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O fraco e datado álbum de estreia do Bon Jovi, lançado em 1984

Banda foi formada de forma um pouco diferente do convencional, o que explica problemas em seu primeiro disco

Bon Jovi – “Bon Jovi”
Lançado em 21 de janeiro de 1984

O Bon Jovi, enquanto banda, teve um caminho um pouco diferente do convencional. E isso, talvez, explique por que o grupo demorou um pouco para se encontrar – e justifique, ainda, o fato de seus dois primeiros álbuns não serem tão bons quanto os lançamentos posteriores.

A história do Bon Jovi passa, obviamente, pela trajetória de seu líder: o vocalista Jon Bon Jovi, nascido John Francis Bongiovi Jr. Envolvido com música desde a adolescência, o cantor e multi-instrumentista chegou a formar uma banda com o tecladista David Bryan quando ambos tinham 16 anos, mas não foi para frente. Jon seguiu se envolvendo com outros projetos até que, em 1980, decidiu gravar uma música solo chamada “Runaway”.

- Advertisement -

Para a faixa, Jon Bon Jovi contou com os músicos de estúdio do The All Star Review: Tim Pierce na guitarra, Hugh McDonald no baixo (o mesmo que substituiria Alec John Such no próprio Bon Jovi e ainda tocaria até nos discos em que seu antecessor foi creditado), Roy Bittan nos teclados, Frankie LaRocka na bateria e os backing vocals David Grahmme e Mick Seeley – este último, compositor do riff de teclas que abre a música. Outras demos também foram registradas, mas foi “Runaway” a responsável por, já em 1982, chamar a atenção da rádio WAPP 103.5 FM, que inseriu a canção em uma coletânea própria.

Com “Runaway” nas rádios, Jon Bon Jovi despertou o interesse da gravadora Mercury Records e precisou correr contra o tempo para formar uma banda, já que o selo queria um grupo e não um artista solo. O amigo de adolescência David Bryan foi chamado para os teclados, enquanto Alec John Such assumiu o baixo e Tico Torres, baterista, foi “roubado” do Franke & The Knockouts – aquele projeto, mesmo, que fez “(I’ve Had) The Time of My Life” para o filme “Dirty Dancing” (1987).

O vocalista Franke Previte relembra, em entrevista à Classic Rock: “Jon costumava seguir nossa banda. Ele aparecia e dizia que eu era o vocalista favorito dele. Muitos anos depois, eu estava em um restaurante e um cara chega para me cumprimentar e dizer que era o road manager original de Jon Bon Jovi. Ele perguntou se eu sabia o motivo de eles me seguirem. Eu pensei que ele iria elogiar a banda, mas ele contou: ‘estávamos tentando roubar Tico Torres’. Então, Tico entrou para o Bon Jovi e o resto é história, mas nossos caminhos encerraram bem, porque, dois anos depois, me chamaram para fazer ‘(I’ve Had) The Time of My Life’”.

A vaga de guitarrista do Bon Jovi era ocupada, na época, por Dave Sabo – o mesmo que montou o Skid Row alguns anos depois. Sabo acabou não permanecendo na banda e Richie Sambora, o elemento que faltava para consolidar o grupo, assumiu o posto. Pronto: estava formada um dos quintetos de rock mais famosos da década de 1980 – e também nos anos seguintes.

A fama, porém, não veio de forma rápida. Seu álbum de estreia, autointitulado e lançado em 21 de janeiro de 1984, não fez tanto sucesso quanto poderia, já que foi divulgado por uma grande gravadora. O disco, que tem produção de Lance Quinn e do primo de Jon, Tony Bongiovi, chegou à modesta 43ª posição das paradas dos Estados Unidos e, curiosamente, chamou mais a atenção no Japão, um grande consumidor atrações que praticam vertentes mais melódicas do rock e metal, atingindo o 38° lugar dos charts locais. Grande parte da repercussão veio graças à música “Runaway”, cuja qualidade já havia sido testada, antes, no cenário nova-iorquino.

