Em recente entrevista à rádio KROQ (transcrição via Blabbermouth), o baixista Shavo Odadjian foi questionado sobre a possibilidade do System Of A Down aceitar ajuda externa para lidar com seus problemas. A banda retomou suas atividades em 2010, quatro anos após anunciar um hiato, mas reúne-se apenas para shows e não lançou nenhuma música inédita desde então. Sabe-se, ainda, que há um conflito entre o guitarrista Daron Malakian e o vocalista Serj Tankian a respeito de divulgar ou não material inédito.
Ao longo do bate-papo, Shavo Odadjian recebeu uma recomendação, em tom de brincadeira, para que System Of A Down contratasse o “psiquiatra” que aparece trabalhando com o Metallica no documentário “Some Kind Of Monster”, de 2004. O profissional em questão é Phil Towle – que, na verdade, é um “coach de melhoria de performance”.
A ideia é vista com simpatia por Shavo. “Eu já tive essa conversa. Seria legal – tipo, talvez alguém precise se colocar no meio da situação e dizer ‘isso é o que significa’ e ‘isso é o que ele quer dizer’. Mas não é como se alguém tivesse feito algo. Não há como ele dizer algo do tipo: ‘oh, ele fez isso por tal motivo'”, afirmou.
– Ouça o vocal isolado de Serj Tankian em ‘Chop Suey’, do System Of A Down
O baixista destacou, ainda, que os problemas internos do System Of A Down são mais antigos do que muitos pensam. “Tudo que você viu nos últimos dois anos existe há 10 anos. Só está ‘vazando’ porque as redes sociais estão por aí”, disse ele.
O músico pontuou, também, que apenas quer voltar a tocar com seus colegas. “Não guardo rancor. Não posso fazer isso. Porém, é doloroso, porque eu quero tocar, fazer música, gravar um disco. Não entrei em uma banda e fiquei famoso para, depois disso, parar de fazer música. Quero tocar mais. Mas é isso, vamos superar isso”, afirmou.
Quando a treta se tornou pública
Em recente entrevista à revista “Kerrang!”, Daron Malakian disse que Serj Tankian, atribuído como responsável pelo hiato criativo pelo qual a banda passa desde a década passada, não queria gravar nem mesmo os últimos discos do grupo, “Mezmerize” e “Hypnotize”, de 2005. “Bandas são como marcas, suponho, e isso é um pouco frustrante para mim. Para ser honesto, Serj não queria nem mesmo gravar ‘Mezmerize’ e ‘Hypnotize’. Realmente o imploramos para que fizesse esses discos. Naquela época, ele já sentia que estava fora”, contou o guitarrista.
Malakian tocou no assunto porque, novamente, o músico falou sobre todo esse tempo em que o System Of A Down passou sem lançar um novo disco – e a situação deve continuar dessa forma, pois não há interesse de Tankian em um próximo álbum. “Há uma maneira específica que o System faz os discos e alguns de nós quer fazer um álbum, enquanto há um (Serj Tankian, embora seu nome não seja citado nesse momento) que não quer fazer dessa maneira e quer fazer do jeito dele. E nem todos concordam com isso. Esse tem sido o problema”, afirmou.
E por que isso acontece? Segundo Daron Malakian, há uma justificativa ligada ao próprio passado musical de Serj Tankian. “Serj nunca foi realmente um cara do heavy metal ou do rock. Não sei se ele tem o mesmo amor por esse tipo de música que eu tenho. Sou o garoto que cresceu com Slayer e Kiss. Queria ser como eles algum dia. Serj não cresceu assim. Ele não é um fã incondicional. Sinto que toda a experiência de ter se tornado o vocalista de uma banda de grande sucesso foi diferente para ele, em comparação ao que foi para mim”, afirmou.
Em publicação nas redes sociais, Serj Tankian revelou a sua visão sobre o problema. Leia, abaixo, um trecho da carta com o posicionamento do vocalista (tradução por Bruce William):
“É verdade que eu, somente eu fui responsável pelo hiato que o SOAD começou em 2006. Todos queriam continuar no mesmo pique excursionando e gravando discos. Eu não quis. Por que? Vários motivos:
1. Artístico: Sempre tive a sensação que continuar fazendo a mesma coisa com as mesmas pessoas é artisticamente redundante, até mesmo para um combo dinâmico como o nosso. Mas naquela época eu sentia que precisava de um pouco de tempo para fazer meu próprio trabalho. Não descartava recomeçar tudo com a banda mais tarde.
2. Igualitarismo: Quando começamos todos os aspectos criativos e financeiros eram divididos por igual. Na época do ‘Mezmerize/Hypnotize’ estávamos em lados opostos em ambos, com Daron monopolizando o processo criativo e financeiro, sem contar que ele queria ser o único a aparecer na mídia.
3. Eu queria ter deixado a banda antes do ‘Mezmerize/Hypnotize’ por causa destas coisas. É por isto que eu pessoalmente não me sinto tão próximo musicalmente destes discos, existiam canções que eu queria trazer à tona mas fui prejudicado por promessas não cumpridas, aliadas à minha passividade naquela época.
[…]
Depois de um longo tempo pensando e processando tudo, há cerca de dois anos eu cheguei pros caras com uma proposta de como seguir em frente. Eu estava a fim de corrigir os erros do passado e estabelecer um jeito de sermos todos felizes, daí sugeri o seguinte:
1. Espaço criativo por igual: naquela época eu tinha lançado cinco discos e era um compositor bem melhor em termos musicais e Daron estava ficando cada vez melhor como letrista, daí eu propus que cada um de nós trouxesse seis músicas que todos os demais aprovassem e a gente pudesse trabalhar nelas com melodias ou riffs do Shavo.
2. Divisão por igual de direitos autorais: eu pessoalmente sinto que uma banda é uma parceria igualitária e as finanças devem refletir isto.
3. Direitos sobre a obra: quem quer que escreva a música deve ter a decisão final após esgotar todas as ideias dos demais. Eu queria isto pois lá no passado eu trazia músicas que acabavam sendo metamorfoseadas em algo que eu nem sequer levaria em consideração.
4. Desenvolver um novo conceito ou tema para que não fosse apenas um álbum, mas sim uma experiência completa.”