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Resenha: Anthem of the Peaceful Army é um bom começo para o Greta Van Fleet

Resenha: Greta Van Fleet – ‘Anthem of the Peaceful Army’

O Greta Van Fleet é, certamente, a banda de maior destaque a surgir no rock nesta década. Infelizmente, isso não quer dizer muita coisa – não pelo talento dos caras, que mandam bem, mas, sim, pela falta de forte concorrência no estilo.

A banda foi formada em 2012, na cidade de Frankenmuth, em Michigan, Estados Unidos, por três irmãos – Josh Kiszka nos vocais, Jake Kiszka na guitarra e Sam Kiszka no baixo. A formação é completa por Danny Wagner, amigo de longa data dos Kiszkas, na bateria. Pelos fortes laços pessoais, era de se esperar que o Greta Van Fleet fosse um grupo entrosado – e dá para perceber que é, seja pelos vídeos de shows ou pelo resultado de suas composições.

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Desde o ano passado, o Greta Van Fleet chama a atenção do público não só por suas músicas – até então, lançadas nos EPs “Black Smoke Rising” e “From The Fires” -, como, também, pela semelhança sonora com o Led Zeppelin. Em entrevistas, os músicos afirmam se sentir honrados com a comparação, mas destacam que as influências vão além do lendário quarteto britânico.

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“Anthem of the Peaceful Army”, primeiro disco full-length do Greta Van Fleet, chegou às prateleiras e plataformas com o compromisso – ainda que velado – de afastar essa comparação, que permeia 9 entre 10 comentários feitos sobre a banda. Qualquer ouvinte com referências mais amplas sobre música sabe que o Greta não é só uma imitação do Led Zeppelin, mas era preciso apresentar um pouco mais.

Nesse ponto, “Anthem of the Peaceful Army” deixa a desejar: a influência do Led Zeppelin segue forte no som do Greta Van Fleet e, no caso de algumas músicas, chega a incomodar – mais, inclusive, do que nas faixas de “From The Fires”. Porém, felizmente, esse detalhe não compromete a audição.

Aliás, “Anthem of the Peaceful Army” está muito longe de ser um disco ruim. Pelo contrário: o álbum é bem bom e está num patamar acima ao da maioria dos registros de rock lançados nos últimos anos, especialmente entre bandas mais novas. Contudo, dá para sentir que o Greta Van Fleet poderia ter obtido um aproveitamento criativo mais próximo ao de “From The Fires”, que, para mim, tem um repertório fora de série e segue, ainda que por pouco, como o melhor lançamento da carreira do quarteto.

A climática “Age of Man” abre o disco já como um de seus melhores momentos. Aqui, o Greta consegue fugir da pegada Zeppelin e apresentar um pouco mais de si: uma banda de hard rock de forte tom retrô, mas com personalidade um pouco mais sólida. Já “The Cold Wind”, na sequência, soa como Led Zeppelin em praticamente todos os instrumentos: do groove da cozinha às linhas de guitarra, sem deixar de passar pela similaridade de timbre entre Josh Kiszka e Robert Plant. Chega a incomodar.

As quatro faixas seguintes já eram conhecidas do público, pois foram lançadas como singles anteriormente. “When The Curtain Falls”, primeira música de divulgação do álbum, segue remetendo ao bom e velho Zeppelin. Não é uma música ruim, mas soa desnecessária em meio ao que está por vir. A arrastada “Watching Over”, por sua vez, cresce pra valer no refrão e conquista no solo de Jake Kiszka.

A partir de “Lover, Leaver”, outro destaque, “Anthem of the Peaceful Army” começa a crescer. A faixa traz identidade e pegada – especialmente nos refrães, que dão cara de “clássico” à música. Guiada por violões e órgão, a balada “You’re The One” é citada pelos membros do Greta Van Fleet como a faixa mais antiga do registro. A canção cativa por sua delicadeza, mas pedia mais imponência no refrão (justo a parte musical que a banda mandou tão bem nas faixas anteriores).

“The New Day”, também acústica, chama a atenção pela afinação mais grave dos instrumentos, que deu um tom mais original à música. Graças à sua influência gospel, é outro destaque do álbum. “Mountain Of The Sun”, por sua vez, conquista o ouvinte pelo riff de guitarra em slide que remete a Jimmy Page – que não incomoda tanto, porque, apesar desse detalhe, essa faixa não soa tão Zeppelin quanto outras.

Próxima do fim do álbum, “Brave New World” mostra uma pegada soturna, pesada e quase heavy rock que o Greta Van Fleet ainda não havia apresentado. Outro bom destaque. A acústica “Anthem”, também lançada como single previamente, oferece uma audição gostosa e agradável sob uma perspectiva “artesanal” – em meio a tantas bandas que gravam seus discos de forma artificial e computadorizada, essa faixa soa, assim como o restante do disco, como “feito à mão”. E isso é bom. “Lover, Leaver (Taker, Believer)” fecha a tracklist sem muita novidade, pois é apenas a versão estendida de “Lover, Leaver”. Poderia ter dado espaço para uma inédita.

Talvez pela expectativa colocada em cima de “Anthem of the Peaceful Army”, não dá para negar que o disco pode decepcionar alguns ouvintes. Eu, mesmo, fiquei um pouco desapontado nas minhas primeiras imersões ao álbum. Muitos, inclusive, parecem esperar que, em algum momento, o Greta Van Fleet vá se livrar, de vez, da influência do Led Zeppelin em suas músicas. Isso não aconteceria em seu primeiro full-length e já se sabia disso, graças aos singles lançados de forma prévia.

Todavia, vale lembrar que “Anthem of the Peaceful Army” é o primeiro álbum full-length de uma banda formada em 2012. Há, sim, muita pressão em torno do quarteto – e que não existia quando muitos grupos icônicos do rock lançaram suas estreias. É importante lembrar que bandas como Kiss, Aerosmith e AC/DC, por exemplo, não emplacaram de primeira – e com razão, já que seus debuts não são perfeitos.

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De certa forma, o Greta Van Fleet conseguiu driblar todo esse cenário e fazer o disco que queria. Por mais irônico que possa parecer, houve personalidade nesse quesito. Embora existam alguns deslizes perceptíveis na concepção artística (quando soam “zeppelianos demais”, por exemplo) e até de escolhas técnicas (como a produção e a timbragem, que por vezes soam opacas e tiram o brilho de algumas músicas ou passagens) que impeçam o título de “irretocável” a “Anthem of the Peaceful Army”, o saldo geral é bem positivo e credencia o disco a um dos melhores do ano – mais uma vez, graças à falta de forte concorrência.

Josh Kiszka (vocal)
Jake Kiszka (guitarra)
Sam Kiszka (baixo, teclados)
Danny Wagner (bateria)

1. Age of Man
2. The Cold Wind
3. When The Curtain Falls
4. Watching Over
5. Lover, Leaver
6. You’re The One
7. The New Day
8. Mountain of the Sun
9. Brave New World
10. Anthem
11. Lover, Leaver (Taker, Believer)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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