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The Hives transborda energia e empolga público em SP

Presença simultânea de Paul McCartney na cidade desfalca, mas não desanima única apresentação do quinteto sueco na América do Sul em 2024

Em abril deste ano, quatro meses após o elogiado show no festival Primavera Sound em dezembro de 2023, The Hives anunciou uma data solo em São Paulo para 15 de outubro. Seria um interessante teste para saber a quantas anda a popularidade da banda aqui. E o quanto os fãs curtiram “The Death of Randy Fitzsimmons” (2023), primeiro disco de inéditas em mais de uma década.

O material mais recente já havia sido apresentado aqui no ano passado, mas não muito, visto o tempo reduzido de palco oferecido para o vocalista Howlin’ Pelle Almqvist (Per Almqvist), os guitarristas Nicholaus Arson (Niklas Almqvist) e Vigilante Carlstroem (Mikael Karlsson Åström), o baixista The Johan and Only (Johan Gustafsson) e o baterista Chris Dangerous (Christian Grahn). Desta vez, seria um evento exclusivo, sem compor lineup de festival ou abrindo para bandas maiores. A única data em toda América do Sul.

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Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Dois meses depois, marcaram uma enésima apresentação do Paul McCartney no Allianz Parque, para o mesmíssimo dia, 15 de outubro. Não havia um novo álbum que justificasse o retorno do baixista canhoto para o Brasil além da forte demanda pelas músicas que ele gravou com os Beatles. Ainda assim, foi o suficiente para configurar uma “concorrência desleal”. O estrago se fez sentir cedo: promoções, descontos e sorteios de ingressos foram os principais meios de divulgação do show do The Hives.

*Fotos gentilmente cedidas por Thammy Sartori (@tsartoriphotos), que cobriu o evento pelo site Tramamos.

Atrasou, mas encheu — e compensou

Contrariando expectativas de um eventual fracasso, a casa encheu, o que é bom. Porém, tornou tanto perceptível quanto contagioso o princípio de insatisfação que começava a ser relevante em função do atraso do início do show.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Uma possível explicação da demora viria ao final da etapa convencional do show, antes do bis, por parte de Howlin’ Pelle Almqvist: “Tivemos que atrasar o show em meia hora porque vocês se atrasaram. Foi o trânsito? Os brasileiros parecem não saber ser pontuais”. Após dizer isso, o vocalista mostrou o dedo do meio enquanto disse um sonoro “f#ck you” para alguém da plateia que o teria ofendido. Parece um princípio de briga, mas era apenas a baderna assumindo uma forma diferente, como fica claro quando o The Hives toca a última música antes do bis, “Countdown to Shutdown”.

Se é verdade ou não, irrelevante dizer. Quando as batidas pausadas de “Bongus Operandi”, primeiro single de “The Death of Randy Fitzsimmons”, soaram indicando o início de show, qualquer sinal de má vontade foi dissipado. O povo começou a cantar antes de Pelle sequer pisar no palco, acompanhando o riff grudento da música, um hit imediato.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Entre ternos e ninjas

A banda tocou e agitou como se os já tradicionais ternos pretos com raios brancos não incomodassem. Mais incômodo ainda são as roupas dos roadies: tipo ninja, que deixam apenas os olhos visíveis.

Quando um dos ninjas vai ao fundo do palco, ao lado do baterista, tocar meia-lua, torna possível perceber o teatro que o Hives desempenha em cima do palco. São personagens, com nomes fictícios, que fazem poses, caras e bocas, tudo para entregar o mais puro, direto e sincero rock básico de garagem.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

É tudo o que o povo quer, e tem em abundância. Do momento que entra no palco até o fim do show, Howlin’ Pelle se comunica com a plateia e com os companheiros em um português satisfatório. Uma hora, por exemplo, pede “bate palmas”; outra, apresenta o baterista como “meio animal, meio máquina e meio homem”.

O equilíbrio entre a espontaneidade e a afetação existe e é harmônico. Deve ser esse o segredo de uma carreira que já passou dos 30 anos de existência.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

O principal

Nada do que foi descrito anteriormente funcionaria sem música boa — algo que The Hives tem. Primeiro veio um bloco mais agitado, com a dobradinha “Bogus Operandi” e “Main Offender”. Depois, um miolo dançante com “Rigor Mortis Radio” e “Go Right Ahead” (cuja semelhança com “Don’t Bring Me Down” do Electric Light Orchestra os fez dividir os créditos com Jeff Lynne, líder da banda inglesa).

