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Reflexões sobre “Rocks” e “Pump”, os dois auges do Aerosmith

Algumas bandas passam por dois momentos diferentes de auge. Costuma ser algo exclusivo de grandes grupos, que conseguem destaque com públicos distintos e, especialmente, praticando sonoridades que nitidamente caminham para outros lados.
Dentro dessa situação, o Aerosmith é, para mim, o caso de maior sucesso dentro do rock. É incrível como eles foram grandes em épocas diferentes – mais especificamente, no meio da década de 1970 e entre o fim dos anos 1980 e início dos 1990. Dois álbuns, em especial, representam isso: “Rocks” (1976) e “Pump” (1989).
Para poder apresentar algo relevante em ambas as situações, o método de criação foi modificado. “Rocks”, por exemplo, seduz pela crueza. Os outros álbuns da época também, mas esse, em especial, tem o seu charme em função disso. É perceptível que são apenas os cinco integrantes, no auge do vício em drogas, tocando ali – com exceção de “Last Child”, que tem um banjo adicional tocado por um músico externo. Os membros da banda, inclusive, produziram o disco ao lado de Jack Douglas.
A concepção das músicas ficou restrita a quatro integrantes: Brad Whitford, Joe Perry, Tom Hamilton e, especialmente, Steven Tyler, que só não assina “Combination”. No instrumental, os integrantes se revezaram em alguns momentos. Em “Sick As A Dog”, Tom Hamilton assume a guitarra e tanto Steven Tyler quanto Joe Perry tocam baixo. Em “Back In The Saddle”, Perry inovou ao trazer um segundo baixo – o dele, de seis cordas – para dar mais peso à canção. O mesmo Perry canta “Combination” o tempo todo com Steven Tyler.
“Pump” traz outra perspectiva de criação. O quinteto está aparentemente limpo e aberto a interferências externas. O processo foi um pouco burocrático: todas as músicas compostas para o disco foram divididas em duas listas: possíveis hits e faixas que poderiam ser melhor desenvolvidas. Ao longo da lapidação, o produtor Bruce Fairbairn mexeu nas canções tanto quanto os próprios músicos, em busca de ganchos melódicos.
A abertura por parte do Aerosmith voltou a trazer compositores externos, como Jim Vallance e Desmond Child, entre outros, porque deu certo no antecessor “Permanent Vacation”. A faixa “The Other Side”, por exemplo, foi escrita por Steven Tyler e outros quatro co-autores de fora: Brian Holland, Lamont Dozier e Eddie Holland, além do já mencionado Jim Vallance.
O experimentalismo entre os próprios integrantes não é perceptível, mas músicos externos trouxeram outros instrumentos. Bruce Fairbairn, por exemplo, toca trompete em “Love In An Elevator” e Randy Raine-Reusch faz todos os trechos instrumentais entre canções – do acordeão após “What It Takes” ao dulcimer antes de “The Other Side”. Fora as vozes de apoio.
Mas o êxito em ambos os trabalhos é justamente o que dá semelhança a eles: a mistura entre essência e experimento. Há algumas grandes bandas que ousaram demais ao meu ver, como KISS e Scorpions, e outras que se estagnaram demais – apesar de suaves diferenças entre seus lançamentos -, como AC/DC e Motörhead. Se os subgêneros do metal forem pauta dessa discussão, piorou: há mais estagnação do que qualquer outra coisa.
Como disse no início, outros artistas conseguiram relevância com trabalhos em épocas diferentes. O caso de Alice Cooper, por exemplo, é semelhante ao do Aerosmith, ainda mais por envolver problemas com drogas na queda e sobriedade na retomada. Mas o quinteto de Boston é o caso mais nítido.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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