Quando se dá o play no álbum de estreia do Bon Jovi, entende-se por que o álbum não fez tanto sucesso. Com exceção de “Runaway”, o material é, realmente, esquecível. Não agrada, nem desagrada: passa batido. E, pior, soa datado, em termos de instrumental e produção – ninguém merece essa timbragem piegas que muitos grupos adotavam na década de 1980.

Alguns momentos podem chamar a atenção, como os ganchos melódicos da balada “Love Lies” ou a interessante “Breakout”, mas todo o resto soa datado e exagerado. Nem mesmo “She Don’t Know Me”, única música do catálogo do Bon Jovi que não foi composta por nenhum de seus integrantes (Mark Avsec, tecladista do Wild Cherry e Donnie Iris & the Cruisers, assina a autoria), é capaz de chamar a atenção. Até o Black ‘N Blue fez trabalhos melhores – e não chegou perto do sucesso do projeto de Jon Bon Jovi.

Em entrevista à revista “Q”, em 2007, Jon Bon Jovi reconheceu os problemas do Bon Jovi em seus primeiros anos. “Não éramos uma boa banda até o terceiro disco, mas tínhamos um baterista que conseguia manter o tempo, algo que você nunca deve tomar como certo. Acho que me saí bem para um cara de 22 anos. Estive em estúdio por apenas três anos antes daquele disco e não sabia nada sobre montar vocais – onde você precisa montar uma palavra ou uma linha de uma música. Eu pensava: ‘Deus, sou tão ruim que eles tiveram que colar os vocais para mim’. O engenheiro de som dizia: ‘não enlouqueça, Jon, até Freddie Mercury e outros grandes têm que fazer isso’”, afirmou.

– Richie Sambora queria que o Bon Jovi fosse ‘mais banda’ e ‘menos’ Jon

Apesar de não cativar, o primeiro álbum do Bon Jovi deu para o gasto: a repercussão fez com que a banda conseguisse abrir turnês do Kiss e Scorpions na Europa e marcasse algumas datas como atração principal pelo Japão. Além do sucesso moderado nos Estados Unidos, o disco entrou nas paradas da Austrália (39°), Nova Zelândia (18°), Espanha (24°) e Reino Unido (71°).

Os defeitos do álbum de estreia do Bon Jovi se repetiram no sucessor, “7800° Fahrenheit” (1985), até que o jogo mudou com “Slippery When Wet” (1986), o imponente álbum produzido por Bruce Fairbairn e com os hits “You Give Love a Bad Name”, “Livin’ on a Prayer” e “Wanted Dead or Alive”. Os astros se alinharam nesse terceiro disco: a parceria autoral entre Jon e Richie Sambora amadureceu com as colaborações de Desmond Child e, musicalmente, o grupo entendeu para onde deveria seguir.

No mais, o primeiro disco do Bon Jovi serve como registro histórico de uma banda que ainda precisaria de tempo e experiência para evoluir. Há até o teor motivacional: se até os caras que fizeram esse álbum se consagraram como astros do rock pouco tempo depois, talvez, você também consiga.

Jon Bon Jovi (vocal, guitarra)
Richie Sambora (guitarra)
Alec John Such (baixo)
Tico Torres (bateria)
David Bryan, creditado como David Rashbaum (teclados)

Músicos adicionais:
Chuck Burgi (bateria adicional)
Doug Katsaros (teclados adicionais)
Aldo Nova (guitarra e teclados adicionais)
Tim Pierce (guitarra na faixa 1)
Hugh McDonald (baixo na faixa 1)
Frankie LaRocka (bateria na faixa 1)
Roy Bittan (teclados na faixa 1)
David Grahmme e Mick Seeley (backing vocals na faixa 1)

1. Runaway
2. Roulette
3. She Don’t Know Me
4. Shot Through the Heart
5. Love Lies
6. Breakout
7. Burning for Love
8. Come Back
9. Get Ready

Foto: Neil Zlozower / reprodução

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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O Bon Jovi, enquanto banda, teve um caminho um pouco diferente do convencional. E isso, talvez, explique por que o grupo demorou um pouco para se encontrar – e justifique, ainda, o fato de seus dois primeiros álbuns não serem tão bons quanto os lançamentos posteriores.

