Quando Ozzy Osbourne se aposentou, mas logo desistiu

Ozzy Osbourne deu início à década de 1990 melhor do que seus últimos anos na década de 1980. “No More Tears”, lançado em setembro de 1991, segue, até hoje, como um de seus discos mais aclamados.

Neste período, o entrosamento da banda, especialmente entre Ozzy Osbourne e o guitarrista Zakk Wylde, era de se destacar. Wylde havia se tornado, enfim, um substituto a altura do falecido Randy Rhoads e do problemático Jake E. Lee. O pró-ativo baterista Randy Castillo e o baixista Bob Daisley, sempre importante nos bastidores, seguiam presentes.

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“No More Tears” também tem um ingrediente extra: a parceria com Lemmy Kilmister nas composições deu muito certo – ele co-escreveu “Mama, I’m Coming Home”, “I Don’t Want To Change The World” e “Hellraiser”. Deu tão certo que as canções citadas são os maiores destaques do disco, ao lado da própria faixa título.

O problema é que mesmo lançando um disco excelente, com boas críticas e ótimas vendas, Ozzy Osbourne decidiu se aposentar. O anúncio foi feito na primeira metade de 1992. Na época, Ozzy afirmou que estava cansado das turnês e da sua própria imagem de “trevoso”.


Posteriormente, Ozzy Osbourne revelou que também quis parar após ter sido diagnosticado com esclerose múltipla, no início daquele ano. No entanto, os médicos erraram na conclusão: na verdade, Ozzy tinha a raríssima Síndrome de Parkin, um problema genético com sintomas semelhantes aos do Mal de Parkinson.

Vale destacar que, em alguns momentos, Ozzy Osbourne disse que encerraria sua carreira, mas em outros, pontuou que somente não faria mais excursões longas. Fato é que soou como um real anúncio de aposentadoria.

Dessa forma, a turnê que divulgou “No More Tears” foi batizada de “No More Tours”. A expectativa é que Ozzy Osbourne fizesse pouco mais de 100 shows em cinco meses (ou 150 dias), entre junho e novembro de 1992.


A “No More Tours” passaria por todos os cantos dos Estados Unidos e alguns trechos do Canadá. Estranho a turnê não ter contado com shows na Inglaterra, terra natal de Ozzy – o que indica que, de certa forma, é bem provável que ele não pretendia se aposentar por completo, apenas reduzir o ritmo.

Fato é que pouco mais da metade das apresentações previstas realmente aconteceram. Cerca de 40 shows foram cancelados – a maior parte deles não aconteceu porque ainda em julho, no início da turnê, Ozzy Osbourne quebrou o tornozelo. Algumas datas posteriores à recuperação do Madman também não ocorreram, mas não se sabe o motivo – baixa procura por ingressos é uma possibilidade.

“Depois de uns dez shows da turnê, eu estava treinando para ficar em forma. Pulei no palco e quebrei meu tornozelo. E saí ileso de todos os anos em que deveria ter quebrado meu pescoço caindo de escadas ou janelas”, disse Ozzy Osbourne, com bom humor, em uma entrevista.


Em agosto, Ozzy Osbourne se recuperou e voltou a cumprir as demais datas, mas não remarcou as apresentações canceladas. A turnê terminou, mesmo, em novembro de 1992.

O encerramento da “No More Tours” também marcou a segunda vez em que Ronnie James Dio saiu do Black Sabbath. Ozzy Osbourne convidou sua antiga banda para abrir os dois últimos shows da turnê, que aconteceram no Pacific Amphitheatre, em Costa Mesa, Califórnia, Estados Unidos, nos dias 14 e 15 de novembro.

Com exceção de Ronnie James Dio, os demais integrantes do Black Sabbath – o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler e o baterista Vinny Appice – aceitaram. Isso causou um impasse, visto que Dio não se dava bem com Ozzy Osbourne.


“Fui avisado no meio da turnê que abriríamos para Ozzy e eu disse ‘desculpe, mas não, tenho mais orgulho do que isso’. Muitas coisas ruins eram ditas de um lado para o outro e criou esse cenário horrível. Com a banda aceitando o convite, cheirou a reunião para mim. E significava o fim daquele projeto em particular”, explicou Ronnie James Dio, em uma entrevista concedida anos depois.

Ronnie James Dio optou por sair do Black Sabbath um dia antes dos shows em Costa Mesa. Rob Halford, vocalista do Judas Priest, apareceu às pressas e cobriu o posto para as duas apresentações que abririam para Ozzy Osbourne. Em ambas as ocasiões, Ozzy e o baterista Bill Ward também se juntaram a Tony Iommi e Geezer Butler para tocar algumas músicas do Sabbath.


Era, aparentemente, o fim para Ozzy Osbourne. A turnê foi registrada e o material compilado deu origem àquele que seria seu último lançamento: o disco ao vivo “Live & Loud”, que chegou a público em 1993. A versão para “I Don’t Want To Change The World” presente neste trabalho ainda garantiu um Grammy para o Madman, na categoria “Melhor Performance de Metal”.

Mas Ozzy Osbourne desistiu de sua aposentadoria. Ficou parado por dois anos, até optar por seu retorno, sacramentado no álbum “Ozzmosis”, de 1995. Muitos se esquecem, mas Osbourne faz parte do não tão seleto grupo de bandas que anunciaram seu fim, mas acabaram voltando, entre os quais se destacam KISS, Scorpions, Megadeth e Mr. Big.


A descoberta de que não tinha esclerose múltipla, que veio algum tempo depois do fim da “No More Tours”, também ajudou no retorno de Ozzy Osbourne. O Madman estava com 43 anos quando a turnê acabou, mas parecia ainda mais jovem quando voltou, já com 46. Bastaram um diagnóstico correto e as saudades do palco para trazer o Prince of Darkness de volta.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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