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Quando metade do Big Four abriu turnê do Mötley Crüe

Maximum Rock Tour 2000 teve 49 datas na América do Norte – e um monte de imprevistos pelo caminho

Nos anos 1980, as bandas de hard rock (em sua vertente pejorativamente conhecida como hair metal) e thrash metal eram inimigas quase mortais. Bem, ao menos em público, já que nos bastidores todos eram amigos e enfrentaram as mesmas agruras no começo de suas carreiras, quando dividiam clubes e pequenas casas de shows, especialmente as da cena californiana.

O fato é que o tempo passou, a pindaíba veio e todo mundo passou a se ajudar. Os fãs também descobriram que era perfeitamente possível gostar tanto de uns quanto de outros, já que música boa não faltava em nenhum lado. Foi sobre esse contexto que surgiu a Maximum Rock Tour 2000.

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Sem Tommy Lee, o Mötley Crüe reconstruía a carreira com uma tentativa de se reaproximar das raízes. Randy Castillo, ex-Ozzy Osbourne, foi chamado para assumir a bateria e a banda gravou o álbum “New Tattoo”. De modo geral, o disco não possui a mesma qualidade dos clássicos, mas soava bem mais familiar em termos sonoros ao período de maior glória, após os experimentais “Motley Crue” (1994) – com John Corabi nos vocais e segunda guitarra – e “Generation Swine” (1997).

O grupo agendou uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá para promover a nova fase. As atrações de abertura escolhidas incluíam metade do que seria reconhecido anos depois como o Big Four. Obviamente, não dá para imaginar que Metallica e Slayer ocupariam essas posições. Vivendo momentos de inconstância, Megadeth e Anthrax se encarregaram de aquecer o público para a atração principal.

No total, 49 shows aconteceram entre 24 de junho e 3 de setembro. Os problemas começaram antes mesmo do início da excursão. Após as gravações do disco, Castillo se sentiu extremamente doente, não tendo condições de cair na estrada. Após uma série de tratamentos sem sucesso e exames aprofundados, ele descobriu uma úlcera duodenal. Quando tudo parecia resolvido, surgiu um câncer de pele – que acabaria lhe tirando a vida em 26 de março de 2002, aos 51 anos.

A banda correu atrás de alguém para empunhar as baquetas, já que não teria como arcar com os efeitos financeiros de um possível cancelamento. A escolha recaiu por Samantha Maloney, do Hole. À época, Courtney Love chegou a ironizar a situação dizendo que o Crüe protagonizaria um dos momentos mais sui generis da história do rock ao tocar “Girls, Girls, Girls” com uma garota na bateria.

Mas os problemas não cessaram. O principal foi a baixa venda de ingressos. Com as três atrações vivendo momentos conturbados, o público não parecia tão interessado. O principal efeito foi a retirada do Anthrax na metade do caminho, medida tomada para abater ao menos parte do inevitável prejuízo.

Ao menos o guitarrista Scott Ian se deu bem, já que conheceu Pearl Aday, então backing vocal do Crüe (e enteada do falecido cantor Meat Loaf), com quem está casado até hoje, tendo um filho. Vale citar que a banda já não era a primeira opção para a vaga, que originalmente seria do Coal Chamber, que acabou desistindo por conta de outros compromissos e propostas.

Mötley Crüe e “Lewd, Crüed & Tattooed”

A turnê teve um registro oficial no vídeo “Lewd, Crüed & Tattooed” (2001), trazendo o show do Mötley Crüe em Salt Lake City, estado de Utah, em 5 de julho de 2000. O registro traz um retrato fiel das dificuldades enfrentadas. Apesar de a equipe de filmagem tentar disfarçar, é possível reparar em vários momentos grandes espaços vazios no E Center (atualmente Maverik Center), arena com capacidade para 12 mil pessoas.

O concerto pode ser conferido na íntegra abaixo. E apesar dos pesares, é possível dizer que a banda entregou uma performance bem aceitável, com vários momentos energéticos.

Anthrax e Megadeth

Mesmo não tendo rendido lançamentos oficiais, os shows do Anthrax e do Megadeth naquela noite também foram filmados e vazaram online com o passar dos anos.

Futuro

Após a morte de Randy, o Mötley Crüe entraria em hiato. Uma volta aconteceria em 2005, novamente com a formação original resgatada. Entre idas, vindas, brigas, turnês de despedida, turnês de retorno, trocas de membros, brigas que começam na imprensa e acabam na justiça, a banda segue por aí até hoje.

Tanto Megadeth quanto Anthrax sofreram mudanças em suas formações e, após períodos de instabilidade, recuperaram a força em anos recentes, com discos consistentes e shows bem mais lotados.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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