Em uma entrevista recente ao site Philly.com, o guitarrista do Metallica, Kirk Hammett, destacou algo que muitos não percebem, mas é verdade: James Hetfield, frontman da banda, é um grande letrista.
“James é um poeta, cara. Sempre que um disco está ficando pronto, fico surpreso com seu talento com as palavras, sua sensibilidade para com a natureza humana e o diálogo humano”, afirmou. “Você não consegue isso dele quando está conversando ou passando tempo com ele, mas ele é muito sensível e bem afinado.”
Ainda que sejam importantes e reconhecidas no metal, as letras das músicas nem sempre estão em foco ou primeiro plano quando se fala sobre os grandes clássicos do estilo. Muitas vezes, priorizamos riffs, melodias, construções rítmicas, entre outros fatores ao pautarmos o gênero.
Diante dessa declaração de Hammett, separei sete composições de James Hetfield com letras muito boas. Essa lista não tem o intuito de estabelecer um ranking ou apontar que as escolhidas são as melhores: são apenas sete canções que se destacaram em meu ver. Citações adicionais nos comentários são bem-vindas.
Veja:
“Fade To Black” (presente no disco “Ride The Lightning”, 1984)
A primeira baladinha do Metallica aborda um tema nada leve. A canção, basicamente, trata de tendências suicidas.
A composição trata de alguém que está prestes a abrir mão da vida. E, ainda que de forma figurada, essa desistência pode se refletir no que acontecia com o Metallica naquele período.
Na época em que “Fade To Black” foi composta, o equipamento do Metallica havia sido roubado. Os músicos, que exageravam na bebida naquele período, também foram expulsos da casa de seu empresário por se alcoolizarem demais.
Em tom depressivo, James Hetfield, que também havia perdido a mãe em 1979 – e demorou bastante para superar isso -, colocou suas frustrações para fora e, aparentemente, elevou a um nível que soou como tendência suicida. Liricamente, casou com a composição melódica, de tonalidade mais triste e com um clímax intenso em seu fim.
Música:
Letra:
Life it seems will fade away
Drifting further every day
Getting lost within myself
Nothing matters no one else
I have lost the will to live
Simply nothing more to give
There is nothing more for me
Need the end to set me free
Things not what they used to be
Missing one inside of me
Deathly lost this can’t be real
Can’t stand this hell I feel
Emptiness is filling me
To the point of agony
Growing darkness taking dawn
I was me, but now he’s gone
No one but me can save myself, but it’s too late
Now I can’t think, think why I should even try
Yesterday seems as though it never existed
Death greets me warm, now I will just say goodbye
“Master Of Puppets” (presente no disco “Master Of Puppets”, 1986)
Um dos maiores clássicos do metal é um relato bastante realista sobre as drogas e o álcool. Os efeitos negativos são destacados ao longo da letra, diferente de composições de outras bandas, que tratavam apenas do que havia de “positivo” em estar chapado.
Em entrevistas, James Hetfield confirma que a letra tinha o intuito de transmitir essa ideia. “(A letra) fala bastante sobre drogas. Sobre como as coisas se modificam. Ao invés de você controlar o que está fazendo, são as drogas que te controlam”, disse, em uma ocasião, à Thrasher Magazine.
Música:
Letra:
End of passion play, crumbling away
I’m your source of self-destruction
Veins that pump with fear, sucking dark is clear
Leading on your deaths construction
Taste me you will see
More is all you need
Dedicated to
How I’m killing you
Come crawling faster
Obey your Master
Your life burns faster
Obey your Master
Master
Master of Puppets I’m pulling your strings
Twisting your mind and smashing your dreams
Blinded by me, you can’t see a thing
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Master
Master
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Master
Master
Needlework the way, never you betray
Life of death becoming clearer
Pain monopoly, ritual misery
Chop your breakfast on a mirror
Taste me you will see
More is all you need
Dedicated to
How I’m killing you
Come crawling faster
Obey your Master
Your life burns faster
Obey your Master
Master
Master of Puppets I’m pulling your strings
Twisting your mind and smashing your dreams
Blinded by me, you can’t see a thing
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Master
Master
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Master
Master
Master, Master, where’s the dreams that I’ve been after?
Master, Master, you promised only lies
Laughter, Laughter, all I hear or see is laughter
Laughter, Laughter, laughing at my cries
Hell is worth all that, natural habitat
Just a rhyme without a reason
Neverending maze, drift on numbered days
now your life is out of season
I will occupy
I will help you die
I will run through you
Now I rule you too
Come crawling faster
Obey your Master
Your life burns faster
Obey your Master
Master
Master of Puppets I’m pulling your strings
Twisting your mind and smashing your dreams
Blinded by me, you can’t see a thing
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Master
Master
Just call my name, ‘cause I’ll hear you scream
Master
Master
“One” (presente no disco “…And Justice For All”, 1988)
Uma das letras mais complexas do Metallica, “One” é baseada no romance “Johnny vai à guerra” (1939), de Dalton Trumbo. A obra retrata a história de um soldado cujo corpo é praticamente destruído após ele ter ido à Primeira Guerra Mundial.
