Ausência do “Dia do Metal” no Rock In Rio 2017 é compreensível

Tem rolado um grande auê pelo fato de não existir um dia dedicado ao metal e suas vertentes no Rock In Rio 2017. Algumas atrações ligadas ao gênero – como Sepultura e Alter Bridge – já foram confirmadas, mas não deve haver um grande nome do metal, visto que todos os headliners parecem ter sido fechados.

Fato é que este “Dia do Metal” ocorreu poucas vezes em edições do festival no Brasil. Vamos recapitular:

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– Em 1985, o mais próximo que se chegou a isto foi quando AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne e Whitesnake tocaram no mesmo dia em que Erasmo Carlos e Baby Consuelo & Pepeu Gomes. Entre tais atrações, só o Madman é algo concretamente metálico.

– Em 1991, o mais próximo que se chegou a isto foi com a escalação de Guns N’ Roses, Judas Priest, Queensrÿche, Megadeth, Lobão e Sepultura. A atração nacional (vaiada justamente por estar ali naquele dia) e o grupo de Axl Rose destoam do tom metálico, mas houve certa unidade.

– Em 2001, dividiram o mesmo palco nomes como Iron Maiden, Rob Halford, Sepultura, Queens Of The Stone Age, Pavilhão 9 e Sheik Tosado. Ainda não é um dia metal, mas as três atrações principais correspondiam a tal expectativa.

– Em 2011, teve início a “tradição” do “Dia do Metal”. Metallica, Slipknot, Motörhead, Coheed And Cambria e Gloria tocaram no Palco Mundo, enquanto Sepultura + Tambours du Bronx, Angra + Tarja Turunen, Korzus + The Punk Metal Allstars e Matanza + B Negão marcaram presença no Sunset. Ainda houve um quê de new metal na noite de encerramento, com System Of A Down e Evanescence ao lado de Guns N’ Roses, Pitty e Detonautas.

– Em 2013, dá para dizer que houve dois “do Metal”. Em uma noite, teve Metallica, Alice in Chains, Ghost, Sepultura + Les Tambours du Bronx, Rob Zombie, Sebastian Bach e Almah + Hibria. Em outra, teve Iron Maiden, Avenged Sevenfold, Slayer, Kiara Rocks, Sepultura + Zé Ramalho, Helloween + Kai Hansen, Destruction + Krisiun e Viper.

– Em 2015, três noites destinadas ao estilo, parcial ou totalmente. Na primeira: Metallica, Mötley Crüe, Royal Blood, Gojira, Korn, Ministry + Burton C. Bell, Angra + Doro Pesch + Dee Snider e Noturnall + Michael Kiske. Na segunda: System of a Down, Queens of The Stone Age, Hollywood Vampires, CPM 22, Deftones, Lamb of God, Halestorm e John Wayne + Project 46. Na terceira (e a mais alternativa possível): Slipknot, Faith no More, Mastodon, De La Tierra, Steve Vai + Camerata Florianópolis, Nightwish + Tony Kakko, Moonspell + Derrick Green e Clássicos do Terror.

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É evidente que a tradição de se ter um “Dia do Metal” começou, mesmo, com o retorno definitivo do festival ao Brasil, em 2011. E acompanhou um momento econômico mais otimista vivenciado no Brasil.

Hoje, é esperado que o Rock In Rio não invista no “Dia do Metal” por uma série de fatores. Divido-os, abaixo, em quatro tópicos centrais:

Desinteresse por headliners inéditos

Não há mais headliners inéditos capazes de lotar o evento. Em 2015, o Slipknot e as demais atrações do dia não foram suficientes para encher o local.

Apesar da organização do festival não se manifestar oficialmente, profissionais de imprensa que fizeram a cobertura destacaram a existência de espaços vazios. E há relatos de que o dia do System Of A Down também não teve esgotamento de entradas.

O dia com o Slipknot também foi o único, daquela ocasião, que não contou com ingressos esgotados de imediato. Até pouco tempo antes do festival, ainda era possível comprar entradas para o dia em questão – algo raro, se tratando de Rock In Rio.

Indisponibilidade dos headliners “repetidos”

Os headliners “repetidos” do metal são, basicamente, quatro: Iron Maiden, Metallica, Slipknot e System Of A Down.

O Maiden está para encerrar a turnê que promove “The Book Of Souls” desde fevereiro de 2016 – o último show marcado é em 22 de julho. O Metallica já virá ao Lollapalooza Brasil, em março. O Slipknot teve problemas para lotar a noite em que foi headliner na edição de 2015.

O System Of A Down já veio duas vezes, com o mesmo repertório, em 2011 e 2015. Ainda assim, é o grupo com maior potencial para ainda ser confirmado, mesmo que não seja “nas cabeças”: fará uma breve turnê pela Europa entre junho e julho, somente em festivais. E repetição não é problema para o RIR: o Metallica veio três vezes, entre 2011 e 2015, sem ter lançado um disco novo.

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Momento econômico

É mais cômodo investir em segmentos mais populares, como o pop e gêneros mais conhecidos do rock, devido ao momento econômico que o Brasil atravessa atualmente. O período é de recessão, tanto que a quantidade de shows internacionais de rock/metal em 2017 não deve ser tão grande.

Por mais que 2015 já se apresentasse um momento de recessão, o período era um pouco melhor com relação a isto. E, ainda assim, houve decepção em termos de público.

Curiosamente, também foi o ano com menos atrações pop “nas cabeças”: apenas Rihanna e Katy Perry, nos últimos dois dias. Além das duas cantoras e das três bandas de metal, os outros headliners foram Rod Stewart, em um dia mais dedicado ao flashback, e Queen + Adam Lambert, atração que fala por si só.

Concorrência

Houve concorrência entre grandes festivais neste ano. O Lollapalooza, neste ano, resolveu trazer o Metallica. Roubou um dos headliners favoritos do Rock In Rio.

Já o Maximus Festival trará outra banda que, imagino, poderia capitanear uma noite do Rock In Rio: Linkin Park. O evento ainda terá shows de Prophets Of Rage, Slayer, Rob Zombie, Ghost e outros. E sempre há aqueles shows isolados, que acontecem fora de grandes festivais.

Apesar disso…

No mais, ainda é possível se surpreender com a escalação do evento para 2017. Medina e seus asseclas podem sacar um Ozzy Osbourne de suas cartolas, por exemplo. A data em que uma atração do porte de Madman se apresentasse ainda seria considerada um “Dia do Metal”, mesmo sem tantos outros grupos do mesmo gênero.

Além disso, as atrações do Palco Sunset continuam valendo muito a pena, apesar da estrutura não ser a mesma. Neste ano, só para exemplificar, teremos Alice Cooper e Arthur Brown em um dos dias no Sunset. É possível que um dos dias tenha vários shows metálicos nos horários que contemplam o período da tarde. E ainda seria um bom investimento.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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