O ano de 1983 pode não ter sido o mais bem-sucedido, mas certamente foi um dos mais movimentados da carreira do Kiss. Especialmente no segundo semestre, quando a história da banda deu um giro de 180 graus em questão de meses. Chega a ser difícil imaginar tantos acontecimentos impactantes tão próximos quando pensamos em algum artista atual.
Em 25 de junho, o quarteto fez o último show da turnê do álbum “Creatures of the Night” (1982), que também celebrou 10 anos de carreira. O concerto no Morumbi, em São Paulo, foi o último usando as tradicionais maquiagens até 1996. Consequentemente, o derradeiro dos personagens The Fox (Eric Carr) e Ankh Warrior (Vinnie Vincent), que nunca mais regressariam.
Após voltar para casa, Paul Stanley voltou a pressionar Gene Simmons para fazer o que julgava inevitável: abandonar as maquiagens tradicionais e mostrar os verdadeiros rostos. A ideia já havia sido apresentada anteriormente, mas o baixista rechaçou a possibilidade.
Como o Starchild contou na biografia “Uma Vida Sem Máscaras”:
“De volta aos Estados Unidos, insisti novamente para que Gene concordasse em fazer a coisa mais radical que podíamos: acabar com a maquiagem. Algumas pessoas viram isso como uma escolha corajosa; eu via como nossa única escolha. Nosso público nos EUA não havia minguado por acaso, mas porque o que fazíamos já não parecia verdadeiro. As pessoas estavam cansadas daquilo que o Kiss havia se tornado.
Com os novos personagens, estávamos a um passo de nos tornarmos as Tartarugas Ninja. Poxa, o que diabos era aquela cruz egípcia do Vinnie? Em vez de mantermos vivas as imagens e as personalidades originais, nos tornáramos um grupo de animais ridículos. O que viria a seguir? O garoto tartaruga?”
Ainda assim, a incerteza comandava a mente do gigante parceiro de Paul, alguém cuja identidade secreta ajudou a superar medos e inseguranças. De novo Stanley em sua biografia:
“Concordar em tirar a maquiagem foi – compreensivelmente – muito mais difícil para Gene. Era mais fácil para mim do que para o cara de rabo de cavalo no topo da cabeça que cuspia sangue no palco. Mas quando ‘Creatures’ fracassou, o senso comum nos levou à conclusão de que simplesmente não tínhamos escolha. Tirar a maquiagem era nossa melhor chance de continuar. Mesmo assim, Gene só concordou em pular quando já estávamos na beira do penhasco.”
Kiss, sem máscaras, na estrada
Após o lançamento do álbum “Lick It Up”, promovido com uma entrevista na MTV onde os rostos dos integrantes foram revelados – embora todo mundo meio que já soubesse de qualquer modo –, o Kiss deu início à turnê pela Europa. A primeira parada foi Lisboa, Portugal, com um show no extinto Pavilhão Dramático de Cascais, dia 11 de outubro.
Conforme destaca o site Kiss Concert History, os músicos deixaram Nova York no dia 7 do mês em questão. Os dois dias anteriores ao concerto foram de ensaios fechados no mesmo local, visando sincronizar os efeitos de som, luz e pirotecnia, além de entrosar o quarteto com sua nova realidade visual.
Além de ter sido a primeira apresentação sem as máscaras, a performance também marcou o fim de um momento bastante famoso junto aos fãs. Foi a única vez que Gene Simmons realizou o número de cuspir/vomitar sangue não sendo o Demon. O próprio admitiu que fazê-lo sem todo o contexto do personagem não surtiu o mesmo impacto, abandonando o número até a reunião da formação original.
Eis o repertório da noite (os asteriscos indicam as músicas tocadas ao vivo pela primeira vez):
- Creatures Of The Night
- Detroit Rock City
- Cold Gin
- Fits Like A Glove*
- Firehouse
- Exciter*
- Gimme More*
- God Of Thunder
- I Love It Loud
- I Still Love You
- Love Gun
- Black Diamond
- Lick It Up*
- Rock And Roll All Nite
O único registro em vídeo conhecido foi disponibilizado no segundo volume da série Kissology. Ele mostra as duas primeiras canções do show. Assista abaixo ou clicando aqui.
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