O Quiet Riot teve cinco vocalistas na última década. Por mais que seja complicado substituir Kevin DuBrow, frontman falecido em 2007, nenhum cantor teve tempo para apresentar um trabalho consistente.
O último cantor a sair do Quiet Riot, inclusive, deixou o grupo em uma situação estranha. Seann Nicols (ex-Adler’s Appetite) foi dispensado e o disco gravado com ele, “Road Rage”, teve as vozes regravadas por seu substituto, James Durbin. Até onde se sabe, o instrumental sequer foi retrabalhado: Durbin cantou por cima, meio ao estilo karaokê, sem participar da composição.
A turbulência em meio à concepção de “Road Rage” fez, obviamente, com que o disco deixasse a impressão de que “falta algo”. E o passado recente não estava ao lado do Quiet Riot, visto que seu álbum anterior, “10” (2014), é o mais fraco da discografia do grupo.
Apesar de toda a turbulência, o resultado de “Road Rage” mostra que o Quiet Riot, ao menos, trabalhou em um repertório interessante – algo imprescindível para se obter um bom álbum. Com boas músicas em mãos, os demais problemas se tornam secundários.
Além do background buliçoso, a própria capa de “Road Rage” pode enganar o possível ouvinte. A arte parece apresentar um disco de heavy metal, mas o conteúdo tem forte influência do hard rock setentista, em especial de vertentes mais diretas, como o glam. A produção menos pesada – especialmente pela bateria de Frankie Banali – e os vocais de James Durbin, que têm certa afinidade com a interpretação pop rock, reforçam essa característica.
Ainda que a proposta de soar menos pesado seja interessante, há destaques negativos na produção. A voz de James Durbin soa mais encorpada em algumas músicas do que em outras, enquanto a bateria de Frankie Banali, embora mais seca, está com o volume bem maior que o restante do instrumental.
“Can’t Get Enough”, uma das melhores do disco, é um hard rock honesto e direto. James Durbin deixa boa impressão. “Getaway” e “Roll This Joint” descambam para um som visceral, de cozinha entrosada – ou seja, tipicamente Quiet Riot. Parecem demos perdida dos tempos do saudoso Kevin DuBrow.
“Freak Flag”, primeiro single, soa como uma colcha de retalhos: a voz de James Durbin não se encaixa na música, os versos não combinam com o refrão e o instrumental não dá liga. “Wasted” também tem problemas no registro vocal, que parece alheio ao restante, mas a faixa consegue cativar um pouco mais. A arrastada “Still Wild”, por sua vez, poderia convencer com um refrão melhor.
A direta “Make A Way”, de refrão quase soul, é interessante por suas transições inesperadas. “Renegades” mostra, outra vez, que a voz de James Durbin foi gravada ao estilo karaokê: o registro do cantor não combina com a faixa. A produção embola muito o refrão. A boa balada, “The Road”, única canção mais lenta do disco, ganha contornos pop rock pela performance de Durbin. Curioso, mas, no fim das contas, ficou legal.
“Shame”, ainda que por acidente, conta com uma produção bacana, bem setentista. É uma pena que a bateria encubra a guitarra do competente Alex Grossi. “Knock Em Down” começa como se fosse um b-side do Skank, mas o seu conteúdo é interessante e repleto de groove.
Sem um ambiente tumultuado, “Road Rage” poderia ser um disco nota 8. Entretanto, em diversas ocasiões, os erros na produção jogaram James Durbin na mesma fogueira que queimou, quase por completo, a guitarra por vezes inaudível de Alex Grossi.
Mesmo assim, os problemas de background e produção não foram capazes de apagar algumas boas músicas presentes no álbum. Faixas como “Can’t Get Enough”, “Roll This Joint” e “Knock Em Down” fazem com que, de certa forma, valha – um pouco – a pena.
Nota 6
James Durbin (vocais)
Alex Grossi (guitarra)
Chuck Wright (baixo)
Frankie Banali (bateria)
1. Can’t Get Enough
2. Getaway
3. Roll This Joint
4. Freak Flag
5. Wasted
6. Still Wild
7. Make A Way
8. Renegades
9. The Road
10. Shame
11. Knock Em Down
– Veja também: Os consistentes discos do Quiet Riot após a década de 1980
Foto: Joe Tamel / divulgação |