...

Os 35 anos de ‘Shout At The Devil’, o disco heavy metal do Mötley Crüe

Mötley Crüe – ‘Shout At The Devil’
Lançado em 26 de setembro de 1983

Em 1983, não havia grande dissociação entre hard rock e heavy metal. Nomes influentes da década anterior, como Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep, Thin Lizzy e Judas Priest, entre outros, flertavam com ambos os gêneros e tratavam sua música como “heavy rock” mais do que qualquer outra coisa. E essa ideia foi preservada no início dos anos 1980, antes do hard rock atingir seu auge comercial.

- Advertisement -

Para algumas pessoas, parece absurdo dizer, hoje, que o Mötley Crüe gravou um disco de heavy metal. No entanto, é dessa forma que se define ‘Shout At The Devil’, segundo álbum da banda, lançado em em 26 de setembro de 1983.

O Mötley Crüe foi formado em 1981, no coração do hard rock daquele período – a Sunset Strip, em Los Angeles (Estados Unidos). No mesmo local, nasceram ou consolidaram-se bandas como Ratt, Quiet Riot, Great White e W.A.S.P., entre muitas outras que, diferente das citadas, não conseguiram a mesma fama.

A dissociação entre hard rock e heavy metal no que diz respeito aos primeiros anos da “cena Sunset Strip” só começou, mesmo, depois que as bandas começaram a ficar famosas. A mistura entre as duas sonoridades é perceptível nos primeiros discos do Ratt e do W.A.S.P., bem como nos trabalhos iniciais do Crüe – o debut “Too Fast For Love” (1981) e o próprio “Shout At The Devil”.

Antes de “Shout At The Devil”, aliás, o Mötley Crüe ainda não era uma banda grande. O álbum de estreia do quarteto formado por Vince Neil (vocal), Mick Mars (guitarra), Nikki Sixx (baixo) e Tommy Lee (bateria) foi lançado de forma independente e, apesar da excelente repercussão para a sua realidade, foi somente em 1982 que o patamar se elevou um pouco – “Too Fast For Love” chamou a atenção da Elektra Records, que ofereceu um rico contrato para o grupo.

– Leia resenha: ‘Saints Of Los Angeles’, o disco final do Mötley Crüe

“Shout At The Devil” foi o primeiro disco do Mötley Crüe a ser lançado em melhor estrutura. E percebe-se que, ao menos musicalmente, havia um foco musical mais definido. A banda queria, mesmo, praticar um som sujo e pesado, focado nas guitarras viscerais de Mars e na força da bateria de Lee. A voz de Neil, embora importante, era como a “cereja do bolo”, que também era acompanhada das letras de Sixx – algumas bem sacadas, outras apenas provocativas.

O tom “politicamente incorreto” de “Shout At The Devil” se reflete não só pelas letras de Nikki Sixx, como, também, pela capa original do disco, que mostra um pentagrama invertido. “Usamos o pentagrama em apenas um disco, o ‘Shout At The Devil’ (‘Grite Para o Diabo’) – então você precisa usar um pentagrama! Ninguém levava a sério esse negócio de satanismo. Faz parte da encenação, da imagem que você quer projetar. É um monte de baboseira mesmo. Ronnie (James Dio) não adorava o diabo, mas adorava história medieval. A mesma coisa em relação a Ozzy. Ele é a pessoa mais longe de ser um adorador do diabo que já conheci”, relata Vince Neil ao livro “Barulho Infernal”.

Direto em seu objetivo, “Shout At The Devil” acabou se tornando a porta de entrada do Mötley Crüe para o estrelato. O álbum teve bom desempenho em vendas e nas paradas da Billboard (chegou à 17ª posição na listagem geral), ancorado pelos singles “Looks That Kill” e “Too Young to Fall In Love”, de boa repercussão nos charts especializados em rock.

Em termos comerciais, dá para dizer que faltou um hit – algo que o disco sucessor, “Theatre Of Pain” (1985), entregaria com “Home Sweet Home”. No entanto, a ausência de uma canção mais radiofônica não é sentida em “Shout At The Devil”, porque trata-se de um disco sólido, consistente e com boas músicas do começo ao fim. É, certamente, um dos melhores da carreira da banda, ao lado do também ótimo “Dr. Feelgood” (1989).

O Mötley Crüe se promovia não apenas com seus discos e músicas, mas, também, com suas atividades – dentro e fora dos palcos. Além de ter se destacado no US Festival, realizado nos Estados Unidos em maio de 1983 – ou seja, antes do lançamento de “Shout At The Devil” -, a banda caiu na estrada para promover o novo álbum abrindo para ninguém menos que Ozzy Osbourne, que estava em uma crescente de popularidade com sua carreira solo. Foi nessa tour, aliás, que as histórias bizarras de “sexo, drogas e rock and roll” ligadas ao Crüe – e também a Ozzy – foram amplificadas.

O auge dos excessos do Mötley Crüe é representado pelo acidente de carro que envolveu Vince Neil e o baterista do Hanoi Rocks, Nicholas “Razzle” Dingley, em dezembro de 1984. Neil, que estava bêbado, perdeu o controle de seu carro, que transportava Razzle, e bateu em outro veículo que trafegava pela Redondo Beach, na Califórnia.

A colisão acabou por matar o baterista do Hanoi Rocks e Vince Neil foi declarado culpado pelo homicídio culposo (sem intenção de matar). O vocalista passou 15 dias na prisão, ficou cinco anos em condicional, prestou 200 horas de serviço comunitário e pagou US$ 2,6 milhões em indenização à família de Razzle e à vítima que estava no outro automóvel.

Leia resenha de “Mötley Crüe”, o único disco da banda com John Corabi

Nada disso foi capaz de frear o Mötley Crüe, que elevou seus excessos nos anos seguintes e, entre momentos de sobriedade e vícios descontrolados, oscilou em qualidade e, já nos anos 1990, passou até por mudanças de formação. “Shout At The Devil” é o fiel retrato do que era o Crüe antes de tudo – de bom e de ruim – acontecer com seus integrantes. Soa legitimamente visceral e, talvez, seja esse o seu grande charme.

Vince Neil (vocal)
Mick Mars (guitarra, violão)
Nikki Sixx (baixo)
Tommy Lee (bateria)

01. In The Beginning
02. Shout At The Devil
03. Looks That Kill
04. Bastard
05. God Bless The Children Of The Beast
06. Helter Skelter
07. Red Hot
08. Too Young To Fall In Love
09. Knock Em Dead, Kid
10. Ten Seconds To Love
11. Danger

* Siga IgorMiranda.com.br no InstagramFacebook e Twitter.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasOs 35 anos de 'Shout At The Devil', o disco heavy metal...
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades