...

Cradle of Filth faz em SP show envolvente e de tom raro no metal extremo

Performance despojada e impactante no Carioca Club encerrou primeira turnê nacional da banda inglesa consumidora de camisetas piratas em 6 anos

Dois novos álbuns, uma bastante prometida parceria com Ed Sheeran, uma turnê latino-americana em 2023 que deixou o Brasil de fora, zoeiras com fãs brasileiros no Instagram, uma visita do vocalista Dani Filth para curtir férias com a família em Paraty (RJ)… muita coisa rolou com o Cradle of Filth desde a última viagem a trabalho para o nosso país, em 2019. À época, celebravam os 20 anos do álbum “Cruelty and the Beast” (1998). Agora, promovem “The Screaming of the Valkyries”, seu décimo quarto e mais recente disco de estúdio.

Se em 2024 Dani protagonizou um rolê aleatório em território nacional, desta vez a missão ficou com três de seus colegas. Logo após terminarem seu meet and greet com fãs pagantes, o guitarrista Marek “Ashok” Šmerda, a tecladista Zoë Marie Federoff e o baterista Martin “Marthus” Skaroupka se dirigiram ao entorno da casa de eventos Carioca Club, fizeram contato com um dos vendedores de camisetas “bootleg” ali instalados e compraram itens pirateados da própria banda.

- Advertisement -

Em prol da cobertura jornalística completa, este que vos escreve fez a tradução e negociação entre os integrantes (aparentemente colecionadores de camisetas do tipo) e o comerciante informal. Ao todo, foram compradas três camisetas na cor vinho com o logotipo da banda, totalizando R$ 180, R$ 60 por peça — preço “especial” para os clientes da vez. O item oficial custava R$ 150 e se esgotou rapidamente.

Tellus Terror

Banda de abertura inaugural da noite, a fluminense Tellus Terror assumiu o palco diante de uma pista ainda relativamente vazia, já que muitas pessoas ainda ocupavam os bares nos arredores da casa. Demonstraram logo de cara a influência do Cradle of Filth no visual e som, calcado em um black metal sinfônico com pitadas death.

Mesmo para os padrões do black metal, que não vê grandes bate-cabeças — quem dirá rodas —, o público estava especialmente morno. Isso, contudo, não desmerece o nítido apreço técnico do grupo. Vale destacar a performance vocal de Felipe Borges, que desde a primeira música, “Amborella’s Child”, soltou gritos impressionantes, que pareciam vir do fundo da alma.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Repertório — Tellus Terror:

  1. Amborella’s Child
  2. Absolute Zero
  3. Darkest Rubicon
  4. Psyclone Darxide
  5. Empty Nails
  6. Lone Sky Universum
  7. Shattered Mutano Heart
  8. Sickroom Bed
  9. Brain Technology Pt. 2

Uada

Na sequência veio a americana Uada, já conhecida no circuito “underground” nacional por suas visitas anteriores em 2019 e 2023. Viriam no início deste ano para o cancelado M.A.D. Metal Fest, mas antes de qualquer polêmica envolvendo o próprio evento, anunciaram um hiato dos palcos e prometeram voltar apenas “se as estrelas alinhassem”. No fim das contas, isso ocorreu.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Seu black metal atmosférico faz real uso do adjetivo em questão. É quase místico. O figurino e o palco pouco iluminado criaram um clima sombrio; já o som está alinhado ao gênero praticado, mas não é tão dark quanto o visual sugere. Blast beats e riffs com uso de tremolo são apenas alguns dos ingredientes, não os únicos. A introdução de “Djinn”, por exemplo, soa como um riff de surf music com percussão do Arctic Monkeys — o que é o black metal se não surf distorcido?

Tal dinamismo fez com que o show cativasse ambas as fatias de público: os fãs do lado mais extremo da atração principal e os admiradores da parte mais teatral. Ao fim do set, os nativos de Portland, Oregon, foram até recebidos com um típico “ei, ei, ei” no ritmo de “Black Autumn, White Spring”. Aqui, o vocalista e guitarrista Jake Superchi levou um tombo, mas nada grave.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Repertório — Uada:

