ver críticas aos filmes do século 21 por quem não está acostumado com o formato, pois os longas são extensos e de roteiro complexo.

Apesar dos direitos terem sido supostamente adquiridos pela United Artists, J.R.R. Tolkien também não aprovou a ideia. O autor não queria ver a sua obra distorcida por uma colaboração que, para ele, não funcionaria.

De certa forma, um filme de O Senhor dos Anéis com direção de Stanley Kubrick seria, no mínimo, sombrio. O estilo ousado do diretor acabaria se sobrepondo a qualquer ideia de deixar o filme em um tom mais positivo, até para fazer justiça a possíveis jovens fãs dos Beatles que acompanhassem a adaptação nos cinemas.

Tempos depois, os envolvidos parecem reconhecer que a ideia de fazer um filme de O Senhor dos Anéis com os Beatles como protagonistas e Stanley Kubrick na direção, simplesmente, não funcionaria. Quando a versão de Peter Jackson bombou nos cinemas, Paul McCartney chegou a dizer ao cineasta: “ainda bem que não fizemos aquela versão no passado, pois isso permite que as pessoas curtam mais a sua adaptação”. Bom senso é uma das grandes virtudes de um bom artista.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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