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O AC/DC deve mesmo continuar?

A última semana foi marcante para o AC/DC. Não só pelo fim da turbulenta “Rock Or Bust Tour”, como também pela saída do baixista Cliff Williams, que já havia sido anunciada anteriormente, mas foi sacramentada com o encerramento da turnê.

Cliff Williams era, ao lado de Angus Young, o último resquício da formação responsável por gravar discos como “Back In Black” (1980) e “For Those About To Rock” (1981), bem como por levar o AC/DC adiante de 1996 até 2014, quando as coisas começaram a desandar.

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Retrospecto

Quase sempre afastado de polêmicas, o AC/DC passou a ocupar as manchetes de sites como o Whiplash com fatores extra-musicais a partir de 2014. Naquele ano, a aposentadoria de Malcolm Young, praticamente um dos braços da banda, foi anunciada. Já debilitado pela demência, o guitarrista precisava de tratamento. A vaga ficou em família: Stevie Young, sobrinho de Angus e Malcolm, assumiu o posto.

Ainda naquele ano, a banda voltou a estar sob os holofotes graças a Phil Rudd. O baterista já havia se envolvido em diversos problemas com a polícia entre 2010 e 2014. A gota d’água foi quando Rudd foi acusado de planejar um assassinato, além de porte de drogas. O músico chegou a gravar “Rock Or Bust”, mas foi substituído por Chris Slade para a turnê.

Em 2016, foi a vez de Brian Johnson, com problemas auditivos, deixar a banda. Houve polêmica relacionada à sua saída, pois o comediante Jim Breuer, amigo pessoal de Johnson, disse que o vocalista foi dispensado da banda “como um vendedor do Walmart”. Axl Rose, frontman do Guns N’ Roses, assumiu o posto.

Diante de tudo isso, Cliff Williams decidiu abandonar o barco. “É sobre isso que sei pelos últimos 40 anos, mas após essa turnê eu vou me retirar das turnês e gravações. Perder Malcolm (Young), a coisa com Phil (Rudd) e agora com Brian (Johnson), é uma mudança grande. Sinto em minhas vísceras que essa é a coisa certa”, disse, à época do anúncio. Há, claramente, uma relação com as modificações na formação.

Continuação

Especula-se que Angus Young vá continuar com o AC/DC com um músico contratado no lugar de Cliff Williams. Com isso, a ideia era seguir com Axl Rose nos vocais, Stevie Young na guitarra base e Chris Slade na bateria.

Por um lado, a banda soa legal. É possível perceber isso em vídeos de shows da “Rock Or Bust Tour”. O maior receio, que era com relação a Axl Rose – os competentes Stevie Young e Chris Slade já haviam integrado a banda em algum momento no passado -, veio por água quando ele subiu ao palco para a sua primeira apresentação. Rose se saiu muito bem.

Além disso, vale destacar que Cliff Williams, o último a sair fora Angus Young, não contribuía com composições e não é dono de uma sonoridade que pode ser chamada de “marcante”. De todos os músicos que deixaram o AC/DC nos últimos dois anos, seria o de substituição mais fácil.

Por outro lado, mesmo que de forma simbólica, Williams dá o seu recado: a banda está, realmente, próxima de seu fim. Axl Rose ajudou muito a banda, mas é complicado imaginar que um próximo disco com ele nos vocais, por exemplo, seja mais AC/DC do que “Angus Young solo”.

Aliás, logo o AC/DC, a banda que passou por pouquíssimas mudanças em sua formação ao longo das últimas quatro décadas – a mais marcante, que foi a saída de Bon Scott, ocorreu em função de seu falecimento. É bizarro pensar que o grupo poderia lançar um disco sem Brian Johnson, Phil Rudd e/ou Cliff Williams a essa altura do campeonato.

O fato de ter Stevie Young e Chris Slade, velhos conhecidos, na formação faz com que a proposta de continuação ao AC/DC não seja tão absurda. Ainda assim, será que vale a pena?

Cautela

Não sou do tipo que trata bandas como instituições intocáveis. Para mim, nunca houve problema com o KISS sem Ace Frehley e Peter Criss, Van Halen sem David Lee Roth ou Michael Anthony, Deep Purple sem Ian Gillan ou Ritchie Blackmore, Bon Jovi sem Richie Sambora (já estava ruim há tempos), Mötley Crüe sem Vince Neil e por aí vai.

O problema é que, no caso do AC/DC, sempre foram aqueles caras. E, agora, resta somente um dos caras. É algo tipo o Foreigner somente com Mick Jones: até bom, mas outra coisa, né?

Neste caso, parece-me que a opção mais sensata seria apostar mesmo em um projeto diferente, com os demais músicos que finalizaram a “Rock Or Bust Tour” (incluindo Axl Rose, é claro). Pensar um pouco menos em grana, em aproveitar o nome construído com outras pessoas, e mais no prazer de se fazer música.

Seja qual for a decisão tomada, não vou deixar de acompanhar o que Angus Young fizer no futuro em função de nomes, instituições ou o que seja. E imagino que a maior parte agirá da mesma forma.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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