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Viper fala sobre fase de ouro, Viper Day, erros e futuro em entrevista exclusiva

Cada vez mais estabelecido na agenda fixa do heavy metal brasileiro, o Viper Day, evento que celebra a carreira e o legado do Viper, chega à sua quarta edição nesta sexta-feira (20), às 22h, no Manifesto Bar de São Paulo (SP). O “dia do Viper” é promovido, anualmente, sempre em abril – mês em que a banda fez seu primeiro show, no Lira Paulistana, em 1985.

Desta vez, o Viper celebrará, em seu Viper Day, o 25° aniversário do álbum ao vivo “Maniacs In Japan”, que capta um show da turnê feita para promover o full-length “Evolution”, de 1992. A performance presente em “Maniacs In Japan” ocorreu no Club Cittá, em Tóquio, Japão, no dia 18 de abril de 1993. Naquele ano, o registro chegou a público e confirmou a boa fase vivida pelo grupo, que já não contava com Andre Matos nos vocais – a formação era composta por Pit Passarell no vocal e baixo, Yves Passarell e Felipe Machado nas guitarras e Renato Graccia na bateria.

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“O Viper Day foi algo que inventei para ter certeza de que, pelo menos, teria um evento do Viper por ano”, disse, aos risos, Felipe Machado, em entrevista exclusiva ao Whiplash.Net. “Falo brincando, mas é um jeito de reunir os amigos e a própria banda, que, ultimamente, não tem tido uma carreira muito estável, de estar 100% na ativa. Então, o Viper Day é uma maneira de celebrar a maneira do Viper, reunir os amigos e tocar junto”, completou.

Veja, abaixo, um vídeo do Viper Day de 2017, que celebrou os 25 anos de “Evolution”.

A formação atual do Viper mantém seus dois cabeças dos tempos “áureos”: Pit Passarell e Felipe Machado. Os demais músicos, agora, são o guitarrista Hugo Mariutti, o baterista Guilherme Martin e o vocalista Leandro Caçoilo, que, também em entrevista ao Whiplash.Net, demonstrou empolgação por integrar uma banda da qual é fã desde os tempos de “Maniacs In Japan”. “O ‘Maniacs In Japan’ foi um dos discos que me fez gostar do Viper. Conheci o Viper a partir do ‘Evolution’, pela MTV, junto do Angra, no começo dos anos 1990. Eu também ouvia o ‘Backstage’, aí o Vitão Bonesso falou que iria passar o show gravado no Japão e meu irmão e eu ficamos loucos, gravamos esse show em fita. E, putz, aí hoje estou na banda fazendo um show sobre esse CD que me marcou tanto”, disse.

Em seu “dia”, o Viper promete fazer uma verdadeira festa em homenagem à sua trajetória e ao heavy metal brasileiro, pois vários convidados subirão ao palco. Entre as participações anunciadas, estão: Marielle Loyola e Isa Nielsen, vocalista e guitarrista do Volkana, banda que tocou bastante com o Viper na década de 1990; os membros do Vírus, citado como grande influência para o Viper no início da carreira; Renato Graccia e Ricardo Bocci, respectivamente ex-baterista e ex-vocalista do grupo; e o baixista Luis Mariutti, ex-Angra e Shaman, que está em carreira solo atualmente e é irmão de Hugo Mariutti.

“Por várias razões, é uma participação muito esperada (a de Luis Mariutti). O Luis não é um baixista qualquer: ele tem uma história, um nome, uma carreira super respeitada que admiramos muito. Além disso, o Pit tem participado muito como vocal, toca violão e guitarra, então, ter o Luis em algumas músicas será legal”, afirmou Felipe Machado, que disse, ainda, não ter confirmação de Andre Matos e Yves Passarell, respectivamente ex-vocalista e ex-guitarrista do Viper. “Estou tentando”, afirmou Machado, aos risos.

