Embora Ace Frehley seja um dos meus guitarristas favoritos, confesso que nunca espero muito dele. O eterno Spaceman do Kiss sempre foi preguiçoso na mesma proporção de seu talento – tanto que, tecnicamente, nunca demonstrou grande evolução em seu instrumento, diferente de seus ex-colegas que lideram sua banda de origem, os empenhados Paul Stanley e Gene Simmons.
O melhor reflexo da preguiça de Ace Frehley está nos períodos em que ele ficou sem lançar álbuns em sua carreira solo. O guitarrista saiu do Kiss em 1982 e apenas cinco anos depois, em 1987, a banda Frehley’s Comet colocava seu primeiro disco nas prateleiras. Outros dois trabalhos foram lançados (“Second Sighting”, com o Comet, e “Trouble Walkin'”, solo, em 1988 e 1989, respectivamente) até o retorno a seu grupo de origem, em 1996. Em 2001, Ace deixou a formação novamente e só oito anos depois, em 2009, “Anomaly” chegou a público. O intervalo até o sucessor, “Space Invader” (2014), também é extenso: cinco anos.
É verdade, porém, que Ace Frehley vive um momento de rara produtividade. Depois de “Space Invader”, saíram outros dois álbuns: “Origins, Vol. 1”, de covers, foi lançado em 2016, enquanto que “Spaceman”, seu disco de inéditas mais recente, chegou a público na última sexta-feira (19).
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A essa altura do campeonato, conforme destaquei anteriormente, não espero muito de Ace Frehley. E talvez seja por isso que “Spaceman” tenha sido uma boa surpresa. O álbum entrega tudo o que se espera de Frehley: hard rock guiado por guitarras, com solos na linha de frente (ainda que cada vez menos inventivos) e riffs fortes, vocais tradicionalmente displicentes, cozinha pesada e letras tão simplórias que só poderiam ter sido escritas por um legítimo “bronx boy” – em menção ao título de uma das músicas presentes no disco.
O grande diferencial de “Spaceman” em relação aos outros discos de inéditas de Ace Frehley está na duração. Desta vez, o guitarrista adotou o lema “menos é mais” e colocou apenas nove faixas no álbum, que tem apenas 37 minutos de reprodução. “Space Invader” e (especialmente) “Anomaly” pecam pelo excesso, pois há momentos de notável falta de inspiração. Já no novo disco de Frehley, dá para dizer que todas as músicas são boas – ou, pelo menos, razoáveis.
As duas faixas que Ace Frehley compôs com Gene Simmons, seu ex-parceiro de Kiss, são os principais destaques de “Spaceman”: a paulada “Without You I’m Nothing” e a melódica “Your Wish Is My Command”. Segundo o site Kiss-Related-Recording, as duas músicas contam, ainda, com o baixo de Simmons – era de se imaginar, já que o instrumento soa bem destacado em ambas.
Também merecem menções positivas a cortante “Bronx Boy” e a acelerada “Mission To Mars”. Já os destaques negativos ficam a cargo da pedante “Rockin’ With The Boys”, da enjoativa “Pursuit Of Rock And Roll” e da desnecessária instrumental “Quantum Flux” – que não comprometem, mas são os momentos menos inspirados do álbum.
Quem conhece bem a carreira de Ace Frehley, sabe que quando ele deixa a preguiça de lado, o resultado costuma ser bom. E com a consciência de que não dá para esperar uma obra-prima definitiva do guitarrista a esse ponto de sua carreira, “Spaceman” se torna, no fim das contas, um disco divertido para fãs de hard rock sem rodeios e, especialmente (ou exclusivamente?), admiradores do Kiss.
Ace Frehley (vocal e guitarra em todas as faixas, baixo nas faixas 2, 4, 5, 7 e 8)
Scot Coogan (bateria nas faixas 1, 3, 4 e 7)
Matt Starr (bateria nas faixas 2, 6 e 9)
Anton Fig (bateria nas faixas 5 e 8)
Gene Simmons (baixo nas faixas 1 e 3)
Alex Salzman (baixo nas faixas 3 e 6)
Warren Huart (baixo e gutiarra adicional na faixa 9)
Ronnie Mancuso (guitarra nas faixas 4 e 7)
Rachael Gordon (backing vocals nas faixas 2 e 3)
01. Without You I’m Nothing
02. Rockin’ With The Boys
03. Your Wish Is My Command
04. Bronx Boy
05. Pursuit Of Rock And Roll
06. I Wanna Go Back (cover de Eddie Money)
07. Mission To Mars
08. Off My Back
09. Quantum Flux