Oito anos após “Death Magnetic” (2008), o Metallica voltou a lançar um novo álbum. “Hardwired…To Self-Destruct” é o décimo da discografia da banda americana, que é, indiscutivelmente, a mais famosa e bem-sucedida do heavy metal.
Diferente de outros contemporâneos, o Metallica não é o tipo de banda acostumada a gravar vários discos em série, especialmente depois que despontou de vez para o mainstream com o “Black Album” (1991). O grupo gravou apenas seis álbuns em 26 anos, se desconsiderarmos a colaboração com Lou Reed, “Lulu” (2011), e o disco de covers, “Garage Inc.” (1998).
Como o hiato sem material inédito era grande, eu, particularmente, esperava que “Hardwired…To Self-Destruct” fosse um disco arrasa-quarteirões. Ainda mais porque o antecessor, “Death Magnetic”, é muito bom. Estava ansioso, também, para saber por qual caminho o Metallica enveredaria em seu novo trabalho, visto que o grupo sempre praticou um heavy/thrash metal híbrido, que agrega influências distintas.
Fiquei surpreso quando percebi, logo na primeira audição que “Hardwired…To Self-Destruct” era o disco mais Black Sabbath da carreira do Metallica. Pouco ousado para uma banda que se aventurou até pelo nu metal (e foi injustamente massacrada por isso) e pouco permaneceu em uma zona de conforto.
“Hardwired…To Self-Destruct” soa doom metal em determinados momentos e NWOBHM em outros – o que favorece algumas canções e compromete outras. Há poucas passagens em que o Metallica coloca o pé no acelerador neste disco. Velocidade foi, inclusive, uma característica que os dois antecessores, “St. Anger” e “Death Magnetic”, tinham de sobra.
Por tudo isso, “Hardwired…To Self-Destruct” não é um disco fácil de ser digerido para quem está acostumado com outros discos do Metallica. Até por isso, preferi esperar um pouco e ouví-lo mais antes de escrever sobre. Ainda assim, nota-se que este álbum não reflete um dos melhores momentos da banda.
A música que abre o disco, “Hardwired”, é imponente. Um thrash curto (de três minutos), direto e grosseiro, que o Metallica não fazia há um bom tempo. Na sequência, “Atlas, Rise!” soa como uma continuação do que foi feito no álbum “Death Magnetic”, com uma verve NWOBHM nas passagens instrumentais – especialmente na segunda metade da canção, que conta com riffs muito parecidos com os de “Hallowed Be Thy Name”, do Iron Maiden.
“Now That We’re Dead” é boa, mas poderia ser melhor. A faixa, de sete minutos de duração, poderia ser facilmente encurtada. Começa sedutora, mas repete a mesma entrada climática no miolo da canção de forma desnecessária. “Moth Into Flame” é, disparada, a melhor do disco. Riffs bem colocados, refrão poderoso, passagens instrumentais precisas… tudo soa perfeito aqui.
Mais arrastada, “Dream No More” tem uma interessante pegada doom. James Hetfield se destaca com bons vocais. “Halo On Fire” aposta nas mudanças de andamento. Ela começa com um instrumental de impacto, com direito a guitarras cruzadas, cai para um dedilhado nos versos e descamba para um refrão pesado. Boa faixa, apesar de também não justificar seus oito minutos de duração – os riffs se repetem e os solos de Kirk Hammett não empolgam.
O disco perde um pouco de fôlego em sua metade. “Confusion” começa arrasadora e é guiada por bons riffs, mas não se impõe nas partes cantadas. E Kirk Hammett volta a revelar porque falam tanto de seu uso do pedal wah-wah: o recurso aparece até quando não se faz necessidade. A sabbática “Manunkind” tem uma pegada diferenciada. O instrumental dinâmico mostra uma saída vertiginosa da zona de conforto do grupo, especialmente por parte do baterista Lars Ulrich, que manda muito bem aqui.
“Here Comes Revenge” não é ruim, entretanto, transmite a ideia de “já ouvi isso antes”. Segue o mesmo campo harmônico de outras músicas do álbum, sem muitas surpresas. A entrada gradual de “Am I Savage?” passa a impressão de que a faixa será uma paulada, mas, na verdade, é arrastada demais. Tive a sensação de que Kirk Hammett poderia dar intensidade com um solo, mas ele parece ser o homem de um solo só: repetiu os mesmos fraseados de outrora. A faixa não compromete a audição, mas não está entre os melhores momentos do disco.
Feita em homenagem a Lemmy Kilmister, “Murder One” é o momento mais decepcionante do disco. Desculpem-me, mas a música é ruim. Não há inspiração alguma. Os riffs chatos e as linhas vocais pouco inventivas ficam ainda piores com o andamento arrastado. “Spit Out The Bone” fecha o disco em um padrão mais elevado. A banda, enfim, coloca o pé no acelerador e capricha nos andamentos. Até Robert Trujillo aparece com algum destaque por aqui, emulando Cliff Burton em um pequeno solo com distorção. Ótima canção.
Não sou, nem de longe, o ouvinte que espera o retorno do Metallica ao thrash oitentista. É besteira aguardar por isso, bem como representa um desrespeito ao que o grupo fez da década de 1990 em diante. “Black Album” (1991) e “Death Magnetic” estão entre os meus álbuns preferidos da banda e digo isso sem o menor receio.
Entretanto, é preciso ter algum senso crítico para reconhecer que “Hardwired…To Self-Destruct” não é o melhor que o Metallica pode oferecer – e era justamente isso o que os fãs esperavam após oito anos sem material inédito. Algumas faixas aqui presentes são incríveis, como “Moth Into Flame”, “Spit Out The Bone” e “Manunkind”, entre outras. Só que o conjunto da obra não favorece.
Isso se deve ao fato de “Hardwired…To Self-Destruct” ter uma influência descabida de Black Sabbath em seu som. Ao longo da tracklist, o Metallica tenta praticar um doom metal deslocado, com passagens arrastadas que soam fora de contexto e sem propósito.
No fim das contas, “Hardwired…To Self-Destruct” é um bom disco e nada mais. Tem seus ótimos momentos e tem faixas que, dependendo do humor do ouvinte, merecem ser puladas. O texto parece depreciativo em comparação à nota 7 que o disco teve na minha opinião, mas os comentários críticos foram feitos porque a expectativa era de um álbum tão bom quanto (ou até melhor que) “Death Magnetic”.
Nota 7
Abaixo, playlist com todas as músicas (e seus respectivos clipes) de “Hardwired…To Self-Destruct”:
James Hetfield (vocal, guitarra)
Kirk Hammett (guitarra)
Robert Trujillo (baixo)
Lars Ulrich (bateria)
1. Hardwired
2. Atlas, Rise!
3. Now That We’re Dead
4. Moth Into Flame
5. Dream No More
6. Halo on Fire
7. Confusion
8. Manunkind
9. Here Comes Revenge
10. Am I Savage?
11. Murder One
12. Spit Out the Bone