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Álbum de estreia do Prophets of Rage alia mensagens fortes a rap rock híbrido

Resenha: Prophets of Rage – “Prophets of Rage” (2017)

O Prophets of Rage alia dois universos que parecem distantes, mas não estão – ou não deveriam estar. São eles: o rock e o hip hop.

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A banda, formada em 2016, reúne o trio instrumental do Rage Against the Machine – Tom Morello na guitarra, Tim Commerford no baixo e Brad Wilk na bateria -, dois integrantes do Public Enemy – o rapper Chuck D e o DJ Lord – e o também rapper B-Real, do Cypress Hill. Uma formação de peso para quem gostava do som praticado por esses nomes, especialmente no início da década de 1990.

A ideia para formar o Prophets of Rage surgiu de uma curiosa manchete da emissora americana CNN que brincou com o nome do Rage Against the Machine e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, na época, ainda não havia sido eleito. “Trump Rages Against The GOP Machine”, dizia o título da matéria. Em tradução grosseira para o português, significa “Trump destina raiva contra a máquina do GOP” – a sigla, que significa Grand Old Party, é como um sinônimo para o Partido Republicano, por meio do qual o chefe do Executivo americano se elegeu.

Em entrevistas, os integrantes sempre destacaram que o Prophets of Rage foca mais na mensagem de suas letras do que na música. “Estamos tentando fazer rock, mais do que tudo, e colocar nossas mensagens junto. Coisas que estão acontecendo, que são relevantes e que as pessoas se recusam a falar em suas músicas. Tudo bem, cada um na sua praia, mas escolhemos ser a voz do povo”, afirmou B-Real, em entrevista ao Eon Music.

A ideologia está até na forma em que o Prophets se define. “Não somos um supergrupo”, disse Chuck D, à Rolling Stone. “Somos uma força-tarefa de elite de músicos revolucionários, determinados a enfrentar essa montanha de besteiras do ano eleitoral e confrontar, de frente, com nossos amplificadores Marshall em chamas”.

O discurso é bonito, mas ninguém ganha jogo com entrevista. E, experientes, os músicos do Prophets of Rage sabem disso. Não à toa, lançaram em 2017 um álbum de estreia poderoso, que ganhou edição em CD nacional da Hellion Records. Para mim, o grande chamariz está no aspecto musical – algo que, curiosamente, não foi tão comentado pelos integrantes em suas declarações à imprensa.

As letras são bem feitas e refletem, de forma direta, o pensamento dos integrantes. É de conhecimento público que os músicos do Rage Against the Machine, com destaque ao sempre vocal Tom Morello, são adeptos a ideologias de esquerda, como o socialismo e, no caso de Brad Wilk, o anarquismo. Os membros do Cypress Hill e Public Enemy convergem com tais pensamentos. Dessa forma, em termos de mensagem, tudo é entregue de forma clara. Como é um conteúdo que pode dividir o público, cabe a cada um decidir se concorda ou não com o que é dito.

Contudo, como destaquei anteriormente, o que se destaca aqui é a música, que reforçou o hibridismo já apresentado ao longo da carreira dos integrantes.

O Rage Against the Machine sempre transitou de forma muito próxima ao hip hop, seja pelos vocais rap de Zack de la Rocha ou pelos efeitos que Tom Morello costumava colocar nas músicas. Do mesmo modo, Public Enemy e Cypress Hill já flertaram com o rock em inúmeras ocasiões. A união casou bem, justamente, por envolver músicos de background mais heterogêneo e versátil. A mistura funciona.

A proposta artística é como um Rage Against the Machine com vocais ainda mais rap e com batidas mais cadenciadas, para que a influência do hip hop apareça mais. A agressividade está nas letras e não mais nas melodias.

Isso deixou a bateria de Brad Wilk em segundo plano e a dobradinha de riffs com guitarra e baixo em destaque, bem entrelaçada às vozes. As participações do DJ Lord são mais discretas e vejo isso de forma positiva, porque deixou o instrumental mais próximo do rock.

Apesar da promessa de letras atuais, não há nenhuma inovação estética na parte musical – e isso não é problema. Os músicos não buscaram fazer algo tão diferente de suas carreiras. Seria um detalhe negativo se a fórmula já tivesse sido explorada à exaustão, mas o Rage Against the Machine tem uma discografia curta e o Cypress Hill e Public Enemy nunca mergulharam tão de cabeça no rock como nesse álbum.

Embora tenha recebido críticas mistas – muitos jornalistas não gostaram do tom “panfletário” das letras e da proposta musical “reciclada” -, a estreia do Prophets of Rage fez sucesso. O álbum chegou ao top 15 das paradas de oito países, incluindo Reino Unido e Alemanha, além de um satisfatório 16° lugar nos Estados Unidos.

É verdade que o primeiro disco do Prophets of Rage chegou para um público de relativo nicho, um tanto delimitado previamente: fãs de hip hop das antigas, rap rock – especialmente Rage Against the Machine – e de trabalhos com mensagens fortemente politizadas. Porém, talvez seja essa a melhor estratégia para um projeto que, artisticamente, quer reforçar as glórias do passado atualizando a mensagem.

1. Radical Eyes
2. Unfuck the World
3. Legalize Me
4. Living on the 110
5. The Counteroffensive
6. Hail to the Chief
7. Take Me Higher
8. Strength in Numbers
9. Fired a Shot
10. Who Owns Who
11. Hands Up
12. Smashit

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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