Os 40 anos de “Hotter Than Hell”, um dos discos mais sombrios do KISS

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KISS: “Hotter Than Hell”
Lançado em 22 de outubro de 1974

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O início do KISS foi uma aventura. Empresariado por Bill Aucoin, um diretor de televisão que era novato no mundo da música, e contratado pelo selo Casablanca Records, do executivo Neil Bogart – reconhecido por tornar famosos alguns cantores adolescentes na década de 1970 -, o grupo não sabia muito bem o que fazer.
Por sorte, conseguiram experimentar o bastante para que explodissem com “Alive!”, em 1975. Mas até lá, o caminho foi difícil. Não só pela falta de oportunidades e recursos, mas também por escolhas erradas. “Hotter Than Hell”, segundo da discografia dos mascarados, comprova ainda mais o talento dos envolvidos justamente porque conseguiram brilhar sem a menor condição de obter-se um bom resultado.

Para começar, os nomes responsáveis pela terrível produção do disco de estreia, autointitulado, foram repetidos aqui: Kenny Kerner e Richie Wise. Sabe-se lá como, a dupla conseguiu emular um som ainda pior com timbres fracos, pouco ganho e sensação de abafamento sonoro. Por acaso, “Hotter Than Hell” tem um conteúdo mais pesado e a sonoridade de baixa qualidade parece ajudar em alguns momentos. Mercadologicamente, todavia, foi um tiro no pé.
A banda se mudou de Nova Iorque para Los Angeles só para trabalhar com a dupla de produtores (parece inacreditável, mas rolou isso mesmo). Em diversas entrevistas e no livro “Nothin’ To Lose”, que relata os anos iniciais do grupo, os músicos afirmaram que a nova cidade atrapalhou muito no processo de gravação – a começar pela guitarra de Paul Stanley, roubada no primeiro dia na cidade.

Como se tudo isso não bastasse, ainda tem a capa de péssimo gosto, com escritos em japonês sendo que a banda jamais havia tocado por lá. Era uma tentativa de impressionar o público norte-americano (“oh, eles já fazem sucesso no Japão”). Não deu muito certo: “Hotter Than Hell” entrou em 100° lugar nas paradas de discos dos Estados Unidos e fracassou comercialmente.
Apesar disso, é fácil reconhecer que “Hotter Than Hell” é um clássico do rock. As composições são muito boas, as performances surpreendem, a visceralidade atrai e a maturidade com a qual uma banda com um ano de história encarou esse desafio é, até hoje, louvável. Várias músicas da tracklist sobreviveram ao teste do tempo e fizeram parte dos repertórios de shows do KISS ao longo dos últimos 40 anos. Metade do álbum foi parar, obviamente em versão ao vivo, no “Alive!”. O resto é história.

“Got To Choose”, rock n’ roll charmoso e típico de Paul Stanley, abre o disco de forma grandiosa. A batida um pouco mais cadenciada, os backing vocals que marcam presença em quase toda a música e o apelo melódico são os destaques da faixa. “Parasite” deixa tudo mais dark, com uma tonalidade pesada que remete um pouco a Black Sabbath. Mas só um pouco. A canção, composta por Ace Frehley, é um dos melhores momentos do álbum e conta com uma performance invejável do Spaceman, em riffs e solos.
“Goin’ Blind” é uma sobra do primeiro disco, reaproveitada aqui. Composta por Gene Simmons em parceria com Stephen Coronel, a música é uma espécie de balada melódica com uma letra bizarra, que narra o amor entre uma jovem de 16 anos e um ancião de 93. Curiosamente, Coronel foi preso recentemente sob acusações de divulgar pornografia infantil. A faixa título tem um charme incrível por culpa da péssima produção. Parece ter encaixado. Típico hard rock inflamado, que ganha ainda mais força ao vivo.