Como será o show no Viper Day

Além das participações, o Viper já sabe como será, em termos de repertório, o show do Viper Day. “Vamos tocar o disco (‘Maniacs In Japan’) na íntegra, mas não na sequência. Mudamos um pouco porque, senão, ficaria muito parecido com o que tocamos no Viper Day ano passado. Então, invertemos algumas coisas”, afirmou Leandro Caçoilo.

O repertório do “Maniacs In Japan” é composto por sete faixas de “Evolution” (“Coming From The Inside”, “Dead Light”, “Evolution”, “Rebel Maniac”, “Still The Same” e “The Shelter”), uma dp EP “Vipera Sapiens”, de 1992 (“Acid Heart”); três do “Theatre of Fate”, de 1989 (“A Cry from the Edge”, “Living for the Night” e “To Live Again”); uma do “Soldiers of Sunrise”, de 1987 (“Knights of Destruction”) e três covers (“We Will Rock You”, do Queen; “Não Quero Dinheiro”, de Tim Maia; e “I Wanna Be Sedated”, dos Ramones).

O auge dos maníacos

Pode não parecer, mas o auge do Viper, em termos comerciais, aconteceu na época que rendeu o álbum “Evolution” e o ao vivo “Maniacs In Japan”, e não no fim da década de 1980, com Andre Matos nos vocais.  “Acho que o Viper foi a primeira banda brasileira – até mesmo antes do Sepultura – a ter um nome grande no Japão. Depois, o Sepultura foi para lá várias vezes, o Angra apareceu e essas se tornaram bandas grandes no Japão e no mundo inteiro. Mas essa ligação do Viper com o Japão foi muito importante para a banda, porque foi a primeira faísca a tornar o Viper uma banda internacional”, afirmou Felipe Machado.

Vale destacar, no entanto, que os trabalhos anteriores com Andre – “Soldiers of Sunrise” e “Theatre of Fate” – ajudaram muito a lançar o Viper no Japão. “O grande momento da carreira do Viper, por mais estranho que pareça para alguns, foi na fase do Pit. São praticamente duas bandas, quase com a mesma formação, mas costumo brincar que a gente fez o contrário do Iron Maiden: tiramos o Bruce (Dickinson) e colocamos o Paul Di’Anno”, disse o guitarrista, em tom de brincadeira. “A carreira internacional do Viper começou graças a um disco que tinha o Andre, mas tomou mais força quando o Pit virou vocalista”, completou.

Até Leandro Caçoilo, hoje no vocal do Viper, começou a gostar do Viper quando Pit Passarell era o frontman. “Gosto pra caramba da fase do Andre, mas conheci o Viper após o Andre, com o Pit nos vocais. O ‘Theatre Of Fate’ é um baita disco, maravilhoso para a época. E eu não sabia que o Andre tinha cantado no Viper na época que conheci a banda. Eu conheci, na mesma época, o Dr. Sin, o Viper e o Angra por causa da MTV”, afirmou.

O relançamento de “Vipera Sapiens”

Outra novidade a acontecer no Viper Day é o anúncio da data em que o EP “Vipera Sapiens”, com músicas gravadas na Alemanha durante as sessões do “Evolution”, será relançado. O registro foi divulgado no Japão, durante a turnê que originou “Maniacs In Japan”, mas nunca havia chegado ao Brasil. Agora, o Wikimetal preparou uma edição comemorativa, em CD e formato digital, com mais de 10 faixas bônus.

“O EP deve sair ainda no primeiro semestre, mas não posso falar a data porque ainda não sei, mas será anunciada no Viper Day. Ele virá com várias bônus, demos, como nos outros relançamentos. E devemos ter outra festa para comemorar o lançamento”, contou Felipe Machado, que revelou, ainda, que a ideia é relançar todos os discos do Viper no formato digipack. “Já relançamos o ‘Soldiers of Sunrise’, ‘Theatre of Fate’ e ‘Evolution’. Agora, vem o ‘Vipera Sapiens’ e vamos ver se conseguimos relançar o ao vivo, quem sabe o ‘Coma Rage’ (1995), mas o próximo é o ‘Vipera Sapiens’. Inclusive, já comecei a participar da masterização”, afirmou.

