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E se Kurt Cobain ainda estivesse vivo?

Kurt Cobain, frontman do Nirvana, faria 50 anos nesta segunda-feira (20). Sua trajetória foi interrompida de forma brusca quando ele tinha apenas 27 anos: em 5 de abril de 1994, ele se matou com um tiro de espingarda.

Percebo que não há, exatamente, uma boa vontade em reconhecer o legado de Kurt Cobain por parte do público fã de rock. Esse sentimento aumenta quando falo daqueles ligados a gêneros como o hard rock e o metal, considerados mais “tradicionais”.

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A rejeição é, de certa forma, natural. O Nirvana é creditado não só por ter capitaneado a explosão comercial do grunge, no início da década de 1990, como, também, por ter “matado” o segmento oitentista do hard rock e algumas ramificações do heavy metal. Já compactuei deste sentimento.

Contudo, tal atribuição é injusta. No mesmo ano em que “Nevermind” (1991) foi lançado, o “Black Album”, do Metallica, fez um enorme sucesso, o Guns N’ Roses seguiu sua trajetória de êxito com a turnê de “Use Your Illusion” e o Skid Row alçava voos ainda maiores com “Slave To The Grind”. Em 1992, trabalhos lendários como “Vulgar Dispaly Of Power” (Pantera), “Countdown To Extinction” (Megadeth) e “Keep The Faith” (Bon Jovi) chegavam a público.

Kurt Cobain liderou um movimento que, como todos os outros existentes na música, foi cíclico. Os distintos excessos da década de 1980 foram substituídos por certo minimalismo nos anos 1990. É desonesto enxergar o grunge como algo alheio à música: o hard rock presente no som do Pearl Jam e do Soundgarden, as influências metal do Alice In Chains e a sonoridade punk a-la Stooges do Nirvana mostram que o segmento não surgiu do nada. E isto só citando as quatro bandas mais famosas.

Reflexões a parte, como seria se Kurt Cobain não tivesse decidido acabar com sua própria vida em 5 de abril de 1994? E se ele ainda estivesse vivo para completar o seu 50° aniversário?

Trata-se, obviamente, de exercício de imaginação. Não só porque substitui o que realmente aconteceu, mas também porque, mesmo se excluíssemos o fato de 5 de abril de 1994, é quase impossível imaginar em Kurt Cobain vivo em 2017. Ele teria cometido suicídio ou falecido sob outras circunstâncias nos anos seguintes.

Quem teve a oportunidade de ler um pouco sobre Kurt Cobain, sabe que o músico teve uma adolescência problemática. O problema teve início quando seus pais se divorciaram quando ele tinha apenas 9 anos. Na sequência, o futuro rockstar não soube lidar com suas novas “famílias”: o pai se casou com outra mulher e teve um filho mais novo, de quem Kurt sentia ciúmes. Já a mãe começou a namorar um homem que abusava dela. A violência doméstica rolava na frente de Kurt.

A partir de sua adolescência, Kurt Cobain foi visto como um degenerado por onde passava. Não conseguiu se graduar no colégio e acabou expulso de casa por sua mãe. Chegou a morar debaixo de uma ponte.

O cenário estimulou a construção de um sujeito degenerado, com problemas psicológicos que nunca foram tratados – pelo contrário, foram potencializados com a fama. O vício em drogas e o comportamento errático se tornaram as marcas de Cobain até o fim de sua vida.

Ainda assim, como mero exercício de imaginação, vale imaginar o que teria acontecido se Kurt Cobain conseguisse sobreviver. Para que Cobain continuasse vivo, muitas coisas teriam que mudar, inclusive dentro dele próprio. O Kurt porra-louca já não poderia existir mais em determinado momento a partir da segunda metade da década de 1990.

Não dá para imaginar, por exemplo, o Nirvana com uma sobrevida sem o Kurt porra-louca. A sinceridade é o principal charme das músicas de Cobain, que nunca foi um instrumentista técnico ou um letrista de autorias complexas. Quando ele deixasse de ter experiências intensas para retratar em suas canções, o que restaria?

Há quem especule que ele poderia acabar brigado com Dave Grohl. Duvido muito, mas, sem dúvidas, Grohl não ficaria no Nirvana por muito tempo. O desejo de Dave em capitanear um projeto com suas próprias composições já era explícito desde os tempos ao lado de Kurt.

Por tudo isto, não imagino o Nirvana como um projeto duradouro a longo prazo, mesmo se Kurt Cobain ainda estivesse vivo. Creio que Kurt se envolveria com trabalhos de teor mais experimental. Basicamente, seria impulsionado por grupos que ele mesmo influenciou, como o Radiohead.

Sem o devido tratamento clínico, Kurt Cobain jamais seria capaz de aceitar o sucesso. Isto afetaria a sua produtividade e o tornaria, inevitavelmente, recluso. Turnês gigantescas e lançamentos pomposos não fariam parte da rotina de Cobain.

Ainda assim, creio que Kurt Cobain permaneceria como alguém relevante na música. Teria um destino próximo ao de Lou Reed em seus últimos anos. Mas deve-se considerar: é tudo exercício de imaginação. Definitivamente, Kurt não estaria vivo hoje se continuasse da forma em que se encontrava na década de 1990.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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