A história do Bon Jovi passa, obviamente, pela trajetória de seu líder: o vocalista Jon Bon Jovi, nascido John Francis Bongiovi Jr. Envolvido com música desde a adolescência, o cantor e multi-instrumentista chegou a formar uma banda com o tecladista David Bryan quando ambos tinham 16 anos, mas não foi para frente. Jon seguiu se envolvendo com outros projetos até que, em 1980, decidiu gravar uma música solo chamada “Runaway”.

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Para a faixa, Jon Bon Jovi contou com os músicos de estúdio do The All Star Review: Tim Pierce na guitarra, Hugh McDonald no baixo (o mesmo que substituiria Alec John Such no próprio Bon Jovi e ainda tocaria até nos discos em que seu antecessor foi creditado), Roy Bittan nos teclados, Frankie LaRocka na bateria e os backing vocals David Grahmme e Mick Seeley – este último, compositor do riff de teclas que abre a música. Outras demos também foram registradas, mas foi “Runaway” a responsável por, já em 1982, chamar a atenção da rádio WAPP 103.5 FM, que inseriu a canção em uma coletânea própria.

Com “Runaway” nas rádios, Jon Bon Jovi despertou o interesse da gravadora Mercury Records e precisou correr contra o tempo para formar uma banda, já que o selo queria um grupo e não um artista solo. O amigo de adolescência David Bryan foi chamado para os teclados, enquanto Alec John Such assumiu o baixo e Tico Torres, baterista, foi “roubado” do Franke & The Knockouts – aquele projeto, mesmo, que fez “(I’ve Had) The Time of My Life” para o filme “Dirty Dancing” (1987).

O vocalista Franke Previte relembra, em entrevista à Classic Rock: “Jon costumava seguir nossa banda. Ele aparecia e dizia que eu era o vocalista favorito dele. Muitos anos depois, eu estava em um restaurante e um cara chega para me cumprimentar e dizer que era o road manager original de Jon Bon Jovi. Ele perguntou se eu sabia o motivo de eles me seguirem. Eu pensei que ele iria elogiar a banda, mas ele contou: ‘estávamos tentando roubar Tico Torres’. Então, Tico entrou para o Bon Jovi e o resto é história, mas nossos caminhos encerraram bem, porque, dois anos depois, me chamaram para fazer ‘(I’ve Had) The Time of My Life’”.

A vaga de guitarrista do Bon Jovi era ocupada, na época, por Dave Sabo – o mesmo que montou o Skid Row alguns anos depois. Sabo acabou não permanecendo na banda e Richie Sambora, o elemento que faltava para consolidar o grupo, assumiu o posto. Pronto: estava formada um dos quintetos de rock mais famosos da década de 1980 – e também nos anos seguintes.

A fama, porém, não veio de forma rápida. Seu álbum de estreia, autointitulado e lançado em 21 de janeiro de 1984, não fez tanto sucesso quanto poderia, já que foi divulgado por uma grande gravadora. O disco, que tem produção de Lance Quinn e do primo de Jon, Tony Bongiovi, chegou à modesta 43ª posição das paradas dos Estados Unidos e, curiosamente, chamou mais a atenção no Japão, um grande consumidor atrações que praticam vertentes mais melódicas do rock e metal, atingindo o 38° lugar dos charts locais. Grande parte da repercussão veio graças à música “Runaway”, cuja qualidade já havia sido testada, antes, no cenário nova-iorquino.