Bom momento acabou rápido

Ao ser questionado sobre o futuro do Viper após “Maniacs In Japan”, Felipe Machado se mostra consciente de que “coisas loucas” foram feitas na carreira da banda. O sucessor de estúdio de “Evolution”, “Coma Rage”, saiu com uma pegada mais orientada ao punk – “algo bem Los Angeles, por ter sido gravado por lá” – e a repercussão já não foi a mesma do disco anterior. O distanciamento definitivo ocorreu com “Tem Pra Todo Mundo” (1996), gravado com letras em português e de sonoridade mais próxima ao pop rock.

“Fizemos uma turnê muito grande do ‘Coma Rage’ no Brasil, tocando com bandas como Raimundos. O rock brasileiro estava se renovando e pensamos em virar uma banda brasileira. Acabávamos de sair de uma gravadora gringa, a Roadrunner, e tivemos uma proposta para uma gravadora internacional, mas com foco grande no Brasil, que era a Castle. Achamos que seria a hora de uma mudança”, disse Machado. “Sentimos algo estranho como chegar em Manaus ou na Bahia e cantar em inglês. As pessoas estão na frente do palco e, aí, você canta em inglês. Começou a nos incomodar nesse sentido. E tinha bandas legais fazendo música em português naquele período, como o Raimundos, Charlie Brown Jr, Chico Science… eram de outros estilos, mas tinham letras em português e as pessoas entendiam na hora. Enquanto isso, estávamos cantando em inglês, ‘everybody everybody’. Não fazia sentido”, completou.

No entanto, já em um contexto comercial, “Tem Pra Todo Mundo” foi lançado em um momento ingrato, embora, segundo Machado, tenha bons momentos. “Ele tem músicas boas, mas eu o acho um pouco mal gravado. Faria diferente algumas coisas, mas tem músicas legais, como a ‘8 de Abril’, que tem uma letra do c*ralho do Pit – justamente por isso, foi chamado para colaborar com várias músicas do Capital Inicial. Ele também compõe muito bem em português. Gravamos no Rio de Janeiro, com participação do pessoal da Legião Urbana, de quem éramos próximos na época. O disco saiu quando Renato Russo havia acabado de morrer e isso pressionou mais as bandas. Daí, o disco sai, o clipe vai para o primeiro lugar nas paradas da MTV e nas rádios… aí a gravadora alega falência. Aí, f*deu, né? Então, tudo isso contribuiu. Se o disco tivesse sido um grande sucesso, com o destaque que achamos que ele merecia, talvez, nem tivéssemos essa conversa, porque teria sido uma decisão boa”, disse.

No fim das contas, a decisão de fazer músicas em português não se mostrou acertada: “Tem Pra Todo Mundo” não agradou e o Viper encerrou suas atividades em meio a problemas internos. “Olhando agora, acho que (o álbum) foi um puta erro (risos). Deveríamos ter lançado um projeto paralelo, chamar de Víbora, sei lá (risos). Mas nunca fomos de ‘meias-decisões’, sempre fomos muito corajosos, para o bem e para o mal. Em termos de carreira, não foi uma boa decisão e sofremos com isso, mas tivemos outro problema em seguida: a gravadora que lançou o disco em português acabou por falir, daí entrou uma disputa judicial e foi justamente quando a banda parou”, afirmou.

Apesar da rejeição e do fim do Viper, o guitarrista destacou que não se arrepende de ter lançado “Tem Pra Todo Mundo”. “Às vezes, você toma algumas decisões que você se arrepende e, com outra cabeça, com mais experiência, pensa que poderia ter tomado outra decisão. Mas não me arrependo dessas coisas, porque foram importantes para nós, como pessoas. Pelo ponto de vista na carreira, o disco em português foi um erro, mas, na hora, parecia uma ideia legal, algo diferente”, disse.

