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Entrevista: Fantastic Negrito fala sobre música, superação e Grammys

Fantastic Negrito afirma que a coisa mais importante que fez na vida foi “ter deixado a música por cinco anos e trabalhado como fazendeiro, cultivando maconha”. O cantor e músico norte-americano, cujo nome de batismo é Xavier Amin Dphrepaulezz, demonstrou ser um sujeito muito simples e humilde durante esta entrevista exclusiva, mas a sua trajetória é bastante peculiar e repleta de momentos de superação.

Ele fará show único no Brasil, nesta terça-feira (19), no Cine Joia de São Paulo, com muito hype em seu entorno. Não é por acaso: venceu dois prêmios Grammy, em 2017 e 2019, na categoria de Melhor Álbum de Blues Contemporâneo, graças aos elogiados “Last Days of Oakland” (2016) e “Please Don’t Be Dead” (2018). O artista define como “chocante” o reconhecimento da Recording Academy, por ele ser “alguém de fora e esquisitão”, mas disse que os prêmios ficam de lado para não gerar distração em seu som.

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Embora seja considerado um fenômeno recente da música alternativa – misturando blues com rock, R&B e pitadas de sons mais contemporâneos –, não é de agora que Fantastic Negrito está na música. Nascido em 1968, veio de uma família muito religiosa e envolveu-se com o mundo do crime na adolescência. O refúgio foi a música: ele aprendeu a tocar “invadindo” aulas da faculdade de música da Universidade da Califórnia em Berkeley, mesmo não sendo estudante. Na década de 1990, lançou-se como artista sob o nome Xavier e, sob muita expectativa, lançou seu primeiro álbum, “The X Factor” (1996), pela gravadora Interscope. O disco não vingou e decepcionou nas vendas. Em 1999, sofreu um grave acidente de carro que o deixou em coma por três semanas e comprometeu parcialmente os movimentos de sua mão direita. Foi aí que surgiu a necessidade de repensar a vida.

“Durante esses cinco anos fora, vendi todo o meu equipamento. Foi esse o grande passo, porque me permitiu sair e repensar. Parei de pensar no que eu poderia conseguir da música. Eu era mais jovem e pensava o que obter dela, como uma mansão, um carrão, fama… nesses anos fora, pensei mais em: com o que eu poderia contribuir para a música?”, afirmou.

O nascimento de seu filho fez com que Fantastic Negrito, agora com outro nome artístico, retornasse à música. Após um álbum autointitulado em 2014, lançou os já mencionados “Last Days of Oakland” e “Please Don’t Be Dead”, que, embora tenham o mesmo padrão de qualidade musical, apresentam diferenças bem evidentes. “Quis fazer algo diferente no novo álbum, já que não sinto a pressão de outros artistas do pop ou rap. Em ‘Last Days Of Oakland’, eu estava mais nas ruas, gravando as pessoas conversando e encaixando isso nas músicas, com trompetes, samples, riffs de piano. Foi um álbum de muita observação. Em ‘Please Don’t Be Dead’, tudo foi bem baseado no baixo, com riffs de blues… é mais agressivo e confrontador. O próprio título é um recado ao mundo: espero que a liberdade de expressão e de imprensa não morram, entre outras coisas, em meio a esse neopopulismo e neofascismo”, disse.

Em material de divulgação, Fantastic Negrito declarou que “Please Don’t Be Dead” (“por favor, não morra”, em tradução direta) possui um tom bastante pessoal, especialmente nas letras, que refletem a sensação de que “nos perdemos como sociedade”. Porém, entre todas as composições, a que mais se destaca para o cantor e músico é “Dark Windows”, feita em homenagem ao seu amigo Chris Cornell, vocalista do Soundgarden, que cometeu suicídio em 2017. “Ela é bem pessoal. Acho que usei um pouco da letra dele de ‘Fell On Black Days’. Ele era um grande amigo. Fiz três turnês com ele. Trocamos e-mails uma semana antes de ele falecer”, afirmou.

O show

“Sempre digo às pessoas que meu show é como uma igreja sem a religião”, respondeu Fantastic Negrito ao ser perguntado sobre como soa a performance de palco dele e de sua banda de apoio. Apesar da boa fama do público brasileiro, o cantor e músico disse que não cria expectativas com relação aos seus fãs, especialmente em um país diferente do dele. “Sou um convidado e espero poder compartilhar e conectar as pessoas com o Fantastic Negrito”, afirmou.

Como era de se esperar, o carro-chefe do show que acontece no Cine Joia nesta terça-feira (19) é o álbum “Please Don’t Be Dead”, mas o repertório deve mesclar outros momentos da carreira de Fantastic Negrito. “Eu misturo as músicas dos álbuns. Gosto de manter tudo bem orgânico, mas terá músicas de outros trabalhos além de ‘Please Don’t Be Dead’”, disse, sem dar detalhes.

De acordo com o site Setlist.fm, em shows recentes de sua turnê pela Europa, Fantastic Negrito tem tocado, aproximadamente, seis músicas do novo álbum, como “Plastic Hamburgers”, “A Boy Named Andrew”, “Bad Guy Necessity” e “A Letter To Fear”. O disco anterior, “Last Days Of Oakland”, também é representado por várias músicas, como “Working Poor”, “Hump Thru The Winter” e “Lost In A Crowd”. Sobra espaço, ainda, para faixas de seu primeiro trabalho, autointitulado.

A mensagem

Tendo uma história de vida tão única, Fantastic Negrito dá muito valor à mensagem que suas músicas transmitem. Ele afirma que precisou passar por tantos problemas – e superá-los – para se tornar quem é hoje. “Muita coisa aconteceu e acho que precisou acontecer para criar o Fantastic Negrito, um artista para as pessoas. Precisei sofrer, fracassar, perder minha mão, ficar em coma… tudo isso para ficar em paz, mais produtivo e poder inspirar alguém. Meu objetivo é sempre ser mais inspirador para os outros”, afirmou.

Ciente de que muitas pessoas no Brasil passam pelos mesmos problemas que ele enfrentou, mas nem sempre conseguem superá-los, ele encerrou o bate-papo com um recado a esse público. “O principal é dizer para se fazer as escolhas certas, porque quando isso acontece, você tem ótimos resultados. Quando você faz escolhas ruins, se tem resultados ruins. É muito simples. Não digo que é fácil, mas, cara, é simples. Você precisa se cercar de pessoas positivas que querem fazer coisas boas. Seja produtivo. Não importa o que seja, mantenha-se produtivo, no caminho para algum lugar”, concluiu.

Serviço – Fantastic Negrito em São Paulo

  • Data: 19 de março de 2019 (terça-feira);
  • Local: Cine Joia (praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade – São Paulo/SP);
  • Horários: Abertura da casa – 19h00 / Início dos shows – 21h00;
  • Classificação etária: 18 anos;
  • Capacidade: 992 pessoas;
  • Realização: Tenho Mais Discos Que Amigos! e Showme;
  • Vendas online: www.sympla.com.br e app Sympla.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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