Quando se dá o play no álbum de estreia do Bon Jovi, entende-se por que o álbum não fez tanto sucesso. Com exceção de “Runaway”, o material é, realmente, esquecível. Não agrada, nem desagrada: passa batido. E, pior, soa datado, em termos de instrumental e produção – ninguém merece essa timbragem piegas que muitos grupos adotavam na década de 1980.

Alguns momentos podem chamar a atenção, como os ganchos melódicos da balada “Love Lies” ou a interessante “Breakout”, mas todo o resto soa datado e exagerado. Nem mesmo “She Don’t Know Me”, única música do catálogo do Bon Jovi que não foi composta por nenhum de seus integrantes (Mark Avsec, tecladista do Wild Cherry e Donnie Iris & the Cruisers, assina a autoria), é capaz de chamar a atenção. Até o Black ‘N Blue fez trabalhos melhores – e não chegou perto do sucesso do projeto de Jon Bon Jovi.

Em entrevista à revista “Q”, em 2007, Jon Bon Jovi reconheceu os problemas do Bon Jovi em seus primeiros anos. “Não éramos uma boa banda até o terceiro disco, mas tínhamos um baterista que conseguia manter o tempo, algo que você nunca deve tomar como certo. Acho que me saí bem para um cara de 22 anos. Estive em estúdio por apenas três anos antes daquele disco e não sabia nada sobre montar vocais – onde você precisa montar uma palavra ou uma linha de uma música. Eu pensava: ‘Deus, sou tão ruim que eles tiveram que colar os vocais para mim’. O engenheiro de som dizia: ‘não enlouqueça, Jon, até Freddie Mercury e outros grandes têm que fazer isso’”, afirmou.

– Richie Sambora queria que o Bon Jovi fosse ‘mais banda’ e ‘menos’ Jon

Apesar de não cativar, o primeiro álbum do Bon Jovi deu para o gasto: a repercussão fez com que a banda conseguisse abrir turnês do Kiss e Scorpions na Europa e marcasse algumas datas como atração principal pelo Japão. Além do sucesso moderado nos Estados Unidos, o disco entrou nas paradas da Austrália (39°), Nova Zelândia (18°), Espanha (24°) e Reino Unido (71°).

Os defeitos do álbum de estreia do Bon Jovi se repetiram no sucessor, “7800° Fahrenheit” (1985), até que o jogo mudou com “Slippery When Wet” (1986), o imponente álbum produzido por Bruce Fairbairn e com os hits “You Give Love a Bad Name”, “Livin’ on a Prayer” e “Wanted Dead or Alive”. Os astros se alinharam nesse terceiro disco: a parceria autoral entre Jon e Richie Sambora amadureceu com as colaborações de Desmond Child e, musicalmente, o grupo entendeu para onde deveria seguir.

No mais, o primeiro disco do Bon Jovi serve como registro histórico de uma banda que ainda precisaria de tempo e experiência para evoluir. Há até o teor motivacional: se até os caras que fizeram esse álbum se consagraram como astros do rock pouco tempo depois, talvez, você também consiga.

Jon Bon Jovi (vocal, guitarra)
Richie Sambora (guitarra)
Alec John Such (baixo)
Tico Torres (bateria)
David Bryan, creditado como David Rashbaum (teclados)

Músicos adicionais:
Chuck Burgi (bateria adicional)
Doug Katsaros (teclados adicionais)
Aldo Nova (guitarra e teclados adicionais)
Tim Pierce (guitarra na faixa 1)
Hugh McDonald (baixo na faixa 1)
Frankie LaRocka (bateria na faixa 1)
Roy Bittan (teclados na faixa 1)
David Grahmme e Mick Seeley (backing vocals na faixa 1)

1. Runaway
2. Roulette
3. She Don’t Know Me
4. Shot Through the Heart
5. Love Lies
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7. Burning for Love
8. Come Back
9. Get Ready

Foto: Neil Zlozower / reprodução

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