“One More Light” é o ponto mais baixo da carreira do Linkin Park

Linkin Park – “One More Light”

É saudável mudar. Todas as bandas admiradas em nível mundial passaram por modificações em suas sonoridades. Costumo dizer que até o AC/DC e o Motörhead, bandas conhecidas no meio roqueiro por uma curiosa regularidade, adaptaram seus trabalhos conforme o desejo de seus líderes ou até do mercado vigente.

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Entretanto, interpreto que mudanças devem ser feitas gradualmente e com critério. Quando as alterações se apresentam de forma brusca e pouco alinhada a uma linha artística, o resultado pode ser desastroso. É o caso de “One More Light”, sétimo disco do Linkin Park.

Não dá para falar sobre o que achei de “One More Light” sem, antes, traçar o histórico do Linkin Park ao longo de sua carreira. A banda despontou no início dos anos 2000 como uma das referências do nu metal, apresentando, ao mesmo tempo, um som bem híbrido. Elementos dosados do rock alternativo, eletrônico e hip hop apareciam de forma distinta. Essencialmente, foi isso que fez com que o grupo se desgarrasse de outros nomes de seu segmento, como Slipknot, Korn e Limp Bizkit.

O Linkin Park era diferente. Isso é inegável. Desde o início, a sonoridade sempre foi um pouco mais comercial – o que não é nada negativo e ainda colaborou para que a banda se tornasse a mais famosa daquele movimento.

Todavia, a partir do terceiro disco de estúdio, “Minutes To Midnight” (2007), o grupo começou a mudar um pouco mais a fórmula. E caminhou-se, gradualmente, em seus dois discos seguintes – “A Thousand Sons” (2010) e “Living Things” (2012) -, para uma vertente mais experimental, com doses mais presentes de eletrônico. O último trabalho antes de “One More Light”, “The Hunting Party” (2014), interrompeu essa lenta metamorfose com um retorno às raízes roqueiras/metálicas. É um disco pesado e, de certa forma, mais sincero.

Mesmo com tantas mudanças, discos como “Minutes To Midnight”, “A Thousand Sons” e “Living Things” trazem algumas características da essência que consagrou o Linkin Park em seu início. Talvez seja esse o principal problema de “One More Light”: o álbum parece ter sido feito por outra banda.

Ao mesmo tempo que a mudança seja saudável, também é positivo manter um pouco da essência em tudo que se faz. O Linkin Park não considerou isso ao trabalhar em “One More Light”, que falha ao apresentar o mínimo de identidade própria. Até quem é aficionado por música pop/eletrônica vai ter uma sensação esquisita ao ouvir este álbum, porque soa genérico. As músicas são todas muito parecidas, as linhas melódicas se repetem – especialmente de cada refrão – e o resultado final é repetitivo. Não há as digitais dos seis músicos envolvidos.

Aliás, esse é outro problema de “One More Light”: não parece que há seis músicos envolvidos. Ainda que tenha colaborado com diversas músicas, Brad Delson praticamente não toca guitarra aqui. O baixo de Phoenix poderia ser substituído por qualquer sintetizador. A bateria de Rob Bourdon, por sua vez, apenas segue o que é proposto. Mike Shinoda só canta em três músicas – “Good Goodbye”, “Invisible” e “Sorry For Now”.

Com exceção de Chester Bennington e da dupla de programadores Mike Shinoda e Joe Hahn, os demais músicos não são notados em “One More Light”. Cabe destacar, ainda, que o próprio Chester não soa como ele próprio. Ainda que não seja necessário berrar como um louco para agradar os fãs – até porque a idade chega e, com ela, os desgastes aparecem na voz -, é bem-vindo aplicar um pouco de feeling ao cantar.

No fim das contas, “One More Light” é o ponto mais baixo da carreira do Linkin Park. Não há um destaque na lista de faixas, apenas músicas menos piores que as outras – “Heavy”, por exemplo, é uma das poucas canções que pode ser classificada como “razoável”.

A baixa qualidade do resultado final não tem a menor relação com a mudança de gênero. Não vejo problema nenhum em transitar pelo pop ou pelo eletrônico. Acho, ainda, que aquele papo de chamar banda de “vendida” é uma enorme palhaçada. O problema, mesmo, é soar genérico e sem inspiração.

Nota 2

Linkin Park – “One More Light”
Lançado em 19 de maio de 2017

Músicos:

Chester Bennington (vocal)
Rob Bourdon (bateria)
Brad Delson (guitarra)
Phoenix (baixo)
Joe Hahn (programadores)
Mike Shinoda (teclados, programadores, rap vocals na faixa 2, vocais principais nas faixas 5 e 7)

Músicos adicionais:

Kiiara (vocais na faixa 6)
Pusha T (rap vocals na faixa 2)
Stormzy (rap vocals na faixa 2)
Ilsey Juber (backing vocals nas faixas 3 e 10)
Ross Golan (backing vocals na faixa 8)
Eg White (guitarra e piano na faixa 9)
Jon Green (guitarra adicional, backing vocals e baixo na faixa 1)
Jesse Shatkin (teclados e programadores adicionais na faixa 5)
Andrew Jackson (guitarra adicional na faixa 3)

Faixas:

1. Nobody Can Save Me
2. Good Goodbye (com Pusha T e Stormzy)
3. Talking to Myself
4. Battle Symphony
5. Invisible
6. Heavy (com Kiiara)
7. Sorry for Now
8. Halfway Right
9. One More Light
10. Sharp Edges

Ouça “One More Light” na íntegra:

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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