Menos pesado, novo disco do Royal Blood não empolga como o 1°

Resenha: Royal Blood – “How Did We Get So Dark?”

Formado em 2013, o Royal Blood se tornou uma das grandes sensações do rock britânico antes mesmo de lançar seu primeiro disco. Naquele ano, o baterista Matt Helders (Arctic Monkeys) causou leve burburinho ao utilizar uma camiseta da banda durante um show no Glastonbury Festival. Na época, o duo britânico não havia lançado nenhuma música, mas meses depois seria confirmado como atração de abertura do grupo de Matt Helders. Daí, quatro singles foram lançados até o primeiro disco, autointitulado, chegar a público em 2014.

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A expectativa se converteu em realidade: o Royal Blood conseguiu uma expressiva repercussão com seu primeiro álbum, que conquistou disco de platina no Reino Unido – mais de 300 mil cópias foram vendidas por lá – e uma satisfatória 17ª posição nas paradas dos Estados Unidos. O grupo fez mais de 250 apresentações entre 2014 e 2015 por todo o mundo, incluindo uma passagem pelo Rock In Rio 2015, e arrancou elogios até de Jimmy Page: o guitarrista do Led Zeppelin disse que o grupo era composto por “grandes músicos” e que sentia o início de um novo movimento no rock.

De fato, o vocalista e baixista Mike Kerr e o baterista Ben Thatcher são grandes músicos. Ao abdicarem das guitarras e tocarem apenas com baixo e bateria, assumem uma grande responsabilidade, mas mostram naturalidade e maestria tanto em estúdio quanto ao vivo. Só que muitos se assustam ao lançar um segundo álbum após o primeiro ter feito sucesso.

“How Did We Get So Dark?”, sequência da curta discografia do Royal Blood, chegou a público em 16 de junho de 2017. O registro tem sido gravado desde o ano passado no ICP Studios, na Bélgica, e pouco se falou sobre os trabalhos até o primeiro single sair em abril deste ano. Outras três músicas foram reveladas desde então e mostraram que, apesar da essência ter sido mantida, o duo parece desejar um caminho diferente – e menos pesado.

A impressão se confirma no disco como um todo. Em “How Did We Get So Dark?”, o Royal Blood não é, necessariamente, sofisticado, mas tem uma pegada menos “explosiva”. E isso conta de forma positiva e negativa ao mesmo tempo. É bom, porque experimentar novos caminhos é algo importante na arte como um todo. Contudo, nem sempre as coisas se encaixaram nesse disco.

Por um lado, algumas características do debut foram preservadas. As músicas seguem curtas – três minutos, em média -, o baixo de Mike Kerr segue ditando as regras e os vocais continuam com uma pegada suave e carismática em meio ao caos instrumental. Tudo isso já foi apresentado e aprovado anteriormente.

Na contramão, os “experimentos” me chamaram a atenção de forma mais negativa porque, no geral, contribuem para cortar o peso. Aqui, Ben Thatcher soa bem mais comportado e menos visceral, o que abrandou o som. O baixo ainda assume a função de reger as canções, mas sem o mesmo peso de outrora, além da quantidade ainda mais reduzida de solos. Os vocais principais, agora, são acompanhados de backing vocals, também gravados por Kerr, que dão uma interpretação mais indie rock e menos intensa às músicas. Em alguns momentos, fica legal. Em todas as faixas, nem tanto.

O Royal Blood optou por uma pegada um pouco mais diferente e, por isso, não dá para dizer que o grupo se intimidou com a responsabilidade de fazer o disco seguinte à estreia bem-sucedida. Apesar dos destaques negativos, o maior problema de “How Did We Get So Dark?” é mais estratégico do que puramente musical.

Mike Kerr e Ben Thatcher ainda conseguem entregar um bom trabalho, mas, aqui, tentaram se alinhar demais com uma pegada garage rock que pouco combina com a proposta soturna – e, até então, diferenciada – do duo. Além disso, as músicas mais fracas do disco foram colocadas logo no início da tracklist. O ouvinte menos paciente desiste da audição sem provar o que há de melhor no álbum.

Com tudo isso, “How Did We Get So Dark?” não soa tão bom quanto poderia. Não deixa de ser um disco digno de aplauso, nem de merecer uma boa avaliação por parte do público em geral. Só não é tudo aquilo que se esperava do Royal Blood.

Análise faixa a faixa

A faixa que abre “How Did We Get So Dark?” é a mesma que dá nome a ele. A canção cria uma expectativa, mas não entrega o que promete. Com os versos minimalistas, esperava-se um refrão de impacto, explosivo. Isso não é apresentado. Os backing vocals ao fim enterram tudo, pois são o cúmulo do brega. Na sequência, “Lights Out” lembra mais o primeiro disco, só que com um refrão menos intenso. Com essa música, primeiro single do álbum, fica clara a intenção do grupo: trilhar para um caminho levemente mais garage/indie rock, que lembra o Black Keys.

“I Only Lie When I Love You” reforça ainda mais essa tentativa de soar indie. No entanto, essa faixa acerta na proposta: é dançante de uma forma estranha, muito devido ao bom trabalho de Ben Thatcher. Guiada por um riff chato, a dispensável “She’s Creeping” lembra os momentos menos inspirados do Queens Of The Stone Age. Há poucos atrativos por aqui.

A partir de “Look Like You Know”, as coisas começam a melhorar. A pegada soturna do Royal Blood começa a dar as caras, em meio a um groove que lembra um White Stripes com hormônios. Tal essência é mantida com “Where Are You Now?”, música que traz o melhor do classic rock sob a ótica do duo. A seguir, a dark “Don’t Tell” mostra um pouco da recente evolução vocal de Mike Kerr, que explora oitavas e parece brincar com as linhas melódicas a ele propostas. Apesar de breve, o solo de baixo mata a saudade de quem gostou tanto do álbum anterior.

Uma das melhores do disco, “Hook, Line & Sinker” mostra um caminho interessante que poderia se seguir no álbum: um tom de sofisticação na construção rítmica e melódica, mas sem abrir mão de boas músicas, com ganchos e elementos atrativos no fim das contas. A excelente “Hole In Your Heart” também é ousada para o padrão Royal Blood, visto que o baixo e a bateria são acompanhados de teclados. Outro grande momento de “How Did We Get So Dark?”. “Sleep”, faixa mais longa – com pouco mais de 4min15seg, fecha o full-length de forma arrastada. Soa como uma (boa) sobra do registro de estreia.

Nota 7

Mike Kerr (vocal, baixo)
Ben Thatcher (bateria)

1. How Did We Get So Dark?
2. Lights Out
3. I Only Lie When I Love You
4. She’s Creeping
5. Look Like You Know
6. Where Are You Now?
7. Don’t Tell
8. Hook, Line & Sinker
9. Hole In Your Heart
10. Sleep

* Escrevi esse texto originalmente para o Whiplash.Net Rock e Heavy Metal.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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