L.A. Guns: Tracii Guns fala sobre Phil Lewis, novo disco e metal em entrevista exclusiva

A parceria que consagrou o L.A. Guns está de volta. Desde 2016, o vocalista Phil Lewis e o guitarrista Tracii Guns estão no comando da icônica banda, nascida em Los Angeles no auge do hard rock da Sunset Strip. A dupla sacramentou o retorno, após separação de quase 15 anos, no álbum “The Missing Peace”, lançado em 2017 pela Frontiers Records. Agora, o CD/DVD ao vivo “Made In Milan”, que foi divulgado no último dia 23 de março, chega para sacramentar o bom momento do grupo, completo por Johnny Martin (baixo) e Shane Fitzgibbon (bateria) – Michael Grant, guitarrista, deixou de fazer parte da formação recentemente, sendo substituído por Johnny Monaco, ex-Enuff Z’Nuff.

Em entrevista exclusiva, o guitarrista Tracii Guns falou do bom momento vivenciado no L.A. Guns, contou sobre a circunstância do retorno com Phil Lewis e, de forma solta, fez comentários pessoais sobre grupos de heavy metal, como Metallica e Judas Priest, e sua antiga banda, o Guns N’ Roses.

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Diferente de muitas reuniões, o retorno da parceria com Phil Lewis ocorreu de forma bastante natural, segundo Tracii Guns. “No fim de 2014, fizemos um evento de caridade de Natal. Depois, eu tinha um show em Las Vegas, onde Phil mora. Ele apareceu e tocamos algumas músicas do L.A. Guns. Meses depois, fizemos um evento para o aniversário do Hard Rock Cafe em Las Vegas, onde tocamos um repertório completo do L.A. Guns com amigos. Após isso, falamos sobre gravarmos e termos banda juntos de novo, daí, chegou uma grande oferta para um show em Los Angeles. Decidimos fazê-lo – essa nós fizemos pelo dinheiro (risos), mas funcionou. Então, fechamos com a gravadora, fizemos um ótimo disco e é isso, bem simples. Não foi como: ‘está na hora de fazer uma turnê de reunião’. Nesse meio, planos assim não funcionam”, disse.

A reunião entre Lewis e Guns resultou no ótimo disco “The Missing Peace”, que alia a vibe clássica do L.A. Guns a um “sopro de século 21”. Para Tracii, o êxito obtido com o álbum passa pelo seu período fora da banda – Phil e o guitarrista montaram versões diferentes do grupo. “Fiquei uns 10 anos fora do L.A. Guns e, durante isso, comecei a entender melhor o que era o L.A. Guns, já que  estava de fora. Com tanto tempo pensando na banda, na música e no que faz tudo ser especial… quando chegou a hora de gravar com Phil, eu já tinha material pronto que ficou de lado em outros projetos, justamente, por soar como L.A. Guns. É mais fácil, agora, fazer discos que soem como L.A. Guns, pois entendo melhor o nosso público e o que esperam de nós”, afirmou.

Agora, o L.A. Guns confirma a boa fase com o registro ao vivo “Made In Milan”, o primeiro “live” feito por Tracii Guns desde “A Night On The Strip” (1999), segundo ele próprio. “Tivemos um show de uma hora em Milão, durante o Frontiers Music Festival. Estávamos meio novos ali, o álbum não estava finalizado, então, tocamos as músicas que sabíamos como banda na época, há quase um ano. O registro ao vivo representa o início dessa reunião e o repertório é bem direto. É mais uma cápsula do tempo: captura os estágios iniciais de nossa reunião”, disse ele.

Ainda segundo Tracii, a gravação ao vivo não contém overdubs, apenas ligeiras edições. “É uma sensação assustadora (risos). Especificamente aquele show, pois viajamos para a Itália só para fazer uma apresentação, então, chegamos um dia antes e tivemos muito jet lag (descompensação horária), além do cansaço e do nervosismo de saber que tudo seria gravado. Então… (risos) eu não estava dos mais confortáveis”, afirmou.

