Resenha: ‘Rainier Fog’ traz Alice In Chains com peso extra e desejo por continuidade

Resenha: Alice In Chains – ‘Rainier Fog’ [2018]

O Alice In Chains é uma das maiores bandas do movimento grunge, oriundo de Seattle. Apesar disso, sempre houve poucos elementos grunge na sonoridade da banda: as músicas presentes em discos como ‘Facelift’ (1990) e “Dirt” (1992) traziam fortes influências do stoner/hard rock e heavy metal, cujas pitadas não se faziam tão presentes nos álbuns de grupos como Nirvana, Pearl Jam, Stone Temple Pilots ou mesmo o Soundgarden. Em contrapartida, o Alice trazia pouco do punk/garage rock comum aos seus colegas.

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Uma análise mais geral da carreira do Alice In Chains indica que que, enquanto o vocalista Layne Staley (falecido em 2002) integrava a banda, havia certa preocupação em encaixar a sonoridade em uma estética que não fugisse do grunge de forma brusca. Além disso, a química entre o sempre depravado Staley e o guitarrista Jerry Cantrell sempre foi o fio condutor das composições – sem um desses elementos, a coisa muda de figura.

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Com William DuVall no lugar de Layne Staley e o protagonismo de Jerry Cantrell, a situação, realmente, ficou diferente. O Alice In Chains pareceu ter abraçado de vez o seu background metálico e lançou dois discos bem pesados: o ótimo ‘Black Gives Way To Blue’ (2009) e o razoável ‘The Devil Put Dinosaurs Here’ (2013).

‘Rainier Fog’, que chega a público nesta sexta-feira (24), preserva a estética dos antecessores: é pesado, não só em timbres, como em densidade. O diferencial – que o coloca entre os melhores álbuns do Alice In Chains – é o repertório consistente. As músicas são envolventes o bastante para te fazer apertar o play de novo. Soa como um disco de verdade, com início e fim, em vez de um agrupamento de músicas.

Já conhecida do público, ‘The One You Know’ abre ‘Rainier Fog’ com classe. É uma das melhores da tracklist: muito peso e groove nos versos, gancho melódico forte no refrão e letra reflexiva, feita na época em que David Bowie faleceu e com curiosa inspiração de ‘Fame’, hit do Camaleão do Rock lançado em 1975. A faixa título, escrita em homenagem à turma de Seattle, dá sequência em um tom de “Alice In Chains clássico”, devido à sua construção mais simples e pegada quase hard rock.

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Vale antecipar que a morte, tema central do trabalho do Alice In Chains desde seus primórdios, não se faz tão presente nas letras ou mesmo em arranjos mais melódicos de ‘Rainier Fog’. A faixa título é o melhor exemplo de que foi adotada uma visão um pouco mais otimista que o normal. Após perder tantos amigos e conhecidos da cena – Layne Staley, Mike Starr, Kurt Cobain, Scott Weiland e Chris Cornell, entre outros -, os remanescentes da banda só querem seguir em frente. “Após 15 anos falando sobre meus amigos morrendo, você só quer continuar em frente, porque é tudo que posso controlar”, disse Jerry Cantrell, em recente entrevista à Rolling Stone.

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Dessa forma, é fácil perceber que a faixa título poderia ter uma pegada mais triste, mas o Alice In Chains optou por apresentar uma reflexão positiva do movimento grunge. E isso se reflete em outros momentos do álbum. Estaria a eterna ‘neblina chuvosa’ (‘rainier fog’), enfim, se dissipando? Cena para os próximos capítulos da discografia.

‘Red Giant’, na sequência, é mais densa e comandada pelo groove de Mike Inez e Sean Kinney. O trabalho com as guitarras de Cantrell e DuVall é bastante climático. A semi-acústica ‘Fly’, por sua vez, coloca o pé um pouco no freio com um estilo de composição que só Jerry Cantrell conseguiria fazer, só que com um curioso otimismo melódico que tem chamado a atenção em todoo o álbum.

A cadenciada ‘Drone’ resume, em seus 6 minutos e meio de duração, por que o Alice In Chains é uma das poucas bandas a reproduzir tão bem a influência do Black Sabbath. Tony Iommi ficaria muito satisfeito com essa música – não só pelo riff principal, como, também, pela inesperada mudança de andamento no meio da canção. A soturna ‘Deaf Ears Blind Eyes’, por sua vez, não tem fôlego e dificilmente pode entrar para os melhores momentos do álbum, embora não seja uma faixa ruim.

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Iniciada com as vozes de William DuVall e Jerry Cantrell em coro, ‘Maybe’ até parece uma música do Eagles em seus primeiros segundos, mas descamba para Alice In Chains clássico: melodia depravada, groove climático e vocalizações entrosadas. Na sequência, outros dois singles já conhecidos do público: a intricada ‘So Far Under’, no molde esperado do “novo AiC” (tanto que é assinada somente por DuVall e tem até solo dele), e a paulada upbeat ‘Never Fade’, que, curiosamente, tem cara de hit.

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A lenta e extensa ‘All I Am’, com mais de 7 minutos de duração, fecha o álbum com melodias que lembram os melhores momentos de Layne Staley. Os arranjos mais sofisticados no “miolo” da música fazem com que ela se torne um dos destaques da tracklist.

‘Rainier Fog’ é, no geral, um disco corajoso. Sua bravura se resume pela tentativa – bem-sucedida, em meu ver – de aliar os elementos clássicos do Alice In Chains a uma pegada mais condizente com o momento de cada integrante. A proximidade cada vez mais latente com elementos do heavy metal fez com que o álbum apresentasse o cartão de visita da nova banda, que é capitaneada por Jerry Cantrell e traz William DuVall como um coadjuvante. Cantrell, aliás, parece ter mais momentos como vocalista principal do que DuVall.

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O Alice In Chains, aliás, é uma banda de muita bravura – não só por ter optado em seguir sua carreira sem Layne Staley, mas por continuar lançando discos e tentando se mostrar relevante com uma mensagem nova. Jerry Cantrell, Mike Inez e Sean Kinney não precisavam fazer isso, mas fazem. E mandam muito bem.

Talvez seja cedo para dizer que ‘Rainier Fog’ é o melhor disco do Alice In Chains desde seu retorno, na década passada, e comparável aos três primeiros álbuns. A impressão inicial é que, sim, a banda está se superando. Para quem teve dúvidas se voltaria após a prematura morte de Staley, o saldo é incrívelmente positivo. Em meio a tantas perdas relacionadas, o Alice In Chains merece vida longa – e prova o porquê em seu novo álbum.

Jerry Cantrell (vocal, guitarra solo)
William DuVall (vocal, guitarra rítmica, guitarra solo na faixa 8)
Mike Inez (baixo)
Sean Kinney (bateria)

Músicos adicionais:
Duff McKagan (baixo na faixa 2)
Chris DeGarmo (violão na faixa 6)

01. The One You Know
02. Rainier Fog
03. Red Giant
04. Fly
05. Drone
06. Deaf Ears Blind Eyes
07. Maybe
08. So Far Under
09. Never Fade
10. All I Am

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Ouça “Rainier Fog” na íntegra pelo YouTube.

“The One You Know” (clipe):

“Rainier Fog”:

“Red Giant”:

“Fly”:

“Drone”:

“Deaf Ears Blind Eyes”:

“Maybe”:

“So Far Under”:

“Never Fade”:

“All I Am”:

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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