Dão uma acalmada com “Stick Up” e “I’m Alive”, que parecem ser influenciadas pelo Oasis dos três primeiros discos. Botam a casa abaixo com “Hate to Say I Told You So” e “Countdown to Shutdown”, o que deixa o público sem alternativa a não ser abrir rodas e deixar o pogo correr solto.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Seria até falta de educação não agitar sem limites. Howlin’ Pelle corre, grita, cospe, gira e atira o microfone para todos os lados. Faz de tudo menos ficar parado. E só fica em silêncio quando pede por gestos a participação do povo. Sempre é atendido.

O restante da banda não faz por menos. As poucas notas são tocadas de forma mais firme e empolgada possível. Isso não permite muita movimentação, mas transborda energia.

A turbina geradora dessa usina não é outro senão Chris Dangerous. O reduzido kit de bateria — não chega a dez peças — é utilizado ao extremo para que não falte o ritmo forte e preciso que todas as músicas do Hives exigem.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

O retorno do bis é mais melódico, com “Come On!”, cujo título inclui a totalidade da letra da música (tem uns “everybody” também, mas não conta) e “Smoke and Mirrors”, quase pop para os padrões do Hives.

O repertório trouxe metade das 12 músicas do “The Death of Randy Fitzsimmons” e isso em nenhum momento esfriou o clima. A plateia cantou o que pôde e o que não pôde a noite toda. A banda parou de tocar para assistir ao público substituir o baixo em “Hate to Say I Told You So” somente com vocalização, na base do famoso “ô ô ô”.

Deve ter valido a pena para o Hives terminar a turnê de 2024 aqui, com uma plateia dessas. Do mesmo modo, deve ter compensado para essa fatia do povo paulistano deixar para ouvir “Ob-La-Di, Ob-La-Da” em outra oportunidade.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

The Hives – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 15 de outburo de 2024
  • Turnê: The Death of Randy Fitzsimmons Tour 2024
  • Produção: T4F

Repertório:

  1. Bogus Operandi
  2. Main Offender
  3. Rigor Mortis Radio
  4. Walk Idiot Walk
  5. Good Samaritan
  6. Go Right Ahead
  7. Stick Up
  8. Try It Again
  9. Hate to Say I Told You So
  10. Trapdoor Solution
  11. I’m Alive
  12. Bigger Hole to Fill
  13. Countdown to Shutdown

Bis:

  1. Come On!
  2. Smoke & Mirrors
  3. Tick Tick Boom

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InícioResenhasResenhas de showsThe Hives transborda energia e empolga público em SP
Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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Em abril deste ano, quatro meses após o elogiado show no festival Primavera Sound em dezembro de 2023, The Hives anunciou uma data solo em São Paulo para 15 de outubro. Seria um interessante teste para saber a quantas anda a popularidade da banda aqui. E o quanto os fãs curtiram “The Death of Randy Fitzsimmons” (2023), primeiro disco de inéditas em mais de uma década.

O material mais recente já havia sido apresentado aqui no ano passado, mas não muito, visto o tempo reduzido de palco oferecido para o vocalista Howlin’ Pelle Almqvist (Per Almqvist), os guitarristas Nicholaus Arson (Niklas Almqvist) e Vigilante Carlstroem (Mikael Karlsson Åström), o baixista The Johan and Only (Johan Gustafsson) e o baterista Chris Dangerous (Christian Grahn). Desta vez, seria um evento exclusivo, sem compor lineup de festival ou abrindo para bandas maiores. A única data em toda América do Sul.

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Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Dois meses depois, marcaram uma enésima apresentação do Paul McCartney no Allianz Parque, para o mesmíssimo dia, 15 de outubro. Não havia um novo álbum que justificasse o retorno do baixista canhoto para o Brasil além da forte demanda pelas músicas que ele gravou com os Beatles. Ainda assim, foi o suficiente para configurar uma “concorrência desleal”. O estrago se fez sentir cedo: promoções, descontos e sorteios de ingressos foram os principais meios de divulgação do show do The Hives.

*Fotos gentilmente cedidas por Thammy Sartori (@tsartoriphotos), que cobriu o evento pelo site Tramamos.

Atrasou, mas encheu — e compensou

Contrariando expectativas de um eventual fracasso, a casa encheu, o que é bom. Porém, tornou tanto perceptível quanto contagioso o princípio de insatisfação que começava a ser relevante em função do atraso do início do show.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Uma possível explicação da demora viria ao final da etapa convencional do show, antes do bis, por parte de Howlin’ Pelle Almqvist: “Tivemos que atrasar o show em meia hora porque vocês se atrasaram. Foi o trânsito? Os brasileiros parecem não saber ser pontuais”. Após dizer isso, o vocalista mostrou o dedo do meio enquanto disse um sonoro “f#ck you” para alguém da plateia que o teria ofendido. Parece um princípio de briga, mas era apenas a baderna assumindo uma forma diferente, como fica claro quando o The Hives toca a última música antes do bis, “Countdown to Shutdown”.

Se é verdade ou não, irrelevante dizer. Quando as batidas pausadas de “Bongus Operandi”, primeiro single de “The Death of Randy Fitzsimmons”, soaram indicando o início de show, qualquer sinal de má vontade foi dissipado. O povo começou a cantar antes de Pelle sequer pisar no palco, acompanhando o riff grudento da música, um hit imediato.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Entre ternos e ninjas

A banda tocou e agitou como se os já tradicionais ternos pretos com raios brancos não incomodassem. Mais incômodo ainda são as roupas dos roadies: tipo ninja, que deixam apenas os olhos visíveis.

Quando um dos ninjas vai ao fundo do palco, ao lado do baterista, tocar meia-lua, torna possível perceber o teatro que o Hives desempenha em cima do palco. São personagens, com nomes fictícios, que fazem poses, caras e bocas, tudo para entregar o mais puro, direto e sincero rock básico de garagem.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

É tudo o que o povo quer, e tem em abundância. Do momento que entra no palco até o fim do show, Howlin’ Pelle se comunica com a plateia e com os companheiros em um português satisfatório. Uma hora, por exemplo, pede “bate palmas”; outra, apresenta o baterista como “meio animal, meio máquina e meio homem”.

O equilíbrio entre a espontaneidade e a afetação existe e é harmônico. Deve ser esse o segredo de uma carreira que já passou dos 30 anos de existência.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

O principal

Nada do que foi descrito anteriormente funcionaria sem música boa — algo que The Hives tem. Primeiro veio um bloco mais agitado, com a dobradinha “Bogus Operandi” e “Main Offender”. Depois, um miolo dançante com “Rigor Mortis Radio” e “Go Right Ahead” (cuja semelhança com “Don’t Bring Me Down” do Electric Light Orchestra os fez dividir os créditos com Jeff Lynne, líder da banda inglesa).

Dão uma acalmada com “Stick Up” e “I’m Alive”, que parecem ser influenciadas pelo Oasis dos três primeiros discos. Botam a casa abaixo com “Hate to Say I Told You So” e “Countdown to Shutdown”, o que deixa o público sem alternativa a não ser abrir rodas e deixar o pogo correr solto.

Foto: Thammy Sartori @tsartoriphotos

Seria até falta de educação não agitar sem limites. Howlin’ Pelle corre, grita, cospe, gira e atira o microfone para todos os lados. Faz de tudo menos ficar parado. E só fica em silêncio quando pede por gestos a participação do povo. Sempre é atendido.

O restante da banda não faz por menos. As poucas notas são tocadas de forma mais firme e empolgada possível. Isso não permite muita movimentação, mas transborda energia.

A turbina geradora dessa usina não é outro senão Chris Dangerous. O reduzido kit de bateria — não chega a dez peças — é utilizado ao extremo para que não falte o ritmo forte e preciso que todas as músicas do Hives exigem.

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O retorno do bis é mais melódico, com “Come On!”, cujo título inclui a totalidade da letra da música (tem uns “everybody” também, mas não conta) e “Smoke and Mirrors”, quase pop para os padrões do Hives.

O repertório trouxe metade das 12 músicas do “The Death of Randy Fitzsimmons” e isso em nenhum momento esfriou o clima. A plateia cantou o que pôde e o que não pôde a noite toda. A banda parou de tocar para assistir ao público substituir o baixo em “Hate to Say I Told You So” somente com vocalização, na base do famoso “ô ô ô”.

Deve ter valido a pena para o Hives terminar a turnê de 2024 aqui, com uma plateia dessas. Do mesmo modo, deve ter compensado para essa fatia do povo paulistano deixar para ouvir “Ob-La-Di, Ob-La-Da” em outra oportunidade.

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The Hives – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 15 de outburo de 2024
  • Turnê: The Death of Randy Fitzsimmons Tour 2024
  • Produção: T4F

Repertório:

  1. Bogus Operandi
  2. Main Offender
  3. Rigor Mortis Radio
  4. Walk Idiot Walk
  5. Good Samaritan
  6. Go Right Ahead
  7. Stick Up
  8. Try It Again
  9. Hate to Say I Told You So
  10. Trapdoor Solution
  11. I’m Alive
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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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