  1. Natus Eclipsim
  2. Djinn
  3. Blood Sand Ash
  4. Cult of a Dying Sun
  5. Black Autumn, White Spring

Cradle of Filth

Dani Filth e companheiros subiram no palco com mais de 20 minutos de atraso, mas o público ainda demonstrou estar com a energia lá no alto quando o grupo formado em Ipswich abriu com “To Live Deliciously”. Teatral e grandioso, este cartão de visitas do novo álbum contou até com canhões de fumaça. O alvoroço seguiu com “The Forest Whispers My Name”, clássico do álbum de estreia “The Principle of Evil Made Flesh” (1994) reconhecida desde as primeiras notas de teclado. No meio da canção, Dani tombou o pedestal de seu microfone e cavalgou por cima dele. Um sex symbol da trevosidade.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Após “Malignant Perfection”, que rendeu gritos da plateia com o nome do Cradle of Filth, o frontman anunciou que tocaria outra faixa do primeiro álbum — lançada, em suas palavras, “lá no século 16” — e a dedicaria a um grupo brasileiro incrível, mas que não era o Sepultura. A música? “The Principle of Evil Made Flesh”. E a tal banda nacional? Uma incógnita: Dani pode até ter dito o nome, mas durante um gritinho indecifrável. Ligeira confusão à parte, o público demonstrava tamanha energia a ponto de ter havido crowdsurf — algo bem incomum em show de black metal — em “Heartbreak and Seance”.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Com letra que narra um vício por mulheres bonitas, “Nymphetamine (Fix)” também rendeu momentos raros em uma apresentação de som extremo. Mais devagar e com várias partes de vocal feminino, a canção mais popular do Cradle of Filth nas plataformas digitais foi acompanhada pela plateia até mesmo com braços para o alto.

Antes de “Born in a Burial Gown”, o vocalista declarou que ele e seus colegas haviam dormido por cerca de 7 horas nos últimos três dias; logo, todos incorporaram o título da música: “nascida de vestido funerário”. Pudera: a turnê passou por Limeira e Curitiba na última quinta (21) e sexta-feira (22), em um itinerário cansativo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A parte convencional do show se encerrou de maneira similar ao início, com música do álbum mais recente: “White Hellebore”. A banda deixou o palco, mas o logotipo continuou no telão e as cortinas não se fecharam, então o bis era óbvio. O interlúdio “Creatures that Kissed in Cold Mirrors” soou pelo alto-falante para embalar o retorno final com a brilhante “Cruelty Brings Thee Orchids”, cujo clima grandioso da gravação original se amplifica no contexto ao vivo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

“Essa próxima é para os nossos amigos do Uada. Falei com uma pausa dramática para vocês gritarem, p#rra!”, declarou Dani, mais satisfeito com as reações finais, antes de iniciar “Death Magick for Adepts”. Em seus últimos momentos, a faixa contou com a presença de um homem mascarado — provavelmente membro da equipe técnica — fazendo a narração da música. O “convidado” permaneceu também para a abertura do clássico e catártico encerramento “Her Ghost in the Fog”, com refrão cantado pelos fãs a plenos pulmões.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Talvez tenha faltado no set a também popular “From the Cradle to Enslave”, mas esta ficou fora da atual turnê como um todo e sua ausência não afetou tanto o resultado final. Nesta sexta passagem pelo Brasil — e quinta pelo Carioca Club —, o Cradle of Filth entregou algo que já se esperava: um grande show. Isso, além de validado nas visitas anteriores em 2004, 2010, 2013, 2018 e 2019, é algo que combina com a persona e o aspecto teatral diferentes em relação ao que se vê no metal extremo. Que a próxima visita — para shows, não turismo — não demore a ocorrer.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Cradle of Filth — ao vivo em São Paulo

  • Data: 23 de agosto de 2025
  • Local: Carioca Club
  • Turnê: The Screaming of the Americas
  • Produção: New Direction Productions / Agência Sobcontrole

Repertório:

  1. To Live Deliciously
  2. The Forest Whispers My Name
  3. She Is a Fire
  4. Malignant Perfection
  5. The Principle of Evil Made Flesh
  6. Heartbreak and Seance
  7. Nymphetamine (Fix)
  8. Born in a Burial Gown
  9. White Hellebore

Bis:

  1. Cruelty Brought Thee Orchids
  2. Death Magick for Adepts
  3. Her Ghost in the Fog
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasResenhas de showsCradle of Filth faz em SP show envolvente e de tom raro...

2 COMENTÁRIOS

  1. Algumas pessoas suspeitam que o Dani dedicou a principle of evil made flesh para uma banda tributo deles de SP, chamada Principle of Evil. O Dani conhece a existencia da banda e uma amiga do guitarrista ja mostrou conteudo deles para ele.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades