A UK Pink Floyd Experience, banda-tributo ao Pink Floyd autorizada por seus próprios integrantes, marcou uma série de shows em Israel para janeiro de 2019. O agendamento chamou a atenção de Roger Waters, vocalista e baixista do já findado grupo original, que criticou abertamente a atitude.
Waters, como se sabe, pratica boicote a Israel por ser crítico ao seu governo. Ele afirma que sua postura é “similar à luta por direitos civis nos Estados Unidos e África do Sul antes de Nelson Mandela”. O músico costuma dizer que sua negação a fazer shows no país se dá por razões políticas, pois seu principal alvo é o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
– O que Roger Waters pensa quando dizem que ele não deve falar sobre política
Após os shows da UK Pink Floyd Experience terem sido anunciados, Roger Waters se disse “chocado” com a atitude e pediu para que a banda cancelasse as apresentações. “Estou horrorizado em saber dos planos. Por favor, não façam isso. Cantar minhas músicas para públicos segregados em Israel e contribuir para o branqueamento cultural do governo racista daquele país seria um ato desrespeitoso e irresponsável. Aos integrantes: vocês nunca ouviram de verdade o trabalho que apresentam para ganhar a vida?”, disse Waters, em trecho de publicação nas redes.
A banda-tributo se explicou, em nota, dizendo que já se apresentou em Israel no ano de 2017 e que os shows foram “incríveis”. “Nossa decisão em tocar em Israel é completamente apolítica e não critica, nem apoia as visões políticas de nenhum envolvido. Temos que cumprir a nossa obrigação contratual em Israel. No entanto, mudamos o repertório e faremos um show especial com a Israeli Pink Floyd Tribute Band Echoes. Lamentamos o transtorno causado e não queremos causar ódio”, afirmou o grupo.
A nota dos músicos diz, ainda, que os lucros obtidos com os shows em Israel serão destinados ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). “Foi inocente demais pensar que nossas razões não seriam mal-entendidas e deturpadas”, completou.
Os shows seguem marcados para os dias 4, 5 e 6 de janeiro, respectivamente em Beersheba, Tel Aviv e Haifa. Apesar disso, as datas não constam na agenda oficial da banda-tributo, que também desativou suas redes sociais.
Críticas a produtor dos shows
Um dos produtores dos shows, Ziv Rubinstein, afirmou, ao Jerusalem Post, que as páginas nas redes foram desativadas porque os músicos foram ameaçados de morte, algo que não foi confirmado oficialmente pela banda. “Conhecemos as pessoas da banda e sabemos que amam Israel. Falamos com eles e com seus corações”, disse.
Ao The Times of Israel, o mesmo produtor disse que usou “a mesma munição que o sr. Waters: palavras”. “Nós os convencemos a vir. Pratiquei diplomacia, mas não foi algo político. Somos músicos e precisamos separar música e política. Eles querem vir, já vieram antes, mas ficaram com medo, pois foram ameaçados pelo sr. Waters. É pela música e pelo amor a ela – e isso é maior que o homem por si só”, afirmou.
As declarações de Ziv Rubinstein motivaram outra declaração de Roger Waters, que contestou a afirmação de que ele “falou com os corações” dos músicos. “Sinto muito que eu tenha assustado vocês, garotos. Eu poderia ajudá-los a resistir se vocês me pedissem. Sugeriram que eu tivesse publicado os números de vocês como vingança, mas eu nem sei o telefone de vocês. É parte do Hasbra, lobby israelense, tentando me pintar como um valentão malvado em vez de um preocupado ativista de direitos humanos. Vocês disseram que vão tocar em Israel sem nenhuma de minhas músicas. Obrigado pela pequena concessão, não vai trazer os mortos de volta nem acabar com a ocupação, mas, por favor, divulgue seu repertório. Imagino que terá músicas de Syd (Barrett), ‘Great Gig’, ‘Fat Old Sun’ e material pós-1985? Peça à banda-tributo de Israel que denuncie o apartheid do país durante o repertório. Espero que eles, assim como vocês, não toquem minhas músicas. Não suporto nenhuma má vontade”, disse, também nas redes sociais.