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Chris Cornell e a sensação de que poderia ter oferecido ainda mais

Chris Cornell se foi. O frontman do Soundgarden, do Audioslave e de sua própria carreira solo foi encontrado morto, na noite de quarta-feira, 17 de maio de 2017, em um quarto de hotel, na cidade de Detroit, Estados Unidos. Ele tinha apenas 52 anos.

Curiosamente, Cornell se foi em meio a uma agenda de trabalho. Trata-se de algo incomum na vida dos rockstars que morrem antes da chamada “terceira idade”: aqueles que cometem suicídio ou falecem devido a uma overdose, geralmente, estão afastados de suas funções quando os fatídicos ocorridos tomam forma.

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Não foi o caso de Chris. Ele havia se apresentado, com o Soundgarden, na mesma noite e cidade em que faleceu. Depois, iria para Columbus, onde também tocaria com a banda. Havia shows marcados, também, para os dias 20, 22, 25, 26 e 27 do mesmo mês. O grupo estava em turnê desde 28 de abril e havia cumprido mais de 10 datas desde então.

O ritmo intenso de trabalho sempre esteve envolvido na carreira de Chris Cornell. Desde que surgiu com o Soundgarden, ainda no fim da década de 1980, Chris se mostrou um baita workaholic.

Por isso, a morte de Chris Cornell me deixa um pouco mais decepcionado do que o falecimento de outros músicos mais velhos, ou com problemas corriqueiros. É evidente que toda morte deve ser lamentada – e, por mim, todas elas são -, contudo, enquanto fã de Cornell e seus trabalhos, sinto não só que ele tinha muito a oferecer, mas, também, que ele gostaria de oferecer tudo isto enquanto pudesse. Estava em plena atividade, em ótima forma e não dava sinais de que interromperia suas atividades tão cedo – os vídeos do último show de sua vida não me deixam mentir.

Circunstâncias e histórico

Ainda não se sabe a exata circunstância da morte de Chris Cornell. Foi confirmado que ele se matou por enforcamento, mas ele pode ter cometido suicídio ou se asfixiado acidentalmente – algo na linha do que aconteceu com Michael Hutchence (INXS), Hide (X Japan) e até astros de outros segmentos.

Também não dá para saber se ele seria capaz de tirar a própria vida neste momento, visto que estava bem casado, tinha três filhos (dois do casamento atual) e, diferente de outros contemporâneos, não aparentava ter problemas com álcool ou drogas, nem distúrbios que o fizessem ter tendências suicidas.

Sabe-se, por outro lado, que Chris Cornell teve uma adolescência problemática. Começou a consumir drogas aos 13 anos – e parou com 14 -, lidou com a depressão após o divórcio de seus pais, foi expulso de escolas e passou boa parte de sua juventude como um “lobo solitário”. Por outro lado, não imagino que tudo isso seja suficiente para fazê-lo cometer suicídio tantos anos depois.

Vale destacar, ainda, que a música só se tornou mais presente no início da vida adulta de Cornell e foi o que preencheu a sua rotina. Por isso, Chris Cornell era um workaholic. Ele dependia de seu trabalho, não apenas em um âmbito financeiro, mas, também, como uma forma de se manter entretido.

Um “vício”

“Viciado” em entregar bons trabalhos a seu público, Chris Cornell também foi um dos poucos nomes daquela geração que se mostrou capaz de se reinventar – tanto que atingiu o sucesso, novamente, com o Audioslave, nos anos 2000, e ainda emplacou músicas em trilhas sonoras de filmes, como “You Know My Name” (“007: Cassino Royale”) e “The Keeper” (“Machine Gun Preacher”). Para mim, ser workaholic em um meio que te acomoda é algo incrível e que merece menção.

Além disso, Chris Cornell sempre foi avesso à concepção que se empregou entre a cena grunge de Seattle. Enquanto muitos músicos daquele cenário se mostraram avessos à fama, Chris nunca deixou de buscar o êxito. Não que trabalhasse em prol do sucesso comercial: era visto, por ele, como consequência de bons discos, músicas ou shows.

Ao todo, em pouco menos de 30 anos, Chris Cornell lançou 15 discos de estúdio em carreira solo e com bandas, fora projetos distintos (registros ao vivo, EPs, participações especiais, etc). Um álbum divulgado a cada dois anos, em média aproximada.

Na estrada, não era diferente: Cornell mantinha uma agenda intensa de shows. Ele nunca passou por um grande hiato fora dos palcos. Sempre demonstrou, show após show, grande comprometimento com o que fazia.

Graças à extensa cronologia de atividades que envolvem a biografia de Chris Cornell, sua morte nos pegou de surpresa. E, inevitavelmente, ele teria nos presenteado com outros bons trabalhos se continuasse por aí.

É uma pena que Chris Cornell tenha ido – e, para piorar, tão cedo, com tanto a oferecer. Descanse em paz, Cornell.

* Escrevi esse texto originalmente para o Whiplash.Net Rock e Heavy Metal.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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