No momento, o L.A. Guns está em uma pausa da turnê do “The Missing Peace”, mas há apresentações marcadas, para maio, na Oceania. E outras novidades virão em breve. “Estou compondo um novo disco durante essa pausa. Em algum ponto antes do Natal, estaremos no estúdio gravando. A Frontiers provavelmente vai querer lançá-lo em abril do ano que vem. Há alguma pressão e ela é boa. Mas, sim, temos um disco ao vivo saindo agora, um DVD e há muita coisa legal por vir”, disse.

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“Veneno” evitou reunião completa

Durante a entrevista, Tracii Guns não demonstrou nenhum interesse em contar com os demais integrantes da formação clássica do L.A. Guns – o guitarrista Mick Cripps, o baixista Kelly Nickels e o baterista Steve Riley – como complemento de sua reunião com Phil Lewis. O músico não cogitou nem mesmo o retorno de Cripps após a recente dispensa de Michael Grant.

“Não há chance de trazer Mick Cripps de volta. Sem entrar em filosofias profundas, para mim, não paramos no tempo. Você sempre deve seguir em frente e trabalhar com pessoas que estão adeptas à causa e querem fazer parte do time. O L.A. Guns nunca teve músicos contratados, apenas  membros. Está no sangue, pessoas que querem fazer isso. Mick não pode nos oferecer o que queremos. É como se fôssemos uma banda nova agora”, disse ele, que ainda comentou a saída de Michael Grant: “Não sei o que aconteceu com Michael. Foi entre ele e outras pessoas na banda. Obviamente, fui perguntado se estava bem com a saída dele e respondi: ‘façam o que acharem melhor, está ok’. Não posso fazer parte de dramas agora”, disse, com risos ao fim.

Ao ser questionado sobre a formação clássica por completo, Tracii Guns reafirmou o que disse sobre Mick Cripps. “Não, definitivamente não (quis reunir a formação clássica). Você aprende do passado e faz o que é melhor para formar uma nova família. Sabemos de onde nos manter afastados, sabemos de onde vem o veneno. Não precisamos do veneno novamente, senão morremos”, afirmou.

“‘Appetite For Destruction’ foi como a perfeição”

Geralmente simpático, Tracii Guns não parece gostar tanto quando é perguntado sobre o Guns N’ Roses – mesmo que a questão gere uma conexão com outra dúvida, como no caso dessa entrevista. No entanto, não deixa de dar uma resposta sobre o tema.

Recentemente, o guitarrista disse, em entrevista ao Ultimate Guitar, que a banda soaria mais pesada caso ele tivesse sido mantido na vaga, ocupada posteriormente por Slash. Ao Whiplash.Net, Tracii elucidou um pouco mais o seu ponto e revelou ser um “metalhead”.

“É engraçado que o Guns N’ Roses ainda apareça na minha vida, mas, a partir de certa perspectiva ao olhar mais de 30 anos para trás, digo que sim, com certeza. Slash era o guitarrista principal e um dos compositores centrais. Ele tem uma pegada mais ‘blues tradicional’, enquanto eu, embora tenha a base blues, também sou um ‘metalhead’. Em boa parte das coisas do L.A. Guns, Brides of Destruction ou Killing Machine, sou bem mais orientado ao estilo Randy Rhoads de se fazer rock and roll (risos). Não sou tão Joe Perry quanto Randy Rhoads. E, especialmente naquela época, quando eu gostava muito de W.A.S.P. e dos primeiros álbuns do Mötley Crüe, Accept e Iron Maiden”, disse.

Por outro lado, o músico reconhece que uma opção mais orientada ao heavy metal não seria a mais indicada. “Não seria a melhor coisa para o Guns N’ Roses. A química entre eles foi o que gerou ‘Appetite For Destruction’, que foi como a perfeição. Mas, sim, comigo seria mais pesado. E tenho muito orgulho de ter feito do Guns N’ Roses, foi uma parte legal da minha vida, então, só há coisas positivas a se dizer”, afirmou.

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Um legítimo metalhead

Embora tenha aparecido no mapa como um guitarrista do famigerado hair metal, Tracii Guns se considera um fã de heavy metal. Por outro lado, o músico disse que não gravaria um disco apenas com canções do estilo – pelo menos com o L.A. Guns. “Eu poderia fazer, mas os fãs do L.A. Guns são únicos. Pode ser culpa minha, pois os discos da banda são muito diversos e já têm o que há de mais metal que eu faria, sem abrir mão da pegada classic rock. Para mim, seria mais fácil gravar 10 músicas de pegada heavy metal, mas as pessoas reclamariam. É o cuidado que tenho após ter ficado 10 anos fora da banda, pois vejo o que os fãs do L.A. Guns esperam. É como o Metallica: é uma banda enorme, mas lançaram alguns discos questionáveis – dos quais eu gosto. Na música, todos têm uma opinião diferente e não se deve dizer a outra pessoa o que ela deve gostar”, afirmou.

A própria idade, com relação às performances ao vivo, é um fator preponderante para Tracii Guns apostar ou não em um material mais pesado – e, consequentemente, mais difícil de se reproduzir nos palcos. “Não somos os caras mais jovens, então, se eu fizesse um disco só com músicas tipo ‘Speed’, as pessoas gostariam de ouvi-las ao vivo e não teríamos tanta energia. A energia das músicas do L.A. Guns é incrível, só percebi após voltar à banda. Demanda muita energia para tocar músicas como ‘No Mercy’ e ‘Electric Gypsy’. Após voltar a tocar ao vivo e reconstruir os músculos, toquei por cima de shows gravados do Queen e do Guns N’ Roses em casa. Eles tocavam por mais tempo por show do que nós, mas o esforço para tocar esse tipo de música é 40% do que se gasta para tocar músicas do L.A. Guns. Então é isso. Você pode olhar para o Judas Priest, por exemplo, que são uma banda de metal, mas toca de forma mais ‘midtempo’. O L.A. Guns tende a acelerar o tempo”, disse.

América do Sul no horizonte?

O L.A. Guns veio ao Brasil em 2010, na versão de Tracii Guns que acompanhava o vocalista Jizzy Pearl – “um grande cantor, de estilo único e comparável apenas a Perry Farrell”, segundo Tracii. Em 2016, a banda voltaria, já com Phil Lewis nos vocais, mas a apresentação foi cancelada. “Tentamos planejar a volta à América do Sul algumas vezes, mas ainda não deu certo. Precisa ser algo confortável para ficar por aí por algum tempo, não só para um show. Estamos esperando pelo promotor correto para fazer uma turnê sólida, pois não queremos tocar só no Brasil ou só na Argentina, por exemplo”, afirmou.

Aparentemente, a banda não dá muita sorte com a América do Sul, já que também precisou cancelar uma apresentação no Chile, como abertura do Aerosmith, em 2017. “ Ficamos empolgados por tocar no Chile, quando abriríamos para o Aerosmith, mas algo estranho aconteceu e nós não tocamos, daí o Aerosmith também não tocou, o que foi estranho. Grandes shows podem ser cancelados por qualquer banda, por milhões de discrepâncias possíveis. Não é fácil como as pessoas pensam”, disse.

Ainda assim, Tracii demonstrou ter admiração por tocar no continente. “A América do Sul tem seu próprio planeta. É um tipo diferente de energia, mais agressiva e para cima. Não se dorme muito (risos). Possivelmente, os melhores fãs de rock and roll no mundo estão na América do Sul e Europa, mais especificamente na Inglaterra, para o nosso tipo de música”, afirmou.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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