Futuro

Após ter encerrado suas atividades em 1996, o Viper voltou em 2004, gravou “All My Life” (2007) com Ricardo Bocci nos vocais, entrou em hiato a partir de 2009 e retomou suas atividades, de vez, em 2012, em uma turnê comemorativa com Andre Matos nos vocais. A tour com Matos chegou ao fim e, em 2017, Leandro Caçoilo foi efetivado na vaga. Desde então, pouco foi feito pela banda.

Caçoilo entende que, hoje, o Viper seja capaz de lançar material novo em grande estilo. “Acho que gravar algo inédito puxaria muito uma turnê de uma banda como o Viper. Sou novo na banda, mas quero ter um material com o Viper, porque respeito muito e, acima de tudo, sou fã. O Viper já fez uma turnê grande com o Andre Matos, com os dois primeiros discos, e acho que eles puxaram tudo possível com isso. Agora, é o momento para se olhar para a frente e enxergar o novo”, afirmou.

O vocalista contou, ainda, que fez duas músicas com Pit Passarell e entregou uma pré-produção aos demais integrantes. “Não depende mais de mim, mas, tudo com muita calma, pois ninguém mais depende da banda. Então, é preciso ter certeza do que se fazer. Vou forçar bastante para lançarmos pelo menos um single, para testar isso aí. É uma banda muito importante, icônica, que tem um passado glorioso, mas tem que lembrar que ninguém vive só de passado”, disse. “Não estamos mais na época de ouro, com investimento muito grande das gravadoras, mas acho que, com boa música, conseguimos fazer um esquema especial”, completou.

Um pouco menos empolgado, Felipe Machado afirma que se deve pensar melhor antes de fazer algo com o Viper. “O Leandro está super ansioso para gravar coisa nova e eu o entendo. Ele entrou na banda e, desde então, fizemos poucos shows, sempre celebrando material antigo. Estamos em uma fase difícil para sentar e compor algo novo, mas insisto em fazer o Viper Day até para jogar uma pilha em todos. Não quero te prometer música nova, mas acho que é possível. Temos um cara com sangue novo chegando agora, que é o Leandro. O Pit está em uma fase onde a gente nunca sabe direito o que se passa na cabeça dele (risos), mas, se a gente sentar e ele tiver boas ideias de música, sai coisa nova”, pontuou.

Os planos mais concretos do Viper para os próximos meses estão ligados à estrada, segundo Machado. “Após o Viper Day, vamos fazer alguns shows. Estamos marcando datas, já temos uma no interior de São Paulo já em maio, além de Brasília, fora de São Paulo… os shows vão rolar. Por enquanto, será com material antigo do Viper, mas quem sabe não saem coisas novas? Em 2007, quando nos reunimos para alguns shows, acabou gerando o ‘All My Life’, que é um disco com músicas bem legais. E acabamos tocando, fazendo turnês, mas não tocamos fora, só no Paraguai e Argentina. Mas ele foi resultado desses encontros. Então, quem sabe a gente não faça um ‘All My Life 2’?”, concluiu.

Enquanto o Viper não retoma suas atividades de forma integral, os integrantes se dedicam a projetos dentro e fora da música. Além de jornalista e escritor, Felipe Machado lançou, em 2015, o álbum “FM Solo”, feito com Val Santos. “É bem diferente do Viper, mas deu para colocar várias influências de outras áreas”, contou. Já Pit Passarell tem um projeto chamado Los Dos Perdidos Guilherme Martin toca no Toy Shop, Hugo Mariutti conduz uma carreira solo mais orientado ao britpop e Leandro Caçoilo é vocalista das bandas Caravellus, Seventh Seal, Endust, Sancti, Heartshine e Dirty Dogs – a última, um projeto que faz shows-tributo ao heavy metal tradicional.

Serviço – 4º Viper Day, 25 anos de “Maniacs in Japan”
Quando: 20 de abril, às 22h
Onde: Manifesto Bar – Rua Iguatemi, 36C – Itaim – São Paulo (SP)
Ingressos antecipados: Ticket Brasil – www.ticketbrasil.com.br
Mais informações: www.manifestobar.com.br / Wikimetal Music – www.wikimetal.com.br

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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