Pink Floyd: as únicas músicas de “The Final Cut” que agradam David Gilmour

Álbum que marcou a despedida de Roger Waters trouxe o baixista e vocalista assumindo o controle de forma totalitária

The Final Cut” é um dos álbuns mais divisivos da história do Pink Floyd. Não apenas por conta das opiniões dos fãs, que o consideram uma involução após a sequência iniciada em “The Dark Side of the Moon” (1973) e estendida até “The Wall” (1979). Os próprios integrantes da banda não o apreciam tanto quanto as glórias anteriores.

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David Gilmour é um dos que declarou abertamente o descontentamento durante toda a carreira. O guitarrista e vocalista se sentia cada vez mais confiante para criar e, ao mesmo tempo, via o baixista e vocalista Roger Waters tomar as rédeas do processo de forma centralizadora.

Em entrevista de 2003 ao Record Collector – resgatada pelo Far Out Magazine – ele explicou sua visão sobre o momento:

“Eu sabia o que tinha acontecido com minha banda naquele momento e estava apenas tentando superar isso. Não foi nada agradável. Se fosse tão desagradável, mas os resultados valessem a pena, então eu poderia pensar nisso de uma maneira diferente. Não, na verdade, eu não faria isso.”

Ainda assim, Gilmour reconhece o valor de três músicas registradas para o trabalho.

“Não creio que os resultados sejam muitos. Há algumas faixas razoáveis, na melhor das hipóteses. Eu votei em ‘The Fletcher Memorial Home’ para estar na coletânea ‘Echoes’. Eu gosto dela. ‘Fletcher’, ‘The Gunner Dream’ e a faixa-título são as três faixas razoáveis. O resto é uma porcaria.”

A frustração de David Gilmour

David Gilmour nunca escondeu sua frustração quanto ao resultado. Em 1984, quando o disco mal havia completado um ano, o guitarrista falou abertamente sobre sua visão em relação à obra, durante entrevista também resgatada pelo site Far Out Magazine.

“Basicamente, Roger tinha uma ideia muito forte de como achava que o álbum deveria ser. Eu simplesmente pensei que ele estava errado na abordagem em vários aspectos e lhe disse isso. Tentei estabelecer um meio-termo, mas não houve disposição de sua parte. Tivemos muitas discussões devido aos pontos conflitantes. Chegou a um ponto em que simplesmente desisti e deixei que ele fizesse o que bem entendesse.”

Para Gilmour, a banda estava se despedaçando. Não apenas pelo embate de ideias. O tecladista Richard Wright estava fora e o baterista Nick Mason se via envolto em um divórcio durante o período de gravações. Com isso, foi difícil manter o foco.

“Eu acho que muitas das músicas não estão de acordo com o nosso padrão habitual. Há três boas canções, o resto é bem fraco. Não tenho nada particularmente contra o conceito, só acho seu tom um pouco pessoal demais. Penso que se minhas ideias tivessem sido aceitas poderíamos ter feito algo melhor.”

David conclui de forma surpreendente, reconhecendo a liderança de Waters. Apenas acha que o eterno desafeto poderia confiar um pouco mais nos colegas.

“No geral, comprometimento tende a fazer algo funcionar. Roger obviamente acha que pode produzir tudo sozinho, sem minha ajuda, o que discordo. Ele escreve a maior parte do material e desenvolve o conceito. Portanto, entende ter mais direito de dizer como deve ser produzido. Costumo concordar que ele provavelmente deveria ter mais a ver com isso, mas não fazer tudo sozinho.”

A influência de “Donkey Kong” nas gravações

Em recente registro da sessão de perguntas e respostas que faz em seu canal no YouTube, Roger Waters corroborou com a visão do desafeto em relação ao resultado. Ainda citou um game muito popular à época que acabou monopolizando as atenções em estúdio.

“‘The Final Cut’ não foi muito divertido de se fazer. O tempo todo tinha um certo alguém jogando ‘Donkey Kong’ e dizendo que tudo aquilo era uma droga. Foi difícil, embora tenha sido ótimo trabalhar com James Guthrie e Michael Kamen.”

Pink Floyd e “The Final Cut”

Último trabalho de inéditas a contar com Roger Waters, “The Final Cut” é conceitual e aborda uma temática inspirada pela Guerra das Malvinas, que acontecia à época. É dedicado à memória de Eric Fletcher Waters, pai do vocalista e baixista, morto na Segunda Guerra Mundial, quando o músico tinha apenas 5 meses de vida.

O título é uma referência a “Júlio César”, tragédia escrita por William Shakespeare em 1599, sobre a morte do imperador romano. Quando o personagem homônimo é apunhalado por Brutus, o escritor diz: “Este foi, de todos, o corte mais cruel”.

Chegou ao primeiro lugar na Inglaterra e sexto nos Estados Unidos, onde vendeu mais de dois milhões de cópias. Um curta-metragem foi lançado para promovê-lo.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

3 COMENTÁRIOS

  1. Eu gosto muito desse disco, apesar da proeminência do RW. Ele sabia fazer as coisas funcionarem. O PF sem ele nunca mais foi o mesmo em termos de criação.

  2. The Final Cut é o primeiro disco solo do Roger Waters. David Gilmour e Nick Mason atuaram como convidados. O nome Pink Floyd foi usado por imposição da gravadora (questões contratuais), segundo o que Mason relata no seu livro Inside Out.

    • Gosto do disco. Tenho em CD. E acredito que bandas são assim, geralmente tem ego e problemas, até que de alguma forma não se sustentam mais. Gosto dos discos até o The Final Cut e concordo com o comentário anterior, depois deste não foi mais interessante.

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