Os últimos anos de Pat Torpey me fizeram ainda mais fã do Mr. Big

Pat Torpey se foi. Muito antes do que se esperava, inclusive. Alguns sites, incluindo a Wikipédia, reportam que o baterista do Mr. Big estava com 58 anos, enquanto outras publicações afirmam que ele tinha 64. Ainda era jovem, de certo modo.

A causa específica de sua morte ainda não foi revelada. Sabe-se, no entanto, que Torpey faleceu devido a complicações geradas pelo Mal de Parkinson, doença que ele anunciou estar enfrentando em 2014 – ele, no entanto, poderia já estar com sintomas desde antes disso.

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Doença degenerativa, o Mal de Parkinson apresenta sintomas motores, mas também traz outros problemas físicos e psicológicos, como no humor, no sono, na memória e, em especial, na alimentação – Pat Torpey, diga-se de passagem, estava visivelmente mais magro em seus últimos anos. Embora o Parkinson não seja letal de forma direta, um paciente com a enfermidade vai se enfraquecendo e fica suscetível a outros problemas.

O diagnóstico do Mal de Parkinson para alguém que vive de seu físico é como decretar sua invalidez. Pat Torpey dependia da plenitude de seus movimentos para continuar como baterista do Mr. Big, banda que havia anunciado seu retorno em 2009 após ter encerrado suas atividades em 2002. Antes do diagnóstico ter sido revelado, Torpey ainda estava mandando muito bem – vi a banda em São Paulo, em 2011, e o primor técnico de todos os integrantes foi algo a se destacar.

Ainda assim, Pat Torpey não foi vítima da invalidez nem mesmo em seus últimos tempos de vida. Pat já estava com sintomas de Parkinson nas gravações do segundo disco da reunião, “…The Stories We Could Tell”, e acabou substituído por Matt Starr no banco da bateria, mas a banda tomou uma atitude incrível ao manter Torpey na banda. O músico seguiu excursionando com o grupo, tocando percussão e fazendo backing vocals.

Em estúdio, Pat Torpey também seguiu importante. No disco mais recente do Mr. Big, “Defying Gravity” (2017), ele participou das composições, tocou onde conseguiu e foi creditado como um “produtor de bateria” – Matt Starr, basicamente, fez as linhas instrumentais que Torpey desejava. Guardadas as devidas proporções, foi como outros guitarristas gravarem as composições de Jason Becker, que seguiu criativo mesmo estando completamente debilitado pela esclerose lateral amiotrófica (ELA).

Na prática, como isso funcionou? O guitarrista Paul Gilbert comentou, em entrevista ao All That Shreds, a participação de Pat Torpey em “Defying Gravity”. “A força física de Pat é bem menor agora, então usamos nosso baterista de turnê para gravar. Porém, Pat ainda está lá, como um produtor de bateria, para garantir que soaria como se ele estivesse tocando. Pat também é essencial para o som vocal do Mr. Big. Fazemos várias harmonias. Há muitas decisões a serem tomadas sobre as músicas a serem escolhidas, como os arranjos serão feitos, então estou feliz de que Pat esteja conosco. É uma parte importante de se estar em uma banda”, afirmou.

Já em entrevista à Rock Rebel Magazine, o baixista Billy Sheehan explicou a manutenção de Pat Torpey na banda. “Os militares americanos têm o lema ‘nenhum homem fica para trás’. Adotamos esse lema. Muitas bandas saem por aí sem todos os membros originais. É triste, às vezes não dá mesmo. Pessoas passam por situações, mas queríamos que fossem Paul (Gilbert), Eric (Martin, vocalista), eu e Pat. Matt (Starr) tem sido incrível ao ajudar. Devo citar o quão fenomenal ele é e o quão sensacional tem sido o seu trabalho ao tocar as partes de Pat da forma que devem ser tocadas”, disse.

Seria cômodo para o Mr. Big seguir somente com Matt Starr. Excursionar com uma pessoa que tem Mal de Parkinson poderia trazer eventuais problemas à banda, da logística à confirmação de datas. No entanto, o grupo passou por cima disso e, sem dúvidas, ajudou a manter Pat Torpey vivo por mais algum tempo – afinal, a saúde mental é importante em um momento onde se acredita estar “inútil” diante da enfermidade.

Embora eu acredite que seja importante, sim, dar um tempo na carreira para cuidar de seus problemas de saúde – sinto que perdemos Lemmy Kilmister, do Motörhead, antes do momento ideal porque ele simplesmente não soube parar -, não há como negar que, no caso de Pat Torpey, foi importante mantê-lo ativo. Todos saíram ganhando com essa nobre atitude.

O Mr. Big é, desde o início dos anos 2000, uma das minhas bandas favoritas. E, graças aos últimos anos de Pat Torpey, merecem a posição de “ídolos” – algo cada vez mais raro nesse segmento. Pat amou a música e tudo o que ela traz até seus momentos finais de vida. Espero que, agora, o carismático baterista possa descansar em paz.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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