A composição narra que esse soldado ficou sem braços, pernas, olhos, boca, nariz e orelhas. Ou seja: ele não pode fazer praticamente nada. O único órgão que permaneceu intacto foi o seu cérebro, o que o deixou preso em seu próprio corpo.
A letra descreve tal sensação com maestria e a melodia dá um pano de fundo perfeito para a narrativa. Com o clipe, que tem cenas da adaptação cinematográfica para “Johnny vai à guerra”, o “produto” fica completo.
Música:
Letra:
I can’t remember anything
Can’t tell if this is true or dream
Deep down inside I feel to scream
This terrible silence stops me
Now that the war is through with me
I’m waking up, I cannot see
That there is not much left of me
Nothing is real but pain now
Hold my breath as I wish for death
Oh please God, wake me
Back in the womb it’s much too real
In pumps life that I must feel
But can’t look forward to reveal
Look to the time when I’ll live
Fed through the tube that sticks in me
Just like a wartime novelty
Tied to machines that make me be
Cut this life off from me
Hold my breath as I wish for death
Oh please God, wake me
Now the world is gone, I’m just one
Oh God help me
Hold my breath as I wish for death
Oh please God, help me
Darkness imprisoning me
All that I see
Absolute horror
I cannot live
I cannot die
Trapped in myself
Body my holding cell
Landmine has taken my sight
Taken my speech
Taken my hearing
Taken my arms
Taken my legs
Taken my soul
Left me with life in hell
“The Unforgiven” (presente no disco “Metallica”, 1991)
“The Unforgiven” representa o início de uma trilogia de músicas da mesma temática. Na primeira canção, James Hetfield relata a luta de um indivíduo contra pessoas que gostam de subjugá-lo.
Interpreto “The Unforgiven” como uma das composições mais pessoais de James Hetfield – e é por isso que acabou ficando tão boa. A letra é um reflexo dos problemas que James teve na infância e adolescência.
Na infância, James tinha problemas para entender a religiosidade de sua família. Na adolescência, os problemas se intensificaram: o pai abandonou a casa quando ele tinha apenas 13 anos, enquanto a mãe nunca conseguiu cuidar muito bem de James e de sua irmã.
Esse cenário acabou transformando James Hetfield em uma espécie de desajustado. Ele já relatou algumas vezes que nunca conseguiu se incluir na escola, nem ter grandes amizades ao longo da adolescência.
Tudo isso se refletiu nessa composição, em meu ver. Sempre subjugado, James Hetfield tentou, até atingir certo estado de maturidade, agradar a todos – e esqueceu de si. Enxergo os versos desta forma, ciente da história de vida de Hetfield, ainda que a canção possa ser interpretada de diversas maneiras.
Música:
Letra:
New blood joins this earth
And quickly he’s subdued
Through constant pained disgrace
The young boy learns their rules
With time the child draws in
This whipping boy done wrong
Deprived of all his thoughts
The young man struggles on and on he’s known
A vow unto his own
That never from this day
His will they’ll take away
What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through in what I’ve shown
Never be
Never see
Won’t see what might have been
What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through in what I’ve shown
Never free
Never me
So I dub thee unforgiven
They dedicate their lives
To running all of his
He tries to please them all
This bitter man he is
Throughout his life the same
He’s battled constantly
This fight he cannot win
A tired man they see no longer cares
The old man then prepares
To die regretfully
That old man here is me
What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through in what I’ve shown
Never be
Never see
Won’t see what might have been
What I’ve felt
What I’ve known
Never shined through in what I’ve shown
Never free
Never me
So I dub the unforgiven
You labeled me
I’ll label you
So I dub the unforgiven
“Wherever I May Roam” (presente no disco “Metallica”, 1991)
Mais uma letra do “Black Album” de caráter pessoal, “Wherever I May Roam” é uma expressão praticamente coletiva das dificuldades pelas quais o Metallica passou na década de 1980. O sonho de se tornar uma estrela do rock movimentava cada músico do grupo, entretanto, a saudade de casa, dos familiares e dos amigos sempre dificultava a situação.
“Wherever I May Roam” resume a sensação do quarteto – que, àquela altura, já contava com Jason Newsted no baixo – com relação à vida na estrada. Além disso, serve como uma espécie de retrato do motivo pelo qual o Metallica desfrutou de tanto sucesso a partir do “Black Album”: muito trabalho.