“Let Me Go, Rock N’ Roll”, na versão deste disco, é um erro. A faixa tem apenas 2min15seg de duração, quando, ao vivo, chegava aos 6min, com um disparo de solos geniais de Ace Frehley. Cegos, os músicos do KISS ainda lançaram essa gravação da música como single. “All The Way” cumpre a função de hard rock básico no estilo de Gene Simmons. O refrão e o solo são os destaques.
“Watchin’ You” resgata o peso de “Parasite” com uma sequência de riffs de tirar o fôlego. Música irretocável. Às vezes imagino se o KISS caminhasse para esse lado, quase heavy metal: seria, também, genial. “Mainline” retoma a vibe rock n’ roll básico, na deliciosa voz de Peter Criss. Infelizmente, o Catman era um pentelho: ameaçou sair da banda se não assumisse os vocais dessa canção, composta por Paul Stanley.

“Comin’ Home”, uma rara parceria autoral entre Paul Stanley e Ace Frehley, mostra mais um erro de versão – neste caso, imagino, pela inexperiência ao invés da falta de bom senso. A versão no acústico, registrado pela MTV, mostra o real valor desta ótima música. No disco, um filler de luxo. “Strange Ways” fecha o álbum com destaques para Frehley enquanto compositor e Peter Criss como vocalista. Mais uma demonstração de peso orgânico, pouco comum na trajetória do KISS.
Logo no início do KISS, a relação entre o lado “bonzinho” (Paul Stanley e Gene Simmons) e a parte “chapada e malvada” (Ace Frehley e Peter Criss), no maniqueísmo que Stanley e Simmons sempre pregaram, começou a ficar conflituosa. Justamente os vícios de Frehley e Criss davam início a uma série de problemas que o grupo viveria nos anos seguintes. Mas a fome pela fama era ainda maior. E, mesmo que indiretamente, “Hotter Than Hell” é parte importante do estômago satisfeito dos quatro rockstars.

Paul Stanley (vocal, guitarra)
Gene Simmons (vocal, baixo)
Ace Frehley (guitarra, baixo em 3, 9 e 10)
Peter Criss (vocal, bateria)

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01. Got To Choose
02. Parasite
03. Goin’ Blind
04. Hotter Than Hell
05. Let Me Go, Rock N’ Roll
06. All The Way
07. Watchin’ You
08. Mainline
09. Comin’ Home
10. Strange Ways

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

3 COMENTÁRIOS

  1. Cara, quanta incongruência num mesmo texto! Digo isto não como fã do Kiss, mas como um músico que tem 47 anos de rock’n’roll nas costas. Não se pode julgar uma gravação por óticas modernas, dizendo coisas como “terrível produção do disco” e “sonoridade de baixa qualidade. O primeiro disco, pelos padrões da época, é ótimo. Agora, se você falasse daquela fita demo, estaria totalmente de acordo, mas no estúdio tudo foi sanado.
    Basta pegar outros clássicos do mesmo ano e ver que a gravação de “Hotter…” era superior a muitos discos contemporâneos. Quando adquiri este disco em 1976, quando ele foi lançado no Brasil, fiquei besta com a gravação e os timbres, na mesma linha mas com mais brilho que o primeiro. O timbre afiado da Gibson L-6 do Stanley é único, e ela brilha como nunca justamente em “Let me go, rock n’ roll”, que não é um erro, mas total acerto. Estas críticas tuas caberiam bem, p. ex., ao “Muscle of love” do Alice Cooper. Compare a gravação deste disco com a de “Hotter…” e veja que soberba foi esta gravação.

    • Wenilton, tudo bem?

      Não há incongruência. Apenas avaliei a produção com base em meu gosto. É preferência. E isso é só um detalhe. Pelo seu comentário, parece que eu repudio o álbum, sendo que ele está entre os meus favoritos da banda. Vamos com calma! 🙂

      Além disso, minha opinião acaba sendo a mesma de Paul Stanley e Gene Simmons. Os dois são muito críticos à produção dos dois primeiros álbuns do Kiss. Nesse caso, é você “contra” os dois chefes da banda, hehe.

      Abs!

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