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Os 35 anos de ‘Piece Of Mind’, o disco que estabeleceu o Iron Maiden

Iron Maiden – “Piece Of Mind”
Lançado em 16 de maio de 1983

O Iron Maiden gravou três discos antes de se firmar com sua formação clássica: Bruce Dickinson nos vocais, Dave Murray e Adrian Smith nas guitarras, Steve Harris no baixo e Nicko McBrain na bateria. A estreia autointitulada (1980), “Killers” (1981) e “The Number Of The Beast” (1982) – este último, meu preferido de toda a discografia – são clássicos, mas apresentam um Maiden em desenvolvimento, que aglutinava influências dos integrantes à efervescência punk/NWOBHM daquele contexto histórico.

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– Leia também: O boicote que o Iron Maiden sofreu por “The Number Of The Beast”

“Piece Of Mind”, quarto álbum lançado pela banda e o primeiro com Nicko McBrain, substituto de Clive Burr, marca não só o estabelecimento da line-up mais popular do Iron Maiden como, também, a busca por uma identidade mais sofisticada, que daria o “rosto” definitivo ao quinteto. O Maiden que todos conhecem apresentou suas credenciais, em definitivo, a partir deste disco. Não à toa, é citado por Steve Harris como um de seus registros favoritos do grupo.

Inspirados após a boa repercussão com “The Number Of The Beast”, os integrantes do Iron Maiden compuseram “Piece Of Mind” de forma bastante rápida – tanto que o álbum foi construído e gravado em apenas dois meses e saiu pouco mais de um ano depois de seu antecessor. A concepção ocorreu em um hotel de Nova Jersey, nos Estados Unidos, e a gravação, novamente comandada por Martin Birch, rolou nos estúdios Compass Point, nas Bahamas.

Como de costume, Steve Harris capitaneou o processo de criação de “Piece Of Mind”, com construções melódicas mais técnicas e letras ainda mais inspiradas em livros, filmes e ocorridos históricos. Porém, o disco chama a atenção por conter as primeiras colaborações autorais de Bruce Dickinson. São elas: “Revelations”, feita só por ele; “Die With Your Boots On”, também com a assinatura de Adrian Smith e Harris; e “Flight Of Icarus” e “Sun And Steel”, ambas por Dickinson e Smith.

“Where Eagles Dare”, uma composição típica de Steve Harris, abre o disco fazendo com que Bruce Dickinson apresente vocais bem agudos, no estilo de um de seus grandes ídolos: Ian Gillan, do Deep Purple. “Revelations”, na sequência, mostra melhor a vertente melódica que o Maiden exploraria ainda mais nos anos seguintes. As variações de andamento que permeiam a canção são de ótimo gosto.

“Flight Of Icarus”, feita para ser hit nos Estados Unidos – embora Steve Harris não gostasse da canção -, atende a todos os requisitos de uma boa música de hard rock, especialmente por ter fortes ganchos melódicos. “Die With Your Boots On”, por sua vez, é o tipo de faixa que se encaixaria em quase todo disco do Iron Maiden. Inspirado em um poema sobre a Batalha de Balaclava, durante a Guerra da Criméia, o clássico absoluto “The Trooper” dispensa comentários: sua presença em praticamente todo show feito pelo Maiden a partir de 1983 fala por si só.

Precedida por uma passagem invertida – notável zoação com aqueles que acusava o Maiden de ser satanista graças a “The Number Of The Beast” -, “Still Life” apresenta as credenciais de uma típica composição de Dave Murray, com destaque aos riffs típicos do guitarrista e ao solo cruzado com Adrian Smith. “Quest For Fire”, por sua vez, tem riffs que remetem aos dois primeiros discos, gravados com Paul Di’Anno, mas uma pegada mais cadenciada que refletia a busca do Maiden por um estilo cada vez mais próprio.

A hard n’ heavy “Sun And Steel” não esconde a influência de Thin Lizzy: é difícil não se lembrar de “Jailbreak” enquanto ouve seus riffs. A sofisticada “To Tame A Land” encerra o disco com destaque. A letra é inspirada no romance de ficção científica “Duna”, de Frank Herbert. A música em si, de tom épico e quase progressivo, é como uma evolução de “Hallowed Be Thy Name”, ainda que menos enérgica e mais introspectiva.

O Iron Maiden teve méritos ao não repetir a fórmula de “The Number Of The Beast” em “Piece Of Mind”. E a banda foi recompensada por isso ao repetir o sucesso do álbum anterior. Enquanto a base de fãs se consolidava ainda mais no Reino Unido, com um pomposo 3° lugar nas paradas locais e boas posições nos charts de singles com “Flight Of Icarus” e “The Trooper”, a “operação Estados Unidos” apresentava resultados ainda mais ambiciosos, especialmente devido à 14ª colocação na Billboard 200.

A intenção em se estabelecer nos Estados Unidos foi reforçada com a “World Piece Tour”, que passou bem mais tempo na América (junho a outubro) do que na Europa (maio, junho, novembro e dezembro). Hoje, sabemos que o Iron Maiden nunca conseguiu grande força na terra do Tio Sam, mas o objetivo quase foi alcançado na época de “Piece Of Mind”.

No geral, “Piece Of Mind” mostra o senso de evolução que o Iron Maiden passaria a apresentar como característica principal de seus discos. Seria mais fácil fazer um “The Number Of The Beast 2”, mas Steve Harris e seus companheiros nem sempre optavam por caminhos tão óbvios.

Bruce Dickinson (vocal)
Dave Murray (guitarra)
Adrian Smith (guitarra)
Steve Harris (baixo)
Nicko McBrain (bateria)

1. Where Eagles Dare
2. Revelations
3. Flight Of Icarus
4. Die With Your Boots On
5. The Trooper
6. Still Life
7. Quest For Fire
8. Sun And Steel
9. To Tame A Land

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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