Música:
Letra:
(And the road becomes my bride)
And the road becomes my bride
I have stripped of all but pride
So in her I do confide
And she keeps me satisfied
Gives me all I need
And with dust in throat I crave
Only knowledge will I save
To the game you stay a slave
Roamer, wanderer
Nomad, vagabond
Call me what you will
But I’ll take my time anywhere
Free to speak my mind anywhere
And I’ll redefine anywhere
Anywhere I roam
Where I lay my head is home
(And the earth becomes my throne)
And the earth becomes my throne
I adapt to the unknown
Under wandering stars I’ve grown
By myself but not alone
I ask no one
And my ties are severed clean
Less I have the more I gain
Off the beaten path I reign
Roamer, wanderer
Nomad, vagabond
Call me what you will
But I’ll take my time anywhere
I’m free to speak my mind anywhere
And I’ll never mind anywhere
Anywhere I roam
Where I lay my head is home
But I’ll take my time anywhere
I’m free to speak my mind
And I’ll take my find anywhere
Anywhere I roam
Where I lay my head is home
I say!
But I’ll take my time anywhere
I’m free to speak my mind anywhere
And I’ll redefine anywhere
Anywhere I roam
Where I lay my head is home
Carved upon my stone
My body lie, but still I roam,
Yeah yeah!
Wherever I may roam
Wherever I may roam
Woah
Wherever I may roam
Wherever I may roam
Yeah!
Wherever I may wander, wander, wander
Wherever I may roam
Yeah, yeah, wherever I may roam
Yeah, yeah, wherever I may roam
Wherever I may roam
Wherever I may roam
“Nothing Else Matters” (presente no disco “Metallica”, 1991)
Talvez a única música de amor do Metallica, “Nothing Else Matters” tem sentido ambíguo. E pode ser interpretada de diversas maneiras.
A canção foi composta em 1990, inicialmente, por James Hetfield, enquanto ele estava no telefone com sua namorada à época. Ele apresentou a composição, já com seu riff inicial, a Lars Ulrich, que insistiu para que a canção fosse aproveitada. James relutou, mas, no fim, acabou cedendo, especialmente após insistência do produtor Bob Rock.
Em uma entrevista à MTV, James Hetfield disse que fez a música com base no “amor fraterno”. Não necessariamente entre familiares de sangue, mas, sim, entre amigos que se consideram irmãos.
A canção pode obter ambas as interpretações, visto que não se fala sobre romance, declaradamente, em nenhum trecho. E essa possível ambiguidade a torna uma das letras mais charmosas do Metallica.
Música:
Letra:
So close no matter how far
Couldn’t be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters
Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don’t just say
And nothing else matters
Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters
Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know
So close no matter how far
Couldn’t be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters
Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know
Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don’t just say
And nothing else matters
Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters
Never cared for what they say
Never cared for games they play
Never cared for what they do
Never cared for what they know
And I know
So close no matter how far
Couldn’t be much more from the heart
Forever trusting who we are
No nothing else matters
“Bleeding Me” (presente no disco “Load”, 1996)
Uma das grandes músicas de “Load” traz um pouco dos problemas pelos quais James Hetfield passou, em especial, nos anos 1990. Inicialmente, o significado da letra não havia sido revelado por ninguém – Jason Newsted achava que ela falava sobre alguém que estava sendo torturado mentalmente -, mas a canção fala sobre as batalhas internas de Hetfield.
A revelação foi feita pelo próprio James, em entrevista à revista “Playboy”, em 2001. “Na época de ‘Load’, senti que queria parar de beber. Pensava: ‘talvez eu esteja perdendo algo, todos parecem estar tão felizes… também quero estar feliz’. Minha vida era planejada a partir de uma ressaca. ‘Os Misfits vão tocar na cidade nesta sexta, então sábado é um dia de ressaca’. Perdi muitos dias na minha vida”, disse.
Ele complementa: “Ir à terapia por um ano me fez aprender bastante sobre mim. Há muitas coisas que te assustam quando você está crescendo, você não sabe o motivo. ‘Bleeding Me’ é sobre isso: eu estava tentando sangrar tudo que havia de ruim dentro de mim. Quando eu estava na terapia, descobri coisas feias ali. Um ponto obscuro”.
Música:
Letra:
I’m digging my way
I’m digging my way to something
I’m digging my way to something better
I’m pushing to stay
I’m pushing to stay with something
I’m pushing to stay with something better
I’m sowing the seeds
I’m sowing the seeds I’ve taken
I’m sowing the seeds I take for granted
This thorn in my side
This thorn in my side is from the tree
This thorn in my side is from the tree I’ve planted
It tears me and I bleed
And I bleed
Caught under wheels’ roll
I take the leech, I’m bleeding me
Can’t stop to save my soul
I take the leash that’s leading me
I’m bleeding me
I can’t take it
Caught under wheels’ roll
The bleeding of me
Of me
The bleeding of me
I am the beast that feeds the feast
I am the blood, I am release
Come make me pure
Bleed me a cure
I’m caught, I’m caught, I’m caught under
Caught under wheels’ roll
I take that leech, I’m bleeding me
Can’t stop to save my soul
I take the leash that’s leading me
I’m bleeding me
I can’t take it
I can’t take it
I can’t take it
The bleeding of me
I’m digging my way
I’m digging my way to something
I’m digging my way to something better
I’m pushing to stay
I’m pushing to stay with something
I’m pushing to stay with something better
With something better